Carta aberta a Reinaldo Azevedo

Prezado Reinaldo,

Adorei sua última coluna na Veja defendendo o candidato Levy Fidelix que no último debate abusou dos ouvidos de todos os bons brasileiros. Adorei! Tanto que estou compartilhando os seus argumentos hoje aqui no meu perfil.

Bom, todos sabem que Levy Fidelix andou proferindo frases pelas quais está sendo acusado de estimular a homofobia no último debate dos presidenciáveis. A despeito do Brasil ter sido retirado pela primeira vez do mapa da fome, foi a postura dele que deu tanto ibope na rede. Como você próprio, Reinaldo, destacou, para quem não viu ou leu, eis algumas das antológicas proposições do candidato: “dois iguais não fazem filho”;. “aparelho excretor não reproduz”; “como é que pode um pai de família, um avô, ficar aqui, escorado (?), com medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto.”; “que façam um bom proveito se quiserem fazer de continuar como estão, mas eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na lei, que fique como está, mas estimular, jamais!, a união homoafetiva”.;“esses que têm esses problemas, que sejam atendidos no plano afetivo, psicológico, mas bem longe da gente, porque aqui não dá”.

E a seguir, meu caro Reinaldo, você diz: “Trata-se de um apanhado de bobagens? Não resta a menor dúvida. Mas há crime? Ora, tenham a santa paciência!”. E continua, para meu total deleite: “Observem que ele nem mesmo diz que pretende mudar a legislação se eleito. Apenas assegura que, se presidente fosse, não estimularia a união homoafetiva. Cadê o crime? Fidelix também entende que sexo tem como fim a procriação. Eu acho que ele está errado, mas me parece que tem direito a uma opinião, não é mesmo?”.

O meu deleite em ler tudo isso, meu caro, é que você representa essa revista da qual eu tenho nojo. Tenho escárnio pelo trabalho que vocês fazem conjuntamente que dizem ser jornalismo. Ver o meu inimigo me dando munição assim fácil é bom demais. Bom demais! É ótimo até para que todos que compartilham seus textos por aqui na rede saibam quem, de fato, você é.

Reinaldo, vou te ajudar: você como “jornalista” deveria saber que o direito ao livre exercício de pensamento e o direito à liberdade de expressão são garantidos pela Constituição. Isso, porém, não legitimiza ninguém a incitar à violência porque, meu lindo, isso pode trazer consequências mais graves à vida de outras pessoas, sabia? E há também o direito de qualquer cidadão de preservar a sua integridade física, psicológica e de ser livre para fazer a opção sexual que melhor lhe agradar.

Daí você nos pergunta: “A fala de Fidelix é imbecil, sim, mas é criminosa?”. Sim, Reinaldinho do meu coração. Sabe por que? Porque alimentam a intolerância, o ódio, a discriminação. No mais, você não destacou uma fala importante de Fidelix que é a prova do crime, sim senhor, que ele cometeu, mas eu o faço: “Vamos ter coragem! Nós somos maioria! Vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los!”. Voltamos à época da Inquisição? Entenda, Reinaldo: o exercício da liberdade de expressão pressupõe responsabilidade. Não há crime em declarar o que pensa, mas a forma como se faz isso faz total diferença. Daí, você como “jornalista” vir publicamente e defender o direito de se expressar dessa forma tal como Fidelix fez ao invés de ajudar nosso país a buscar uma convivência mais harmoniosa, mostra bem qual é o seu conceito de civilidade. Eu já sabia, mas agora acho que, depois dessa, quem compartilhar seus textos está ajudando a divulgar essa sua opinião, a dizer, que é lícito conclamar as pessoas para desrespeitar ainda mais aqueles vistos como diferentes.

Mas o que foi mais legal, Reinaldo, o que eu adorei mesmo foi você ter se perguntado “É a única tolice que afirmou nessa campanha? Não!”, daí criticou Luciana Genro, mas claro, disse que a maior imbecilidade foi dita pela atual presidente que “pregou a negociação com terroristas”. E termina quase me fazendo soltar fogos dentro de casa: “Até que alguém me prove o contrário com a Constituição nas mãos, um brasileiro é livre para fazer digressões sobre o aparelho excretor ou para dizer que, se eleito, não promoverá o casamento gay. Já o presidente da República Federativa do Brasil NÃO É livre para pregar a negociação com terroristas”. O seu argumento, caro Reinaldo, foi porque ela disse que o conflito entre Israel e Palestina “deve ser solucionado e não precariamente administrado, como vem sendo”. “Negociações efetivas entre as partes têm de conduzir à solução de dois Estados – Palestina e Israel – vivendo lado a lado e em segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”. Mas, em momento algum, você foi capaz de dizer que no discurso da ONU, pelo qual foi aplaudida de pé, ela disse: “Nós repudiamos sempre o morticínio e a agressão dos dois lados. E, além disso, não acreditamos que seja eficaz. O Brasil é contra todas as agressões. E inclusive acha que o Conselho de Segurança da ONU tem que ter maior representatividade, para impedir esta paralisia do Conselho diante do aumento dos conflitos em todas as regiões do mundo”.

Para finalizar, a cereja do bolo foi me dizer que Dilma quer conversar, negociar, trocar figurinhas com aqueles “que cortam cabeças e praticam fuzilamentos e estupros em massa”. Tive que vir a público, eu também, agradecer-lhe por essa iguaria e compartilhar com todos meus amigos o seu discurso.

Com um inimigo intelectual como você, confesso, perdeu até um pouco da graça agora. Mas… continue, Reinaldo. Estou adorando!

Atenciosamente, muuuito atenciosamente sempre

Elika Takimoto

Sobre Sexo, Virgindade, Sacanagem e o Amor com Tudo Isso.

sexo

Lembro-me de quando era criança e qualquer coisa que perguntasse para a minha  mãe sobre sexo ela desconversava ou respondia frases sem nexo cujo efeito era me fazer pensar mais ainda fixamente sobre o assunto. Recordo-me de ter tido uma curiosidade simples. Havia lido a palavra hímen na Revista Contigo que circulava pelos salões de cabeleireiro. Corri e perguntei à mamãe que diabos era aquilo. Minha filha, veja bem, olha, prestenção, bem, hímen?, ok, enrolava-me mamãe para finalmente responder: é uma pelinha que fica na perna e que quando a moça casa ela some. Valha-me Deus… aquilo havia sido muito pior do que entender a Santíssima Trindade! Mas, mãe, como a pelinha vai saber que eu casei? Ah, Elika!, vai brincar! Você não tem maturidade para entender isso! Conclusão: fui aprender o significado do vocábulo praticamente quando ele estava com os dias contados dentro de mim.

Exageros à parte, quando soube do que se tratava, fui questionar mamãe do porquê uma coisa que bloqueia a entrada da vagina que tem a função de proteger as meninas durante a infância dos riscos das infecções genitais estava conectado com a minha dignidade. Obtive como resposta que ele servia também e, principalmente, para que os maridos soubessem, de fato, se a sua esposa era virgem ou não, já que a tal pelinha se rompia na primeira relação sexual. E eu que fizesse o favor de proteger a minha pelinha a sete chaves sob o risco de, além de queimar no fogo do inferno por toda a eternidade, morrer solteira! Mamãe bateu na madeira e fez o sinal da cruz depois desse antológico conselho. Ah! E tem mais, minha filha, se o moço insistir, não ceda! porque todos fazem isso para nos testar! Não jogue no lixo a sua reputação e seu futuro! Eita nóis…

Mamãe nasceu em Itajubá, uma cidadezinha que fica no sul de Minas e chegou a ser freira. Tudo bem que ela foi expulsa do convento por ter mandado a madre superior para o Inferno, mas os valores de mamãe não foram exorcizados com esse fato. Como tantas de sua época, casou-se virgem. Fui educada para fazer o mesmo e a pressão para isso era terrível e vinha de tudo quanto é lado. De vovó, das tias, das primas mineiras e de algumas amigas tão aterrorizadas como eu. Ah! E do padre. Numa confissão que havia feito, que me rendeu quase uma hora rezando sabe deus quantos pais-nossos e mais outras tantas ave-marias, o reverendo me explicou calmamente a parada toda que seguia mais ou menos essa sequência: Primeiramente tem que se entender o significado da aliança que é a decisão de amar outra pessoa até morrer. Isso posto, é importante que se saiba que Deus fez uma aliança conosco e que, na Bíblia, para oficializar qualquer aliança dessa natureza há um derramamento de sangue. Geralmente, um cordeiro. Se a moça quiser, de fato, ter uma aliança no dedo e ser alguém para a sociedade, há de provar que é merecedora disso para seu parceiro. A verdadeira aliança ocorreria quando o marido visse o sangue no lençol na noite de núpcias. Virgem santa…

Esse papo havia me aterrorizado por completo. Daí que fui entender o branco da noiva e, uma vez isso tudo devidamente esclarecido, desejei jamais adentrar uma igreja para me casar. Cremdeuspai… A ideia d´eu entrando e todos me olhando sabendo que eu ia dar pela primeira vez naquela noite me enchia de constrangimento. Como assim, gente? Isso sim era, literalmente, uma pouca vergonha! Como pode essa exposição de uma intimidade que só diz respeito à moça e ao seu amor? Jamais! Isso nunca aconteceu e, de modo algum, ainda acontecerá comigo! Sei que atualmente perder o celular é motivo de muito mais drama e estardalhaço do que perder a virgindade, coisa que as meninas têm tirado de letra e as vezes até com a mão. O trauma, portanto, dessa educação esquizofrênica incapacita-me de colocar um vestido branco, ainda que seja só na imaginação, de uma forma leve e alegre. E sim, ainda sou virgem como verão os que me lerem até o final.

Como não fiz terapia, não é raro me ver também assustada pensando nas coitadas que foram obrigadas a se casar virgens e passar por toda aquela presepada, humilhação, vexame e exibição. Penso nas tímidas, nesse sentido, como eu. E quando considero as noites de núpcias de antigamente juntamente com o repúdio que a sociedade dirigia às desquitadas, Jesus… meupadinciço… aí me compadeço com tudo de mim das mulheres que foram tratadas com pouco carinho sabendo que assim seria para todo o sempre; das enrustidas, por medo de serem mal faladas; das frígidas, das que não viram beleza em um pênis ereto, das que morreram sem atingir um orgasmo, das que quiseram experimentar outros homens, das que deram e nada receberam. E não foram poucas, sabiam? Para se ter uma ideia de como funciona a nossa sociedade, somente no início do século 21 aprovaram por unanimidade a exclusão do termo “mulher honesta” do Código Penal. Antes disso, a definição de um crime sexual era: “Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude”. É claro que o sentido de “honesta” é uma mulher virgem, casada, pudica, casta. Se desonesta, o cara era absolvido sob aplausos. Minhanossinhora…

Nunca falei sobre sexo aqui por ser um assunto tenso para mim (dado o pouco que aqui foi exposto que não corresponde a 10% da história). No entanto, hoje deixo o pudor de lado para explicitar o meu conceito de sacanagem e virgindade. Comecemos pelo último que, na minha opinião, não está conectado ao sexo em si, ao rompimento da pelinha na perna, como diria a minha mãe. Aliás, este é um conceito um tanto elástico quanto alguns hímens. Pelo modo que o entendo, todos nós, homens e mulheres, de uma forma ou de outra, morreremos virgens. Por mais que já tenhamos amado, gozado, seduzido, capturado, experimentado, por mais que sejamos rodados, não há experiência amorosa que se repita, pois as nossas paixões são variadas e nos transformamos demais a cada dia a ponto de sempre sermos novatos mesmo com vinte anos de casamento.  Sobre sacanagem queria registrar que se te contaram que tu és uma metade da laranja e que o amor é quando encontramos a outra metade, te sacanearam. Nascemos inteiros e não vamos colocar nas costas do outro a responsabilidade de sermos felizes porque isso sim é tipo ménage-à-vingt-trois! O amor, penso eu, se dá quando alguém pega a gente, laranjas inteiras rolando pelo mundo, e nos dá a sensação de ter nos colocado de volta à árvore. Sentimo-nos internamente florescer, amadurecer, vivos e, como dizia Aristóteles, no nosso lugar natural.

Isso tudo colocado, finalizo. Sexo sem amor é bom, interessante, quiçá intenso e inesquecível, mas não transcende. Com amor, o sexo se torna mega. Metafísico. E, pelo orgasmo – não nosso e sim de quem nos acolhe – recebemos a explicação de nossa existência e percebemos, até de olhos fechados, o verdadeiro movimento das estrelas.

No ar

fora do ar

Quem é jovem como eu viveu tempos nos quais internet e celular não existiam. Passamos a infância e a adolescência sem nos preocuparmos com tantos eletrônicos. Íamos sozinhos, desde os sete anos, comprar pão na padaria e leite de saco para o café da manhã. Não havia condução com tio ou tia e os pais não morriam se fôssemos ou voltássemos da escola de ônibus com os amigos. Quando bebês, andávamos no banco da frente no colo de nossas mães sem sequer usar o cinto de segurança! Não tínhamos Play Station, X Box, Wii, Wifi, nada de trocentos canais de televisão, NetFlix, celulares, computadores, Whatsapp… A TV pegava no máximo globo, sbt, manchete e bandeirantes e tínhamos que nos levantar para mudar de canal! Vimos a Xuxa namorar o Pelé que tomava Vitasay. Mas na nossa infância quem nos entretinha era Daniel Azulay que jamais conseguiu nos ensinar a desenhar nem um círculo e Plim Plim pra vocês. A noite, a televisão saía do ar. Poltergeist que o diga. Para ouvir a música favorita, tínhamos que ficar horas sintonizados na mesma rádio. Nossos pais fumavam e muitos de nós também. Dentro de hospitais e nas salas de aula.

Tudo isso não quer dizer que fomos mais felizes ou que nos comunicávamos mais, ou que éramos menos frescos e saudáveis, mas que somos, no mínimo, uma geração única no que diz respeito a ter visto o Michael Jackson surgir, dominar o mundo, mudar de cor e morrer; o John Travolta dançar magro, sumir do mapa e depois voltar gordo e arrasando em Pulp Fiction; e milhões e milhões de vezes o mesmo desenho do Pica-Pau. E lá vamos nós. E lá vamos nós. E lá vamos nós…

Não sou chegada à nostalgia e consigo perceber como os adolescentes de hoje vivem bem essa etapa. Mas não pude deixar de ter meus olhos brilhando mais do que o normal quando abri agora um baú onde guardo um bando de quinquilharias e vi um bilhetinho, entregue em plena aula de química, escrito “Olhe para o teto! O que é aquilo?” que era passado de mão em mão nas aulas chatas. O objetivo era fazer o cara olhar para o alto e os outros simplesmente riam por ter conseguido enganar mais um colega. Nunca havia nada no teto. Acreditem: isso era muito divertido. Lembrei-me que fui pega desprevenida e fitei o teto no reflexo quando, já com o pescoço dobrado, percebi que havia caído numa armadilha. Para não dar o braço a torcer, fiz cara de espanto mas muito espanto mesmo mirando fixamente para um ponto invisível no reboco branco e os que pensaram que haviam me pegado na brincadeira se lambuzaram do próprio veneno. Enganei a todos que procuraram surpreendidos que diabos eu havia, de fato, encontrado. Até mesmo o professor parou a aula para conferir o que todos estávamos contemplando. Enfim, sempre fui foda.

Quando comparo as gerações, não faço para dizer que “no meu tempo que era bom”. E sim para ficar viajando e rindo sozinha completamente aérea, como agora, pensando no que faríamos se naquela época tivéssemos tantas parafernálias mega interessantes como as que existem hoje.

Eu, para começar, numa nice numa boa, ia fazer um vídeo no banheiro da escola me enroscando com a Mulher Loira. E só quem é jovem como eu sabe que não se trataria de um filme pornográfico.

Ia ser chocante.

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Nostalgia

Se Acaso Me Quiseres, Não Sou Dessas Mulheres.

Chico

Reza a lenda que nenhuma mulher é imune ao Chico. Conheço muitas que admitem e lidam super bem com isso. Se casadas, os maridos se rendem já que, se um dia ficarem diante do Chico, até eles terão o coração acelerado. É possível que mesmo as lésbicas, ao verem Chico, descubram-se não tão homossexuais assim. As que afirmam que ele não faz o tipo, que ele não canta bem, que ele isso, que ele aquilo assim se comportam somente quando longe daqueles olhos azuis. Na frente deles, abrem logo aquele sorrisinho abobalhado e ovulam. Dizem.

O discurso é sempre o mesmo. Chico Buarque conseguiu realizar uma das tarefas mais difíceis da humanidade: decifrar a mulher em suas múltiplas faces. As dóceis, de vida fácil, trabalhadoras, filhas, mulheres,  amantes, musas, silenciosas, do mar, do céu, de outro lugar… Não importa como ela seja. Chico a compreende. Parece até que já foi mulher em outra encarnação para nos decifrar com tanta maestria. Dizem.

Se ele, de fato, desvendou a alma feminina, a minha é, então, de um outro gênero.

Não me encontrei nem de longe, por exemplo, em Com açúcar, com afeto. A mulher faz o doce predileto para ele ficar em casa. Ele não fica. Sai lindo e cheiroso dizendo que vai trabalhar para sustentá-la e qual o quê! Bebe, fuma, assobia para outras que passam na rua e volta para casa maltrapilho e maltratado e a Amélia corre para esquentar o prato do fanfarrão. Qual o quê, minha gente. Qual o quê!

E Maria, a louca dos Anos Dourados? Uma  bipolar que deixa confusões no gravador, acha engraçado se ele tem um novo amor, se o ama?, ela não se lembra, não sabe se ainda o esqueceu de uma vez, com os olhos insanos se lembra dos anos passados e dá-lhe mais loucuras no gravador sem esperança de beijá-lo nunca mais. Nunca mais!!! Fala sério, Maria, se interna!

Também estou longe de ser a mulher que só diz sim de Folhetim. Primeiro que sou mulher de família mas, se puta, não seria por uma prenda qualquer coisa assim para eu ter uma noitada boa, um cinema ou um botequim. Muito menos sou aquela sem a menor auto-estima que fica chorando Atrás da Porta baixinho depois de se arrastar, de agarrar nos cabelos dele, no pijama, nos pés do diabo que se meteu com essa submissa, dependente, deplorável. A condição (necessária mas não suficiente) para ser amado por mim é me amar quase que acima de tudo, portanto, serei incapaz de adorar qualquer homem pelo avesso dadas as minhas condições.

Também não sou Morena dos Olhos d´água que fica esperando o homem que prometeu voltar já já, ouvindo um outro alucinado falando que tem histórias, sorrisos, que sonha com o amor dela e fica insistindo agora, morena, vem! Agora, morena, vem! Ah, vê se me erra! Outra que não tem o que fazer, além de ficar na janela, é Januária. Qualquer um que madruga pode conferir que ela está lá. Estática. Distraída. Absorta. À toa. Sem nem um livro. Que isso…

Meu Cotidiano está a anos-luz de ficar dizendo essas coisas que diz toda mulher para seu marido. Não beijo Nelsin todo dia com a boca de paixão, não vivo com medo de ele se afastar e não lhe juro eterno amor toda noite. Não que esses sentimentos não me ocorram, mas eles não são o meu dia a dia e muito menos, assim, exteriorizados por uma boca de pavor.

E vamos combinar, não sei fazer uma Feijoada Completa e não vou gostar nem um pouco se trouxer uns amigos para conversar sem aviso prévio. Vou me afobar sim senhor! E que história é essa de não tem que pôr a mesa? Ponha os pratos no chão e o chão tá posto? Era só o que me faltava. Mulher, você vai fritar. Vou fritar nada! Joga o paio, carne seca,toucinho no caldeirão. Vou jogar nada! Mulher, depois de salgar, faça um bom refogado que é pra engrossar. Vou salgar nada, vou engrossar nada, vou botar mais água em nada!!! E cadê a palavrinha mágica, Francisco Augusto?

As mulheres de Chico não trabalham, não pensam, não leem, não buscam a independência. Muito pelo contrário. Ou são passivas ao extremo ou histéricas. Vide Mulheres de Atenas. Se Chico Buarque, de fato, entendeu sobre nós mulheres favor, querida, não reclamar se apanhar. Vivemos esperando, cozinhando, somos assim tão submissas e fogosas com nossos maridos incondicionalmente e contemplamos tanto assim a paisagem na janela???

Dirão os literatas que essa é uma forma de se chamar a atenção para aspectos da opressão sofrida por tantas mulheres e dissertarão sobre a importância dessas coitadas serem representadas. Pode ser. Mas daí a dizer que ele apoderou-se da essência de nossa alma é um grande equívoco e quiçá perigoso, pois ele, penso eu, ajudou a reforçar um esteriótipo enraizado em nossa sociedade que está longe de ser um reflexo do meu conceito de feminilidade. No mais, que diabo de  tática é essa de retratar as relações abusivas e pintar a mulher com esse forte tom de resignação para nos ajudar? Em que medida essas belas canções apaziguam um diálogo entre os sexos?

Meu caro amigo me perdoe, por favor, mas Chico nem chegou perto de me entender e cantar sobre a minh´alma. Se acaso me quiseres, não sou dessas mulheres.

Tenho dito.

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Eu não quero ser a sua namorada, Vinícius.

Pitagorando a Alma Feminina

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A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus desafetos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus amuletos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus segredos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus projetos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus trajetos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus vetos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus aspectos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus objetos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus excessos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados dos paus eretos.
A mulher confusa é a soma dos quadrados de seus afetos.

Expectativa. Realidade. E Mais Expectativas.

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Quando eu era criança, viajava sempre com papai, mamãe e meus dois irmãos para Itajubá, sul de Minas. A família da mamãe toda é de lá e as curvas da serra da Mantiqueira eram percorridas quase todo final de semana pelo nosso veloz takimóvel. Férias e feriados eram sempre em chácaras, roças, casas de primos e tios. O que não nos falta é história para contar.

Lembro-me de uma vez que lá na chacrinha do vovô, no final de uma tarde de um Domingo de inverno, eu peguei a bicicleta e meus nove anos para andarmos pela estrada de terra. Do alto do morro, eu vi um montão de patos branquinhos todos sentadins bem no meio da estrada pegando Sol. Na mesma hora vislumbrei uma cena de filme: euzinha passando pelo meio daquelas de aves aquáticas palmípedes lamelirrostras e elas voando para os lados abrindo caminho para eu passar com a minha super bike. Ia ser a coisa mar linda… Ande e o caminho se abrirá!, disse o padre na missa que havia assistido pela manhã. Como se tivesse ouvindo a voz de Jesus e buscando a paz, a felicidade, a liberdade e um bacião de pipoca doce acelerei na descida íngreme. Pedalei o mais rápido que minhas pernas conseguiram numa frequência que mal dava para enxergar o movimento dos meus pés, pois eles eram um círculo contínuo tamanha era a velocidade.

Estava chegando perto. Nada dos patos se mexerem.

Mais perto.

Não moviam nem uma pena.

Mais perto. Eles nem aí.

Até que  todos se levantam juntos de uma só vez. Mas não correram para os lados como a minha ingenuidade havia suposto. Tudo que imaginei tinha ido literalmente por morro abaixo. Os patos ao invés de voarem para não serem, no mínimo, atropelados, esticaram o pescoço, escancararam  o bico e me mostraram os dentes berrando ensurdecedoramente todos ao mesmo tempo. Começaram deste jeito e com toda essa pose a correr na minha direção.

Foi aí que fiquei sabendo a diferença entre patos e gansos.

Eram gansos aqueles animais e gansos não são de Deus!

Diante daqueles bichos alvoroçados barulhentos com bocas de hipopótamo vindo me comerem vivinha da Silva Takimoto com bicicleta e tudo, uma outra cena de filme me ocorreu. Havia duas opções: ou eu ser devorada por aquela subfamília dos anatídeos ou eu passar voando por cima deles como aquela inesquecível passagem do ET. Deus!, ET!, alguém me faça voar!, mas que Diabo de padre esse também que dá conselho errado pras crianças na missa das dez!, pensava eu com o coração a duzentas mil batidas por milésimo de segundo. Quando vi que não ia voejar de jeinenhum, ativei força máxima nos dois freios e ainda usei os dois pés que chegaram a esquentar tamanho era o atrito e a desaceleração. Virei o guidão a 180 graus. Manobra ultra radical. Isso é o que eu chamo de movimento retardado. Fui derrapando de lado e deitada até relar (lá em Minas a gente fala assim) naquele bando de belzebus vestidos de penas. Meia volta volver! Nunca mais subi um morro tão rápido em toda a minha vida.

Tirei dessa desventura uma grande lição. A dizer: a diferença entre  expectativa e realidade. Mais ainda, que uma boa forma de você se decepcionar é criando expectativas; que os gansos, quiçá as pessoas, não estão neste mundo para satisfazer os nossos sonhos, assim como não estamos aqui para corresponder a fantasia de nenhum animal.

Mas acredito que o mais importante foi que eu não me traumatizei e que tenho uma sorte danada de esquecer de algumas coisas com a mesma facilidade que as aprendo. A minha natureza não me permite assimilar nada para sempre. Não é raro pelas manhãs eu exigir para o meu dia a expectativa de uma surpresa e me pegar mega entusiasmada com os patos, com os gansos, com os burros, com toda a fauna que vive em nós. Na vida, a sensatez tem lá a sua praticidade. Admito que sim. Mas a alucinação, o delírio, a loucura, o desatino me invadem pedindo licença e eu, desmemoriada que só, dou permissão. Venham!, podem entrar!, tomem um café e um pouco de juízo.

Hoje, por exemplo, estou aqui, em plena paz, vivendo o meu primeiro congresso internacional, tirando o final de tarde para passear sozinha no parque El Rosedal em Buenos Aires repleto dessas aves e permitindo-me, sem medo algum, uma boa aproximação com essa espécie a despeito do antológico ataque nos arredores da chácara do vovô. Total confiança de que eles não vão me atacar, me ferir e sim fazer isso que estão fazendo: enfeitando mais ainda esse lago dando a ele um toque de paz, de serenidade, de sossego.

No mais, exorcizei aqueles gansos sozinha. E fiz isso com uma certa desenvoltura e facilidade quando consegui enxergar, sobretudo, quem havia colocado o demônio dentro deles.

ganso
Em 20/08/2014

 

 

Direito de Ouvir

direitoDaí que Direito de Ouvir pegou esses limões que a vida me deu e fez um deliciosa limonada. Eis euzinha na foto, por causa desse texto postado no feicebuque  em 22 de maio de 2014, como garota-propaganda da empresa. 🙂

Tantas vezes entramos nas redes sociais para reclamar de algum serviço, mas quando há algo que tenha dado muito certo, penso que também devemos compartilhar.

Há dez anos eu tenho indicação para usar próteses auditivas. Minha avó morreu surda, meu pai perdeu já um tanto da audição e eu infelizmente comecei muito cedo essa perda. O problema é genético, ladeira abaixo mesmo. Já chorei, já me desesperei e, de fato, isso de nada adiantou. Aliás, nada adianta. Só reencarnação, células tronco, quem sabe…

Procurei alguns lugares para fazer as próteses já com a audiometria em mãos. Lá pelos idos de 2003 parei em um local no centro da cidade especializados em próteses auditivas. Na época, o par de aparelhos para os ouvidos me custariam os olhos da cara. Um sentido pelo outro olha que ponto cheguei. Dezoito mil reais. Nove para cada zoreia. Procurei outras lojas. Muitas pela zona sul. O problema é que em todos os lugares em que fui me viam somente como um cifrão. Como se não me bastasse ter que lidar com a ideia de ser deficiente física, de encarar essa deficiência de frente, de ter que pagar muito para ter uma qualidade de vida melhor, tinha que lidar com o fato de não ser gente e sim um cartão de crédito. Faziam um terrorismo psicológico dizendo que se demorasse a decidir, mais cedo ficaria surda… Desisti de tudo, era demais para a minha cabecinha. Era deficiência demais para lidar…

Acontece que no final do ano passado, eu teria a Minha Defesa. E me apavorava o fato d´eu perder algo, algum comentário, d’ eu ser prejudicada não pela falta de conhecimento e sim devido à minha audição ruim. Cheguei à conclusão que teria que encarar o mercado negro e as pessoas com corações cabeludos. Comecei fazendo uma pesquisa pela internet e agendei em três lugares diferentes. A primeira foi feita pelo site Direito de Ouvir. O próprio site já é diferenciado dos demais. Agendada com facilidade uma consulta em Madureira (tem em vários pontos do Rio) lá fui eu com minha mãe e meus medos. Cancelei todos os outros agendamentos na primeira consulta.

A fonoaudióloga (Sheila) que me atendeu ficou comigo umas duas horas. Eu simplesmente não acreditava no que ouvia (estava ouvindo, ainda não estou surda). Eu poderia testar todos os aparelhos que quisesse, poderia ficar com cada par por sete dias e se no final não quisesse comprar nenhum? tudo bem. Seria feito o que eu decidisse. As próteses são, de fato, caras. As mais baratas, aquelas em que parece uma banana pendurada na orelha, custam em torno de mil reais.

Quando coloquei as primeiras próteses de seis mil cada uma (demoraram umas duas semanas desde a primeira consulta para elas virem de SP) foi como cair do alto de um barranco. Não é como colocar óculos. Passamos a ouvir tudo microfonado, nenhum som é natural, tudo amplificado da mesma forma, enfim, uma desgraça. E o pior! Era uma das melhores! Fui para a rua, conforme Sheila me orientou para ver como me sentia, e voltei em menos de dez minutos em prantos. Desolada. Gastaria uma bufunfa e ouviria a todos como se estivessem saindo de dentro de um rádio! Que droga que droga que droga…

Sheila me acalmou, me disse que era uma questão de adaptação e que eu não tinha que decidir nada naquela hora, que eram as primeiras próteses, que eu poderia testar todas que quisesse, que a vida era bela e que tudo se ajeitaria da melhor forma para mim. Acabei testando mais duas até que me decidi pelas que tenho hoje que são as internas. As externas não deram certo porque também sou míope e uso óculos. Era pouca orelha para tanto defeito…

Não foram baratas, mas o pagamento foi muito facilitado. A única consulta que paguei com a fono foi a primeira, cinquenta reais. O resto fazia parte do jogo quer eu ficasse ou não com alguma prótese. Enfim, fui tratada desde o primeiro contato como um ser humano. Como gente. E não como uma carteira. Presenciei vários outros pacientes sendo atendidos com a mesma atenção, com o mesmo cuidado e dedicação.

Enfim, agora sou enquadrada pela lei brasileira como deficiente física. Não me envergonho por isso. Sei que as próteses podem frear a minha perda, mas ela vai aumentar sempre. Sei que mesmo com elas, meu ouvido nunca será como antes. Mas não tenho do que lamentar. Hoje, na última revisão, eu e Sheila lembramos do primeiro dia em que eu voltei da rua e mal conseguia falar de tanto que chorava. Refletimos o quanto os nossos pensamentos podem dificultar muita coisa e a importância do respeito, de um carinho, de uma amizade no processo de adaptação a uma nova vida.

Despedimo-nos com um forte abraço. A postagem de hoje é para aqueles que têm o mesmo problema (auditivo) que o meu (e sei que não são poucos) e estão sofrendo por aí nesse mundo mundo vasto mundo comercial sem necessidade. Há esperança. Há muito amor ao próximo ainda nesse planeta!

Em tempo, a tese foi defendida com louvor e entendi cada vírgula colocada pela banca com os meus ouvidos supersônicos. Não fico mais insegura em congressos e em reuniões.

E para aqueles que lidam diretamente comigo, saibam que só uso minhas próteses em ambientes fechados onde geralmente há pessoas falando baixo. Em sala de aula, as vezes. Ainda estou me adaptando ao barulho saudável amplificado (já naturalmente) que os alunos fazem. Se a minha deficiência estiver, de alguma forma, dificultando a nossa conversa, sinalize. Elas sempre estão na minha bolsa, mas ainda não consigo ficar direto com elas, ok?

É isso. Sigamos em frente.

Doce forma de Educar

Antigamente havia nas festas infantis um grande momento. Não era o parabéns.  Era a hora que o balãozão ia ser estourado. Durante a festa, toda criança olhava com rabo de olho a pelotona de borracha pendurada. Lembro-me que sempre chegava perto e tentava com o meu olhar raio-X detectar quais eram os doces deliciosos que a mãe do aniversariante havia colocado lá dentro. Hoje, cada criança já sai da festa com um potinho cheio de doces e quiçá com brinquedos dados como lembranças. Tsc, tsc… Não estamos preparando essas crianças para a realidade que elas, em muito breve, terão que enfrentar. Na época do balãozão, cada um saía com o que conseguia pegar. 

Ficar embaixo daquele bexigão quando o tio vinha com o isqueiro e fazia o fogo encostar naquela bola de goma gigante até que ela explodisse e voasse doce pra tudoquécanto era uma experiência e tanto viu. Empurrávamo-nos sem a alegria outrora usada nas brincadeiras que dispensavam animadores. Nosso comportamento nessa hora era bem parecido com o dos jogadores de futebol em uma cobrança de escanteio. Era tiro, porrada e bala. 

Lembro-me que sempre pedia um balde ou uma bacia para a minha mãe e ela sempre me negou dizendo que não havia levado para a festa nem uma coisa nem outra. A única vez que consegui um recipiente devidamente surrupiado da cozinha da casa do aniversariante e entrei bem no meio daquele mar de crianças, cujos semblantes estavam transtornados pela euforia típica da ganância, nessa única vez que senti que estava saindo anos-luz na frente de todos os meus agora inimigos mortais e andava por eles com os braços lá no alto abrindo caminho dando chutes e pontapés para conseguir finalmente ficar bem embaixo do bolão, lembro-me que, ao me ver acertadamente  munida, preparada e posicionada, minha melhor amiga, que era um pouco mais alta do que eu,  invejando tamanha sabedoria pegou o meu bacião e zuniu para o espaço sideral com uma força que sabe deus de onde veio. 

Acredito que essas ocasiões somadas à dança das cadeiras nas festas juninas prepararam-me muito bem para que eu fosse inserida com louvor na sociedade. Se não fosse por elas, eu não teria hoje tamanha desenvoltura quando disputo um lugar no trem na Central ou no 326 e nos aniversários do Guanabara. Foram nesses momentos-Esparta quando, como diz Paulinho, irmão desconhece irmão, que eu desde muito cedo percebi a força que tem um foco em nossas vidas e que não há amigos quando algo, tipo um balãozão, estoura. 

Como era doce essa forma que éramos educados para a vida, não?

Eleições 2014. Porque divertir é necessário.

Marina foi pagar a conta no restaurante.

– Crédito ou Débito?- Perguntou o garçon.
– Depende. Ou não. Nenhum dos dois. Por que tem que ser uma coisa ou outra? A realidade não tem ou uma coisa ou outra. A realidade, assim como a Verdade, tem os dois. Me dou o direito de escolher a não-escolha. Ou nenhuma escolha. Precisamos de um plano estratégico para achar uma solução sustentável no escopo fora do paradigma dessa velha política. O meu Itaú card que representa o meu lado econômico enquanto pessoa humana e cívica não irá se curvar para essa dicotomia dialética do ser enquanto consumidor.
– Marina… – Ameaçou Malafaia.
– Crédito.
– Marina… – Ele de novo.
– Não. Débito, por favor.

 

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Açúcar ou adoçante?

Luciana Genro: Se tu não tiveres coragem de enfrentar o regime, tu nunca ficarás magra. Adoçante.

Marina Silva: É preciso refletir sobre a possibilidade de restaurar a capacidade humana de lidar com as desconfianças e incertezas causadas pela ameaça do açúcar enquanto adoçante, por meio do milagre da saúde sustentável. Na dimensão política da crise civilizatória que vivemos, utilizar adoçante pode ser o centro do problema da falta de sustentabilidade de uma economia verde que precisa de mais etanol.

Pastor Everaldo: Quero enfatizar que a família brasileira não tem nem um nem outro e muito menos respeito. Eu nunca agredi uma mulher. Sou bem casado. A minha escolha será em favor da família, que é um bem maravilhoso. Mais doçura com as mulheres. Açúcar.

Eduardo Jorge: Eu não tenho nada a ver com isso. Adoçante.

Aécio: Eu quero o corpo do Fernando Henrique. Açúcar.

Dilma: Pré-sal.