Apesar de muitos falarem que consideram um amigo como um irmão, nós, possuidores reais desse título de fraternidade, sabemos que no fundo não é a mesma coisa. Irmão é irmão. Não está ligado ao fato de “ter que ser o nosso melhor amigo”. Ainda que tenham personalidades bem diferentes, que não se suportem e que você prefira manter certa distância, dois indivíduos quando educados exatamente pela(s) mesma(s) pessoa(s) estão unidos de uma tal forma que os fazem imprescindíveis na vida e na personalidade do outro. Esse amálgama ainda que seja ódio é o verdadeiro ‘amor fraterno’. Se for mesmo feito de amor e os irmãos tiverem sido criados na mesma ninhada, juntos e solidários ah… aí é capaz de perfumar fotografias!E foi esse perfume que fez cócegas ainda a pouco em meu coração a ponto de me fazer gargalhar e escrever.
Abri um álbum antigo na estante e transferi-me para aquela dimensão que frequentamos sempre acompanhados mas que não nos permite levar nada do que temos no presente. Fui atingida por uma rajada de saudades ao ver a minha infância em preto e branco e dediquei-me a refletir sobre algo…e mais uma vez cá estou eu no topo da montanha olhando o horizonte pensando sobre como a minha vida sem os meus irmãos seria muito menos interessante.
Os cabelos podem ficar brancos, as rugas podem ter ‘feito residências em nossos rostos’, mas se temos pelo menos um irmão, haverá sempre um lugar dentro da gente em que seremos eternamente meninos. Ainda que a relação esteja longe de ser igual a uma planície serena e sim, cheia de altos e baixos esse amor jamais se desloca para uma área de risco – para onde vão sempre os outros tipos de amor. Frases inteiras são desnecessárias, pois o entendimento se dá muitas vezes pela troca de um sorriso que sabe lá – sabemos somente nós – que longínquas lembranças aquela troca de olhares desenterrou. E a despeito dessa tal natureza humana que é tão pérfida e traiçoeira, o amor de irmão nem sequer precisa ser verbalizado e ainda assim permanece evidente. Eles sabem sem sombras, faíscas e nódoas de dúvidas, e ninguém precisa ficar reafirmando nem em emails, nem em redes sociais públicas, nem em telefonemas, nem em blogs!, pois somente as coisas abaláveis precisam dessas evidências.
Certamente, mais pobre, mais amarga, mais só e menos Elika eu seria sem eles, os meus outros takimotos. Como viveria sem todo esse tesouro lapidado pelas horas aromáticas na infância e na adolescência que só nós, os irmãos, os nascidos em tempo hábil da carne de mãe e pai, sabemos onde está enterrado?