Eu, como qualquer brasileiro, quis participar da festa que foi a Copa do Mundo. Senti imensa vontade de comentar com todos os amigos sobre os jogos, os lances, as jogadas… mas de futebol o que entendia? Nada. O ponto é que isso para mim nunca foi problema, bastaria um pouco de pesquisa e leitura e já estaria apta a dar o meu palpite em tudo como sempre faço. O que não podia era ficar de fora da brincadeira de jeito maneira.
A primeira grande surpresa foi ver que Casagrande estava vivo. Eu jurava que ele já havia passado para o meta Universo. Depois, a dificuldade foi decorar os nomes dos jogadores. Dependendo da seleção dava para me referir aos meninos de alguma forma. A da Inglaterra por exemplo, era composta por Gato, Cheiroso, Príncipe, Passo, Lindo, Nada Demais, Modelo, Vem pra Madureira, CasaComidaeRoupaLavada. Outra coisa que me assustou, a despeito de tanto ter estudado sobre o assunto, foi com a cara do David Luiz ao comemorar um Gol.
(Em tempo: David Luiz Elika Elika David Luiz muito prazer o prazer é meu.)
O que era aquilo? Eu só fico assim quando tomo dez litros de café e vinte de guaraná em pó, acabo de corrigir todas as provas, digito a senha do cartão e depois de segundos leio transação aprovada, quando quero e consigo matar um de susto, acerto uma bolinha de papel no cesto de lixo e quando vai ter pudim de sobremesa. Por um gol? Não sabia que era a mesma emoção.
Mas aí depois veio o inacredítável 7×1. Nesse momento, eu me senti à vontade para comentar. Ninguém nunca tinha visto nada daquilo, havia gente culpando o PT, … enfim, o que eu falasse entraria bem na conversa. Mas para não fazer feio, apelei para a física e falei algo sobre falta de entrelaçamento quântico entre os jogadores que foi tão bem aceita quanto as teorias da conspiração que já estavam circulando. Questionei o spin da bola e a indutância da taça. Agi naturalmente e consegui interagir bem. Mas o meu lado mãe foi mais forte e os meus comentários foram no sentido de demonstrar preocupação com os meninos. Primeiramente, com a coluna do Neymar. Segundamente, eu fiquei me lembrando recorrentemente da entrevista que Júlio Cesar deu depois do jogo com o Chile no qual ele defendeu uns pênaltis dizendo que ficou 4 anos traumatizado e que iria lavar a honra dele nessa Copa e bababa bububu. Tive vontade de indicar alguns bons terapeutas e sugerir uma lobotomia para que o coitadinho ficasse bem. Por fim, sofri mesmo ao ver o David Luiz (que até então não sabia se ele jogava no Rio ou em São Paulo) dizer que queria nos trazer alegria.
Na disputa do terceiro lugar, estava segura. Sabia o nome de quase todos os jogadores. Mas quando a câmera passou pelos rostos dos nossos guerreiros, enquanto o hino era cantado, desesperei-me. Crente que ia abafar e Felipão havia trocado o time inteiro! Fala sério. E nem vamos falar que eu jurava que aquele tal de Robben era o Zidane. Estava com o mó medo dele dar cabeçada nos nossos meninos. Foi brabo viu. Mó vexame. Daí, veio Alemanha e Argentina e, como diria Drummond, foi-se a copa? Não faz mal. Adeus chutes e sistemas. A gente pode, afinal, cuidar de nossos problemas.
Mas antes de voltar às coisas mundanas, eu gostaria de agradecer aos amigos pela paciência e pelo carinho que tiveram comigo, principalmente ao meu marido que ao me ver na área urrava em um misto de alegria e desespero sem saber se eu daria um drible da vaca ou da jumenta. Para alívio de todos, minha breve carreira de comentarista esportiva se encerrava com o final da Copa. Fiquei mega feliz, pois, não sabia nada de futebol e aprendi um bocado vendo todos esses jogos e pesquisando muito na tentativa de não falar muita besteira.
Agora, por exemplo, eu sei que não podemos morder o amigo de jeito maneira porque a punição é braba, que uma lesão na L3 te permite andar dois dias depois com mochila nas costas, que os portugueses, como Cristiano Ronaldo, deram espelhos para os índios e os alemães um cheque de 30 mil reais, que o capitão de um time pode chorar como um bezerro desmamado antes da cobrança dos pênaltis, que temos que conquistar toda a antipatia de Mick Jagger, que é possível mudar de nacionalidade a cada jogo da Argentina, que pela integridade moral de uma nação passou do marco de 5 gols o jogo tem que acabar, que cantamos o Hino a Capela e não à Capela, que entre o hino e o voltano pode ter prorrogação, que o Fred não teve culpa do resultado porque ele não fez nada, que existe vice que não é o Vasco, que se soubéssemos o que aconteceu nas Copas de 1998 para cá ficaríamos enojados, que japonês é limpinho, que o coração de torcedor brasileiro não bate, só apanha, que não sou só eu-professor e sim que todo mundo aqui ganha menos que jogador de futebol, que qualquer um podia ganhar o que o Fred ganha, que o Casagrande não morreu quem morreu foi o Sócrates, que não é padrão FIFA e sim ladrão FIFA, que quando um craque se machuca ninguém mais joga, que existe vários níveis de autismo e o que Messi tem é mimimi, que síndrome de Asperger passa na hora do gol mas ataca forte quando perde a Copa, que se o Messi foi o melhor jogador dessa Copa não fizeram justiça com o Fred, que a cobertura da Globo foi tão boa que eu nunca mais quero ouvir falar no assunto, …
Enfim, acabou. Foi tudo hiper divertido tirando o episódio da ameaça a nossa democracia que seguirei acompanhando giga atenta. De novo, como diria Drummond, o povo, noutro torneio, havendo tenacidade, ganhará, rijo, e de cheio, a Copa da Liberdade.
Beijo proceis