Minha Vida é um Blog Aberto

Dizem que me exponho demais nesse meu mundo virtual. Fato. Mas entendam-me. Meus textos são perguntas feitas para o espelho e eu não consigo silenciá-las tornando-as como o produto daquele que diz ter feito uma música repleta de pausas. Na minha partitura quando elas existem duram somente o tempo de uma semifusa.

Algumas vezes é assustador sair de mim mesma, mas não consigo mais viver no subsolo. Acreditem. Não é raro entristecer-me quando grafo e por isso mesmo forço-me sempre um rabisco. Conseguiremos nós tirar de algum outro lugar que não seja da dor algum aprendizado? Desconheço e não me importo, pois  sei que viver tem que ser perturbador. Há quem se distraia e viva feliz para todo e o sempre sem  conhecer o  verdadeiro deleite de ser feliz num dia e no outro achar que enlouqueceu. Que se há de fazer com a verdade de que o melhor do verão é saber que não estamos no inverno?

Disserto sobre meu mundo porque sou inteiramente estranha a mim mesma e pressionando meus dedos em cima desse teclado surpreendo-me ao ver-me logo ali, andando na rua ou passando por aquela ponte. Torno, assim, nítidas as cores que mal via e, por deus, o daltonismo deve ser uma dádiva assim como a  ignorância porque os textos não podem ser enfeitados e muito menos artisticamente perfeitos. Eles tem que ser eu. Sem batom e sem pudor. Não procurem, portanto, por brilhos nas frases porque sou feita de matéria opaca e sujeita a moléstias. Não esperem tirar ouro dos troncos secos das árvores. Sabemos o que acontece com os que comentem semelhante tolice.

Confesso. Sou incapaz de aceitar essa liberdade das palavras sem pensar no que muitos vão achar e nesse processo eis que o paradoxo se apresenta: buscando-me encontro outras e alguns dos que me leem nem sequer encontram uma de mins. Enquanto conecto-me com outras possibilidades de existir saio por completo do campo visual dessa tela. Serão totalmente em vão essas tentativas de dar nome real a cada coisa transformando fatos em tatuagens que sangram ao nascerem, mas que tem como destino um e pelo menos um olhar de aprovação?

Embora para mim Deus não exista e a recíproca seja verdadeira, sei que aqueles que rezam alcançam, sobretudo, a si mesmos. Coloco, assim, sempre que piso nesse espaço as palmas de minhas mãos juntas como os que oram. Escrever foi a forma que descobri de encontrar-me e, às vezes, sinto falta de mim mesma.

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16 comentários em “Minha Vida é um Blog Aberto

  1. Adoro esse tipo de leitura. A gente se liberta e muitas vezes temos exemplos de nossas próprias vidas, sem compartilha-las. Parabéns! continue liberando sua imaginação, libertando seus desejos. Eu adoro escrever tbm, mas escrevo somente p mim, não tenho essa coragem toda. bjus

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  2. Denise,Vc é a segunda pessoa que conheço que escreve somente para si e não sente necessidade de ser lida. A primeira foi Salinger, autor do livro O Apanhador no Campo de Centeio.Ele odiava compartilhar e não via sentido nisso…vai entender.Liberte-se! É super divertido.Adorei sua visita!Beijos

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  3. "em mimeu vejo o outroe outroe outroenfim dezenastrens passandovagões cheios de gentecentenaso outroque há em mimé vocêvocêe vocêassim comoeu estou em vocêeu estou neleem nóse só quandoestamos em nósestamos em pazmesmo que estejamos a sós"O processo do conhecimento acaba por desembocar em um texto, ou um poema. Coloquei um que prima pela economia e beleza. O seu texto é tão sincero quanto ela, um ou outro trecho demonstra um cuidado maior, mas no geral, você não fica agarrada no portão, com medo de se soltar, e nem deixa de por a mão, pelo cuidado de se sujar com a tinta fresca. Vá em frente. Encontre-se onde outros se perderam. Beijos.

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  4. Elika, como vc descreve essa miscelania do EU/NÓS de forma tão poética!? Parabéns, foi muito melhor que Fernado Pessoa, quando ele diz "tentei retirar a máscara e ela não saiu, já não sabia mais quem eu era…."Helena de Toledo

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  5. Élika, minha prima,Você é a prova de que a maior riqueza que o estudo nos proporciona é a liberdade de ser e de pensar. Quem não sabe disso é infeliz. Esta visão perturbadora de nós mesmos nos conforta, afinal a vida não pode ser tão pequena. ISSO É LIBERDADE.Parabéns.Marcos

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  6. O Salinger lá de cima(não estou falando do Céu, mas da sua réplica) dizia (pela boca do Holden Caulfield) que um bom texto deve causar no LEITOR uma vontade de conhecer-conversar-abraçar o AUTOR.Sim, o que você escreve provoca esse desejo em quem LÊ! Mas arrisco dizer que faz um pouco mais ainda. É como um passe de mágica: eles (seus textos) começam mostrando um caldeirão cheio de todas as fraquezas-vulnerabilidades-bobagens que você experimentou ou inventou (sei lá), e então sua mão mergulha nessa confusão e pesca a beleza que estava lá e a gente não via. Assim, sem explicar nada (ainda bem!). Letras e Alquimia…Obrigado, de novo.Andre Nakamura

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  7. Professora!caramba li esse texto nem imaginava que era seu blog!muito legal!recentemente escrevi um texto parecido!é bom ser pego por essas surpresas!muito bom o texto!beeijos

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  8. Renan,Como não imaginava que era MEU blog???Já não havia te convidado para vir aqui???Anyway… obrigada pelo comentário, volte sempre e fique à vontade para ler os meus outros textos ex-critos.Bjs

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