Testando o Português

Este texto foi escrito no calor da discussão sobre a reforma ortográfica. Apenas um pequeno manifesto.

Fui ao botequim do seu Manuel aqui ao lado de casa. O mesmo que me vendia bananadas vinte anos atrás. Sim, com certeza ele está bem velhinho e cometeu o amargo desatino de não mais vender doces. No balcão vemos somente pedacinhos de bichos regados em óleo e ovos cozidos cor de rosa. Só não mais inapetentes que a vida daquele lidador que parou de ser dançada ao som das gargalhadas altas que, num pretérito perfeito, já me fizeram sentir medo.

Deixei no balcão, com um silêncio oriental e um olhar carioca (ou foi com um silêncio carioca e um olhar oriental?), um bilhete que dizia assim:

Para mim, a geleia que você fez estava deliciosa. Para, você, de dizer que me causa enjoos. Em tempo, encontrei pelo, menos é verdade, nas linguiças.

Estás a zoare de um velho amigo? Não estou a entendere nada. Encontraste geléia na lingüiça? O que estás a dizere?

Ah, nada não. Só me certificando de que tirando os acentos haverá mais cansaço para aqueles que leem em pé.

Despedi-me com carinho, de uma forma tipicamente suburbana e, em casa, agi como os europeus. Se não pensadores em potência, escritores em ato.

8 comentários em “Testando o Português

  1. Adoro esse texto, inspiradíssimo e gostoso demais.Sua criatividade e sua habilidade literária estavam na ponta dos cascos.Espero que possa voltar a exercitar este seu dom o mais breve possível.Beijos

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  2. O seu texto é ótimo. Típico de uma raciocínio físico sobre uma prosódia e a semântica em constante mutação. Bem, a leitura sempre é melhor quando apreciada deitada. Ai que preguiça como dizia o Macunaíma. Beijos.

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  3. Mto legal seu texto, e possibilidade de brincar com acentos e virgulas que o idioma possibilita.Ah! os seus desenhos nas fotos ao lado arrasamBesitossss e axé!Quel

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