Ontologia do Meu Ser

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Gosto de ver as rãs sendo equilibradas por passarinhos
e os urubus pelas formigas vestidas de verão.

Almejo descobrir que gosto tem as joaninhas para as margaridas
(Sabor de brinco?).

Queria poder engolir os fiapos de Sol do inverno
Adaptar-me a dimensão da luz que brota das tartarugas e dos caramujos
Ouvir o barranco lodoso
Comungar Suassuna aos domingos
E no equinócio, as estrelas corajosas
Assistir a maçã mastigando Adão lentamente.

Gostaria de ter um lugar
Para ser um grilo rosa
E me entupir com o som das mudas.
Acredito que pelas frestas consigamos ver
Como as palavras tiram retratos dos pintores
E como os problemas que dormem nos livros de física possam ser resolvidos
com uma dança ao som dos pólens
E os que despertam nos livros de matemática
com cambalhotas dadas pelos girassóis.

Queria entender por que determinadas noites usam muletas
Se depois correm tanto  pelo Universo

Sou como um sabiá em um terreiro.

Sinto-me plena quando não estou.

O meu lugar é o outono carioca.

E o meu melhor dia é ontem – o presente
embrulhado em papel de eternidade.

 

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A pintura que ilustra a poesia é obra do artista Sérgio Ricciuto

2 comentários em “Ontologia do Meu Ser

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