Feito efeito borboleta

borboleta

Estava dirigindo. Praça da Bandeira. CD do Fábio Júnior rodando leve e solto. De repente sinto. Uma coisa. Se mexendo. No cabelo. Tenso. Mega tenso. Passei a mão rápido. Grudou na mão. Percevejo enorme. Sacudi a mão desesperadamente. Ele caiu na bolsa que estava no banco do carona. Eu olhava para bolsa e gritava. Era Jesus que estava agora no volante. Jesus encostou rapidamente no posto. Antes de Jesus parar, eu já saí gritando, balançando a cabeça com nojo da minha juba, abri a porta do carona aos berros. Segurei a bolsa pelo fundo e sacudia aquele saco, destinado a guardar e esconder determinados objetos, com meu corpo. Tipo aqueles bonecos de posto, mas em fast motion.

Caem absorventes, tampas de caneta, papeizinhos de visa electron, batom, protetor solar, capa de guarda-chuva, pedaço de borracha, neolsaldina, pilha usada esperando um descarte ecologicamente correto, provas de aluno, brinco sem tarracha, lixa velha, liquid paper novo, papel de bala, balas, moedas?, várias!, marcadores de livro, bula de remédio de cachorro, pente, papel da mega-sena, cuequinha do Yuki, pendrives, uma luva de lã e mais outros objetos… até que ele, o percevejão cheio de asas mega barulhentas sai voando. Gritei alto até não conseguir mais vê-lo. E ele se foi. Pronto. Acabou.

Qual o quê.

– A senhora está bem?

Foi quando dei por mim que  as entranhas de minha bolsa estavam expostas.  Há quanto tempo aqueles cacarecos não viam a luz do dia? Pareciam que estavam felizes ao ar livre. Estavam todos esparramados que nem batatinha pelo chão.  Olhei pro moço e movimentei os olhos para baixo, somente os olhos para não desviar o foco dele do meu rosto para o chão. Diante dos pedaços de minha vida espalhados, o primeiro ímpeto foi pular em cima e cobrir tudo com meu corpo. Segui o impulso. Sentei em cima dos absorventes debaixo de um sol de 42 graus e fui catando as coisas, puxando-as para debaixo das minhas pernas.

– A senhora está bem?

Se eu falasse que estava, ele iria achar que o meu normal é assim. Aquela imagem não podia ficar na memória dele. Eu devia deixar (mais) claro que estava surtada, que não estava bem, que estava sofrendo para ele não fazer mau juízo de minha pessoa. Continuei chocando o absorvente, as pilhas e tudo o mais que consegui esconder. Não olhava para ele com a esperança d´ele voltar ao trabalho e me esquecer.

Ledo engano.

Vi, pelos pés dele que não se moviam, que ele não sairia dali.

Ergui, então, calmamente a nádega direita olhando fixadamente agora para o rosto do moço, meti a mão embaixo, peguei o que consegui e  enfiei na bolsa rapidamente. Ele nem percebeu o que era. Beleza. Repeti esse movimento algumas vezes e depois  fiz o mesmo com o lado esquerdo.  Mega esperta eu. O moço não viu nada.

Levantei-me. Olhei para ele suada, com os cabelos a la Maria Bethania. De pé, ri alto, de boca aberta e com os olhos esbugalhados. Acho que ele entendeu que eu sou mega fofa e que, apenas, vai dizer ele com certeza aos outros que estão acompanhando a cena de longe, ela não estava bem. Eu super fiz o que deveria mesmo ter sido feito.

Recompus-me. Agradeci a atenção e entrei no carro. Aumentei o som.

O que é que há?
O que é que tá
Se passando
Com essa cabeça?

– Percevejo, meu lindo.

– Perdão. O que a senhora disse? – O diabo do frentista ainda estava me olhando.

O que é que há?
O que é que tá
Me faltando pra que
Eu te conheça melhor?

Nada, moço, nada. Respondi aos dois simultaneamente.

Engatei a primeira e, sem mais outra opção, segui em frente.

2 comentários em “Feito efeito borboleta

  1. Hoje isso aconteceu comigo, mas foi uma barata que andava na perna da minha mãe. Só queria saber uma coisa, como essa bicha entrou no meu carro? Aí o q fiz? Parei o carro na ciclovia e comecei a tirar desesperadamente tudo de dentro do carro, tapetes, panos, lixeirinha, bolsas, garrafa d’água e daí operação retirada da barata senão não entraria no carro! Mas infelizmente a danada me driblou, tive q entrar no carro e dirigir até em casa tensa e aí colocar uma lata de veneno para q nenhum resquício dela pudesse ficar lá!

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