Foi sem querer…

Yorkshire-Terrier-11

Hoje sem querer atropelei a Pati, minha yorkshire, quando dava ré na garagem. Ela estava velhinha, surda e com a visão comprometida. Eu com pressa…

Corri com ela para o veterinário, mas ela não resistiu. 

Tivemos uma relação sempre conturbada. Ela não fez absolutamente nada certo em catorze anos. Nunca consegui cochilar em casa porque ela latia para a brisa que entrava pela janela. Latia para a luz apagada. Latia para eu abrir a porta. Latia para eu fechar a porta. Jamais! fez xixi no mesmo lugar em toda a vida. Moro em uma casa enorme, mas ela sempre fazia cocô na porta da casa do vizinho que jamais hesitou em reclamar da falta de educação dela. Eu não sabia mais o que dizer para ela. Pati não aceitou cruzar com yorks lindos e premiados que arrumei para serem meus genros. Acabou dando  para um pinscher, uma evolução pokemoniana de rato, da vizinha da frente. Teve três filhotes horríveis e foi uma péssima mãe. Arrotava alto quando comia ração e sempre se alimentava junto com a gente. Toda refeição, um arroto do cão. Peidava quando dormia e sempre se deitou ao meu lado. Fazia-me sonhar com esgotos. Mordia-me quando eu lhe dava banho e subia na mesa escondida para comer nossa comida.

Enfim, hoje, sem querer, sem querer mesmo, acabei com a vida de uma cachorrinha que era do avesso. Não tenho para quem pedir perdão e talvez por isso estou simplesmente com a sensação de ter não um bolo na garganta, mas uma melancia. Pedi desculpas para ela enquanto corria para o veterinário. Desculpa desculpa desculpa, Pati. Foi sem querer. Foi sem querer… Desculpa desculpa desculpa… Mas sei que ela não me ouvia por ter a audição comprometida há tempos. Entrei em desespero quando vi seu corpo sem aquela alma agitada, excêntrica, animal. E daria não tudo, mas muito do que tenho, para dar a ela de volta o que tirei ao esmagá-la por dentro com o peso do meu carro e de meus pensamentos.

Que meu luto sirva de aprendizado. Cuidarei de tudo o que está a minha volta com muito mais amor. Prometo prometo prometo. Eu não quero nunca mais ferir nem de leve um outro ser. Ainda que seja um cachorro. Ainda que seja parecido com a maluca da Pati…

Diante tanta dor que sinto, só me pergunto como pode alguém fazer mal a outro ser humano. Pareço eu quem fui atropelada. O mal que fazemos, com ou sem querer para alguém, reflete, acho eu me baseando no incômodo de meu corpo agora, diretamente em nós mesmos.

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