Japonês catando lixo. Um exemplo. Não. Pera…

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Foi lindo ver os japoneses catando lixo. Mas catar papel, ainda que seja louvável, é moleza.

Vale uma discussão de algo que não foi fotografado (com uma máquina mega moderna japonesa de última geração). Sabemos que somos uns lesados em termos de parafernália eletrônica em relação a eles. A tecnologia lá está a anos-luz de nós aqui e completamente desenfreada. Há uma doença (que começou lá): o culto aos descartáveis. Nada de conserta, tudo se compra novo. Se geramos muito lixo eletrônico em um país em que temos índio andando em volta do Maracanã, dá para imaginar o quanto eles geram de lixo eletrônico a mais que nós? Quem aqui não trocou de televisão nos últimos cinco anos? E de celular nos últimos dois anos? O pior: hoje trocamos de aparelhos sem nem esperar que eles quebrem! Lá seria diferente??? Seria sim. Muito pior. Pelo fato da tecnologia lá se modernizar muito mais rápido do que a nossa, como seria a mentalidade deles em relação a isso? Exemplar??? Doce ilusão.

Eles estão reciclando bem o lixo deles, isso é fato. Mas além da quantidade de lixo, ainda que se recicle, quero frisar outra coisa: a mentalidade consumista. No mais, reciclagem não é sinônimo de salvação. Querem que acreditemos nisso. Reciclar é bom e melhor do que não reciclar. Mas o ‘ter tanto o que reciclar’ é que são elas.

Por que, por exemplo, fala-se tanto em reciclagem e não em pôr o pé no freio do consumo??? Estranho, não? Fala-se nas escolas sobre o tema, crianças no jardim sabem separar lixo nas Europa e no Japão, eles dão show em reciclagem e quanto a isso não resta dúvida, mas e a reflexão sobre a mudança dos valores culturais que sustentam o estilo de produção e consumo da sociedade moderna? Discutem eles isso lá? Por que não?

Ao invés de construir aparelhos mais e mais modernos por que não pensam em diminuir a obsolescência (planejada) dos que estão sendo construídos? Essa mesma japonesada que catou papel nos estádios está preocupada com essa discussão? Quero ver produzir uma geladeira que dure vinte anos e ficar com uma máquina fotográfica por mais de um ano pendurada no pescoço. Isso a Globo não mostra. Isso ninguém fotografa! Por que? Já te digo: produtos ficarem “velhos” sem que os anos passem é um projeto forte que está dando muito certo para o modo de produção capitalista.

Para esses mesmos japoneses mega educados, não ter um aparelho novo é sinônimo de privação, sacrifício e dor já que a posse de bens materiais caracteriza a felicidade proporcionada pelo consumo. E quem lidera essa doença? Quem sai na frente nessa história? Os mesmos que estamos idolatrando como exemplo porque cataram papel nos estádios. Atitude louvável, reconheço, vale frisar.

A questão do lixo não é uma questão de ordem simplesmente técnica. Reciclar não é sinônimo de salvar o mundo e melhorar o planeta. O buraco é muito mais embaixo. É cultural e político e quiçá filosófico. O que é, de fato, reciclar? Reciclar muito é bom? Melhoramos se reciclamos mais e mais e mais? Evoluímos se lideramos a quantidade de materiais recicláveis? Em que medida uma sociedade que recicla muito é melhor do que outra que quase nada recicla? Em que medida catar papel em estádio é sinal que a sociedade está muito melhor educada? Que tipo de cidadão é esse que não joga papel no chão e descarta celular duas vezes ao ano?

Temos é que tomar muito cuidado para não ficarmos com os olhos mais fechados do que eles. Penso eu…

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