Um Poema Para Romeu e Julieta

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Neste ano, Nara, Hideo e Nelson, o homem mais sortudo do mundo (meu marido) resolveram fazer teatro com a talentosééééééésima Andréa Cevidanes. Esta, danada que só, simplesmente teve a ideia de fazer Vinicius de Moraes contar a história pra lá de batida de Romeu e Julieta. E assim nasce o maravilhoso espetáculo que será apresentado no próximo Domingo: “Um Poema para Romeu e Julieta” e que terá metade da minha família no elenco dentre outros.

Fato é que estão os três daqui de casa decorando as falas há tempos e mega agitados com a proximidade da apresentação. Euzinha aqui ando vivendo uma experiência ímpar na minha vida depois que o texto entrou a vera na cabeça deles.

Cena 1: Eu na cozinha colocando a mesa e chamando todos para almoçar.

ELIKA – (Fala para seu caçula de oito anos antes de sentar a mesa.) Yuki, lava as mãos!

Do nada, assim, tipo assim, do além Hideo grita.

HIDEO-  As mãos queimadas do fuzil candente,  as vestes podres de granizo e lama!

ELIKA – Vem você também almoçar, homem de Deus!

Nara, enquanto mexe nos talheres,  tristemente fala depois que ouve a voz de Hideo.

NARA- O homem nasce da mulher e tem  vida breve.

ELIKA- Ãhn???

NARA – (desprezando a mãe) No meio do caminho morre o homem nascido da mulher que morre para que o homem tenha vida.

Hideo chega na cozinha.

HIDEO – A vida é curta, o amor é curto. Só a morte é que é comprida…

Elika pensa: ai Jesus…

Cena 2: Lucimar, minha empregada, me entrega um envelope que acaba de chegar do Detran enquanto almoçamos.

ELIKA-  Multa? Será? Hideo, você andou avançando sinal?

HIDEO – (responde ligeiro à sua mãe) Ele avançou. (olha para o prato) Sem temer, ele olhou a morte que vinha e viu na morte o sentido da vitória do Espírito.

ELIKA- Ãhn???

HIDEO- (desprezando a mãe) No horror do choque tremendo aberto em feridas o peito o homem gritou que a traição é da alma covarde e que o forte que luta é como o raio que fere e que deixa no espaço o estrondo da sua vinda.

Elika desiste. Liga para o marido.

Trim. Trim. Triiiim. (Som de telefone)

NELSON – Alô.

ELIKA-  Nelsu, chegou multa. Avanço de sinal na Goiás. Foi você?

Nelson responde (?).

NELSON – Não! (pausa longa) Já não amo mais os passarinhos a quem, triste, contei tanto segredo.

ELIKA – Ãhn?

NELSON- (desprezando a esposa) Não amo mais as sombras do arvoredo em seu suave entardecer de ninhos nem amo receber outros carinhos e até de amar a vida tenho medo.

ELIKA- Ok.

Elika pensa: ai caceta…

Cena 3: O refrigerante está longe e a mãe pede ajuda.

ELIKA- Passa a Coca. Está gelada?

Nara responde (?):

NARA-  Já está gelada. (pausa longa)

Elika pensa: Oh não! Lá vem a onda de novo.

NARA- O sangue está parado; os membros, duros. Estes lábios e a vida há muito tempo separados já estão. A morte se acha sobre ela como geada. A morte, na véspera do dia de suas núpcias, deitou-se com ela; Uma só filha, e a cruel morte arrancá-la, assim, da vista da sua família.

Elika se vira para Meca e pensa: não vou enlouquecer não vou enlouquecer não vou enlouquecer…

ELIKA – Vocês vão me deixar louca!!!

HIDEO- Minha mãe, minha mãe!

Hideo se sensibiliza enfim com a mãe naquele hospício. Hideo sempre foi um filho atento às aflições de sua mãezinha e há de salvá-la.

HIDEO- Eu tenho medo. Tenho medo da vida, minha mãe.  (pausa média)

HIDEO-  Canta a doce cantiga que cantavas quando eu corria doido ao teu regaço  com medo dos fantasmas do telhado.

Elika pensa: puta merda.

Fecha o pano.

A despeito d’ eu não conseguir mais falar de forma normal com quase ninguém desta casa, posso garantir, o espetáculo está imperdível e os atores estão assim tipo um troço de louco mesmo. Dá até gosto de ver viu. A gente nem acredita como eles conseguem fazer isso com tanta naturalidade.

Perigo é se apaixonar pelo teatro e querer também fazer uma peça.

Lentamente para não Atrasar

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Eu não tenho religião, mas sempre leio a Bíblia por curiosidade e certas coisas escritas nela me fazem pensar, Peguei-me aqui lendo o episódio da Torre de Babel em Gênesis. Segundo o Livro Sagrado, a Torre foi construída por homens com a intenção de fazê-la tão alta que alcançasse o céu. Esta soberba provocou a ira de Deus que, para castigá-los, confundiu-lhes as línguas e os espalhou por toda a Terra. Por isso, o chinês, o malaio, o russo, o bengalês,o persa, o alemão, o iídiche, o telugu, o javanês…

O ponto é que as pessoas falavam, antes desse castigo, a mesma língua, ou seja, entendiam-se muito bem entre eles. Para que eles não mais dialogassem, Deus criou os idiomas. Eu completaria essa história dizendo que por causa desse quiproquó nasceu a arte, a música, a dança, as pinturas e os homens trataram de continuar a comunicação, ainda que cada um falasse palavras ininteligíveis aos ouvidos do outro. E o mundo ficou muito mais interessante. Mas veja, pela arte também continuamos sem captar a essência do que o outro quer dizer, ou melhor, sem termos a certeza de que, de fato, compreendemos, mas ainda assim conseguimos interagir muito bem mesmo diante de tantas dúvidas. Amamos a arte e a incapacidade de apreensão de seus conceitos.

Daí comecei a pensar em quão mais interessante são as coisas e as pessoas que eu não compreendo. Clarice Lispector, Pablo Neruda, Manoel de Barros, Michael Jackson, Salvador Dali, minha empregada Lucimar, Marie Curie, Hugo Cavalcanti, a Filosofia como um todo, o tempo, a inércia,… No caso desta última, vejam vocês, enquanto acreditei que entendia sobre ela, a inércia não possuía o menor charme para mim. Explicava o conceito em menos de cinco minutos para os meus alunos. Depois que passei praticamente quatro anos da minha vida lendo sobre o quão controverso ela vem a ser, passei a amá-la e até escrevi um livro sobre ela (“Como Enlouquecer seu Professor de Física”, ainda não publicado).

Agora estou aqui pensando… a compreensão pode tornar tudo insuportável. A lucidez pode ser tediosa. Para se querer ficar junto de alguém, acho que é fundamental não entender bem o que o outro diz e, diria mais!, nem se esforçar tanto quanto temos nos esforçado para isso. Muitos casais, de repente, andam brigando é por insistir nessa ideia. Querem porque querem se entender, fazem terapia juntos amparados na esperança de que compreendendo melhor o outro, a união virá por consequência. Bah. Ledo engano. Quantas vezes a conclusão seguiu mesmo essa premissa? Pois é.

A compreensão pode ser tão fatal para um relacionamento – seja ele de que natureza for – quanto ela foi para mim ao saber como era feito o sarapatel e a galinha ao molho pardo. Enquanto era ignorante, lambia os lábios degustando esses pratos. Hoje, sinto náuseas só em pensar sobre eles.

É conversando que a gente se entende. Então, acho que podemos dar um descanso para as frases sintaticamente corretas e claras. Elas não estão me parecendo lá tão funcionais. Tentemos pintar, fotografar, dançar, escrever, poetizar, compor, gesticular mais para nos fazermos menos claros e, quem sabe, mais atraentes.

Sei lá. Só pensando aqui.

A Deus, Manoel.

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Manoel morreu? É possível Manoel de Barros morrer??? Manoel não vai terminar nunca para mim… Não vai! Como ele mesmo me disse um dia, o ser biológico é sujeito à variação do tempo, o poeta não. E eu amarei Manoel para sempre por ter lhe visto carregando água na peneira tantas vezes (lembro-me da primeira vez que vi essa cena…) e por todos os seus tantos outros despropósitos.

Quem me ensinou que o esplendor da manhã não se abre com faca, que desaprender 8 horas por dia ensina os princípios, que poesia é quando a tarde está competente para dálias e quando um sapo engole as auroras, quem me alertou que as coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças, quem me mostrou que no descomeço era o verbo e só depois é que veio o delírio do verbo e que um girassol se apropriou de Deus em Van Gogh, quem fez tudo isso em mim terá presenças eternas, que estão para além do corpo.

Não morre quem tem dentro de si um atraso de nascença e foi aparelhado para gostar de passarinhos! Não morre!

Não morre, Manoel, por favor, você não…

Ah, meu querido Manoel, você é um imortal que mata meu sorriso quando morre…

Por que morre o Manoel?
Por que morre, Manoel?
Por quê?

Só o futuro dirá. E Rubem Alves também.

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Quero contar para vocês uma história que Rubem Alves me contou ontem. Uma história a la parábola do sábio chinês, mas que, curiosamente, me prendeu e me fez pensar. Uma história que não aconteceu nunca e que acontece sempre. Como pode isso? Vocês vão me entender no final:

Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para seus filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com a exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados, o gado morreu. Mas o charco do irmão mais novo se transformou num oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo. Seus amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa lhe tinha acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande a tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes disse foi: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” Passados sete dias o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos para celebrar esta nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte o seu filho, sem juízo, montou um cavalo selvagem. O cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna. Voltaram os amigos para lamentar a desgraça. “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”, o pai repetiu. Passados poucos dias vieram os soldados do rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada. Os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá…”

E assim terminou a história que Rubem Alves me contou: reticente. Percebi que esta é a história da minha vida e quiçá de todo o resto da humanidade. Não há tristeza ou alegria que dure a vida inteira. Não há vitória que garanta que a vida está ganha e nenhuma perda que implique uma condenação permanente.

O que concluo? Que só é de fato definitivo aquilo que se eterniza com a morte. Os soldados mortos na guerra, por exemplo, serão para sempre rapazes. O apaixonado que foi fatalmente atropelado, amará no infinito. O torcedor que ao gritar gol! morreu infartado, infindável será sua alegria. As crianças cujos corpos não resistiram à fome serão a perpétua vergonha da humanidade.

E tratemos nós de aprender a viver à mercê do imprevisível. Pois pelo visto, tudo é mesmo desfeito com o tempo, as alegrias tais e quais castelos na areia e as tristezas tais e quais o fim da lagarta. As dúvidas. As certezas. Tudo. Absolutamente tudo. Até virarmos pó.

Enquanto isso não acontece “se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.”

Durmamos com esse risco parabolóide na cabeça.

Prêmio Saraiva – Toda a História

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A notícia:

Estava eu vivendo os meus dias normalmente, cotidiando pelas redes sociais quando sou freada por uma mensagem da Ariete, uma amiga do tempo em que trabalhava no Colégio Pentágono no início de carreira. Põe dez anos nisso. Elika, segue o link de um concurso que é a sua cara. Cliquei e dei de cara com as categorias do 1º Concurso Saraiva Literatura e Música: infantil, juvenil (crônicas) e adulto (romance). No edital, havia coisas sobre formatação, a importância de mandarmos um material anônimo sem qualquer coisa que indicasse quem somos e o prazo que era… no dia seguinte!

Corri para organizar os textos publicados aqui no Minha Vida é um Blog Aberto. Meu pseudônimo foi Catleia Proust, totalmente influenciada emocionalmente pelo livro de Marcel Proust que estava lendo na época (final de maio deste ano). Havia uma cena em que Swann, o personagem, cheio de desejo por Odete, mas com extremo cuidado para lidar com um grande amor que ela para ele se mostrava, pediu-lhe com todo o respeito para ajeitar a catleia, uma flor delicada que Odete usava como enfeite de seu vestido, que havia se desarrumado no seu decote em uma freada da carruagem. Ela, diante tamanha cerimônia respondeu-lhe em forma de um gesto que aproximou os seus seios das mãos do tímido rapaz: “Não seja tolo, bem vê que isso me agrada”.  Na noite seguinte, quando saíram novamente não havia catleias no vestido para serem arrumadas e Swann lamentava o fato: nada de catleias? Com o tempo, já mais adiante no livro, depois de reclamar da falta de catleia para ajeitar nos gestos beijava-lhe o colo e iniciava assim as carícias em Odete. “Fazer catleia” para Swann virou metáfora quando queria referir-se ao ato de possuir fisicamente Odete. Na verdade, “fazer amor” para Swann não era bem o que ele fazia com Odete porque com esta era um tipo de sexo muito diferente do que havia feito com todas as outras.  O prazer para Swann parecia-lhe, como  certamente foi, o prazer do primeiro homem que desfrutou a imagem das flores no Paraíso. Pois muito bem, quando estava a ler essa passagem, Ariete me mandou a tal mensagem. Parei tudo o que estava fazendo para organizar o material e mudar em todas as crônicas meu nome para Catleia Proust.

No dia 13 de Outubro, a Saraiva me ligou para dizer que estava entre as três finalistas. Não vou mentir dizendo que nem me lembrava mais que havia me inscrito, como já o fiz por aí. Não me desliguei um dia sequer e, lá no fundo, torcia por mim mesma sabendo que havia muitas chances de ser mais um livro perdido e esquecido no meio de tantos para análise das editoras. Gritei, chorei, morri, descabelei-me, gritei mais, chorei muito mais e morri várias vezes. A emoção foi indescritível. Ainda que não ganhasse o primeiro lugar, o livro seria publicado e eu estava entre as três primeiras de mais de 3 mil concorrentes. Catleia Proust bombou a vera.

Segue o link do vídeo da Saraiva em que mostra como reagimos todos ao receber a notícia. Não acredito!!!!! sou eu:

A cereja do bolo ainda estava por vir. A Saraiva promoveu uma grande festa para o dia da premiação (04 de novembro) que eu sequer imaginava que seria naquela magnitude. Na minha cabecinha, eu iria a São Paulo para assinar um contrato e conhecer os outros amigos escritores finalistas. No máximo, um almoço ou um jantar com todos nós. Qual o quê! Eles estavam organizando uma festa de arromba estilo entrega do Oscar prometendo a mesma emoção e suspense na entrega dos prêmios. Diante da possibilidade de levar mais convidados, contanto que arcasse com as despesas, levei, além do meu marido que estava como meu acompanhante oficial, meus três filhos, minha mãe, meu pai, minha empregada, minha sogra e meu sogro. E não levei Marie Curie, nossa cachorrinha, e Tobias Miguel, nosso hamster porque não dava.

Hideo, meu filho mais velho foi na sexta de ônibus para aproveitar o fim de semana em Sampa, Nara foi de ônibus no Domingo com minha mãe, meu pai e a empregada, Yuki foi de carro com minha sogra e meu sogro na segunda e eu e Nelson de avião. Houvesse barco, cipó e carroça à disposição mandaria mais alguns por esses meios.

Hideo em São Paulo sem mim:

Estou com saudade da minha mãe. Vim para SP antes dela e todo mundo aqui fica me chamando de “meu”. Eu vou pra um barzinho, nego me chama de “meu”! Eu vou para um restaurante, nego me chama de “meu”! Eu vou pra “balada”, nego me chama de “meu”! Isso é ser muito possessivo! Isso é muito doentio! Eu me sinto mal! Eu me sinto preso! Eu não sou de ninguém! Eu sou da minha mãe e ponto final!

Yuki antes de ir a São Paulo. Um pequeno relato:

Yuki vai comigo para SP na festa da premiação da Saraiva que será na noite de terça. Na verdade, todos daqui vão. Mas ele, hoje, estava chorando por causa disso. O que foi, filhote? Não quer ir? E ele respondeu apavorado: onde vamos tomar banho em São Paulo, mãe? Lá não tem água! Não vê jornal?

Daí eu contei sobre os franceses, sobre como os gatos tomam banho, sobre o poder dos lenços umedecidos, sobre como devemos nos adaptar às várias situações na vida, que isso pode acontecer com o Rio também  e vai ser legal viver a experiência antes, que nunca é bem assim como as pessoas falam, que bababá bububu e que era para ele tratar de se acalmar.

Ele estava ficando menos tenso depois daquela conversa. Mas depois de alguns segundos, ele me olhou assustado e perguntou:

– Mãe, mas quem é Alckmin?

Daí, fudeu.

Eu, no dia 02, sem ninguém perto de mim pela primeira vez em quarenta anos:

Estou sozinha em casa. Todos os filhos longe já em SP me esperando, marido vendo futebol na rua… Ninguém em casa! Raríssimo esse momento na minha vida e nada bom. Muito difícil o que estou passando agora viu. Tenho que superar um grande obstáculo… Comendo sozinha no quarto vendo televisão com o refrigerante do copo acabando, o prato ainda cheio, a geladeira longe e sem ninguém para gritar!

Sabe deus como vou superar essa…

Segunda dia 03 de Novembro: a chegada em SP.

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Fala sério!!!! Quando cheguei no aeroporto, já me senti importante. O dia foi repleto de atividades, ensaios para a festa que seria no dia seguinte a noite e bababá bububú. ‘Meu’ pra cá, ‘véi’ pra lá, conheci os editores, os organizadores, os amigos escritores e músicos, enfim, a festa já havia começado!

Não aguentei e postei no feicebuque:

Então, meu. A parada aqui é grande e chique. Muito mais do que imaginava. Estamos nos ensaios da festa da premiação. Meu, ceis nem acreditam… A categoria música faz a festa ficar muito mais emocionante! O prêmio será entregue pelo Zeca Camargo, meu. Fala sério. Maneiraço tudo isso, véi.

Agora vejam, temos todos que preparar discurso, caso fiquemos em primeiro lugar. Não pode falar de Aécio nem de Dilma no discurso. Pode agradecer a Deus, mas não pode pedir oração em conjunto. Achei justo.

Vou me sentir na festa do Oscar. Já estou me sentindo, pra falar a verdade. E dá-lhe ensaiar sorriso honesto caso fique em segundo lugar na classificação final!

Brincadeiras à parte, mesmo ficando em terceiro, saibam que estou mega feliz e grata a todos vocês que me apoiaram até aqui. Giga agradecida pela cumplicidade com os meus textos e carinho que vocês têm comigo. Muuuuuito obrigada. *-*

Não tenho dúvida, meu, vivo um dos momentos mais felizes de minha vida! Parece um sonho tudo isso!!!!

Em breve, mais notícias.

Beijos!!!!

Fiquei muito emocionada com a cumplicidade dos amigos virtuais e reais. Havia muito mais gente me lendo e torcendo por mim que sonhava a minha vã filosofia. Duzentas curtidas! Mas gente… mais essa emoção para lidar…

Não posso deixar de mencionar uma mensagem de uma ex-aluna Verônica Tomsci que, ao final de uma explanação linda para lá de carinhosa, assim me escreveu

Por tudo isso, quero lhe agradecer muito e dizer que estou torcendo por vc!!! Que os seus alunos saibam aproveitar muito bem suas aulas, mas tb percebam que vc é uma professora que extrapola os muros: nos ensina a viver!

Mas gente… é muita coisa para eu administrar… Sem contar outra ex-aluna que estava fazendo um trabalho na faculdade sobre exposição na rede social e pediu para me entrevistar via messenger para aproveitar o calor do momento e coisa e tal e ainda fazer propaganda do meu blog. Coisa rápida disse Maira Maia. São só três perguntinhas, prófe!

1-Seus textos,postados tanto no blog quanto no face,são bem pessoais. Você fala abertamente sobre situações inusitadas,momentos com a família, posicionamento político e ético, seu carinho pelos cachorros e pelo subúrbio,… Enfim, sobre a Elika . Esses textos lidos, curtidos,compartilhados e comentados por pessoas de várias faixas de idade. Eles atingem alunos,colegas de profissão e amigos. Nem sempre com pensamentos compatíveis ao seu. Quando começou a publicá-los pensou na proporção que isso poderia tomar? O saldo da exposição tem sido positivo?

2-Várias publicações suas contam de um jeito espontâneo e bem humorado acontecimentos do cotidiano . E é comum ler narrações de histórias envolvendo seus filhos. Algum deles já se queixou dessa exposição? Já ficou em saia-justa com eles?

3-Atualmente fala-se muito de cyberbulling, redes sociais e vícios cibernéticos envolvendo crianças e adolescentes. Como mãe,blogueira e educadora, qual a dica para ensinar nossas crianças a usar com segurança essa ferramenta?

Acreditem, na van ao caminho do hotel respondi as três perguntas me sentindo a tal. Antes de sair da van, coloquei os óculos de Sol e quase saí dando tchau para desconhecidos. Era meu dia de princesa. *-*  Perdoem-me se estava completamente alucinada.

Segunda dia 03 de Novembro: o vídeo

Durante a tarde, os finalistas gravaram um vídeo. Os organizadores faziam várias perguntas e tínhamos que responder. Em verdade vos digo, eu consigo escrever emocionada, pensar e coisa e tal diante um teclado, mas diante uma câmera de filmagem,  eu falo como se tivesse me perdido da minha mãe no supermercado. De todos que aparecem, eu fui a pessoa para qual eles mais tiveram que parar, limpar a maquiagem escorrendo, me acalmar e ainda assim quase não deu pra mim:

Muita emoção mesmo. :,)

Hoje, na entrevista após o ensaio da premiação (que será amanhã a noite), me perguntaram: Pelas mãos de quem você gostaria de receber esse prêmio?

Pensei.
Pensei.
E pensei.
E respondi:

Pelas mãos da pessoa que mais vibra com tudo que eu faço e que mais entende as entrelinhas e o meu silêncio: minha filha Nara.

*-*

Hideo quando soube da minha resposta ameaçou a pular em frente a um carro (que estava parado no sinal)e depois saiu correndo pela Consolação dizendo que ia se matar comendo cachorro quente com purê. Corri atrás dele e taquei-lhe uma bolacha negresco para ele relaxar. Ele engoliu a guloseima e a minha justificativa; reconheceu que Nara é mesmo o que há de melhor pro momento. Amém.

Ter filhos é bom. Mas tê-los como parceiros e principais incentivadores pra qualquer parada é o Verdadeiro Paraíso.

Aniversário de Nelson:

A noite do dia 03, havia mais a comemorar: Nelsim, meu marido, estava completando 42 verões intensos. Fomos na pizzaria Speranza, tradicionalíssima em Sampa, no Bixiga.

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Voltando para o hotel…

Se eu contasse, ninguém acreditaria. Mas eu vim aqui para São Paulo, peguei um táxi e quem era o motorista?!? Daí que ele ainda resolveu nos contar uma puta história! E a viajem já estava boa! Fala sério!!!! Para provar que não estou mentindo qdo digo que vi o homem, filmei. O melhor passeio sempre é pelas pessoas, não?

Eliziauro Coelho. E ainda tem esse nome mega maneiro…

Terça dia 04 de Novembro. Durante o dia

Tínhamos o dia livre e aproveitamos para fazer manifestação. Pela quantidade de filhos que fiz na vida conseguiríamos parar mole mole a Paulista. E assim fizemos:

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Rolou árvore genealógica no parte Ibirapuera:

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E mais ibirapueradas:

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Terça dia 04 de Novembro. A Festa da Premiação

Contei com a surpresa de amigos de longa data, o grande artista Eric Santos! Meus filhos só o conheciam de tanto ouvirmos o CD dele direto no carro. Foi uma festa a parte essa presença!

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E eis que um dos maiores artistas plásticos hoje da humanidade foi lá me prestigiar: Sergio Ricciuto!!! Ricci é meu amigo e quem ilustrou o meu livro Isaac no Mundo das Partículas que tratei de levar para lá impresso e entregar nas mãos dos editores. Não podemos perder oportunidade, né? Vai que…

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Se Leonardo não fosse, eu o mataria!!!!

Nara, minha filha, sempre alegrando mais ainda cada minuto de minha vida:

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Filhos dançando na festa:

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Meus pais e Lucimar, meu braço direito que mora comigo há 16 anos:

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Meus sogros:

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Minha família:

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Yuki, meu caçula, no meio da festa Saraiva fazendo o que?

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A Premiação:

A cerimônia da Premiação, como disse, foi festa de entrega de oscar realizado no Instituto Tomie Ohtake.

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Apresentado por Zeca Camargo:

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Na categoria infantil, para apresentar cada livro ao público, eles fizeram uma pequena dinâmica teatral com os personagens dos livros. Simplesmente lin-do!

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Ao final das apresentações, anunciaram o primeiro colocado, logo em seguida o segundo e o terceiro. Somente o primeiro poderia fazer discurso.  E assim, foram com as demais categorias.

Na categoria Literatura Infantil, ficamos assim:

1º lugar: Jacqueline Lopes Salgado Soares (Bauru/SP)

2º lugar: Christian Nectoux David (Porto Alegre/RS)

3º lugar: Valquíria Gesqui Malagoli (Jundiaí/SP)

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Depois, seguiu a apresentação de um dos finalistas na categoria música:

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Por sua vez, seguida da premiação final da categoria crônicas, a minha. E ficamos assim:

Literatura Juvenil – Crônica

1º lugar: Vanessa Luiza Martinelli Levandowski (Joinville/SC)

2º lugar: Elika Takimoto (Rio de Janeiro/RJ)

3º lugar: Carlos Augusto de Almeida (Três Rios/RJ)

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Para nossa categoria, houve uma animação de uma de nossas crônicas. Foi muito emocionante ver uma crônica ilustrada! Essa animação, eles ainda não divulgaram. Uma pena. Mas assim que eles resolverem mostrar para nós de novo, eu darei um jeito de compartilhar com vocês.

Mais música. Agora um som muito louco de Pernambuco. Adiel. Amei Adiel.

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Tirei foto com as meninas do grupo e com ele. Não resisti a Adiel Luna e Coco Camará:

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Na categoria romance, ficamos assim:

Literatura Adulta – Romance

1º lugar: Andreia Fernandes Soares Leite (Rio de Janeiro/RJ)

2º lugar: Mauro Vieira Maciel (Florianópolis/SC)

3º lugar: Evaldo Balbino da Silva (Belo Horizonte/MG)

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Para anunciar a história do livro deles para o público, eles simplesmente fizeram algo que se iguala a um trailler de um filme roliudiano. Arrepiei…

Mais música:

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E na categoria música, ficamos assim ao final:

1º lugar: Zé Vito (Rio de Janeiro/RJ) – Álbum: Já Carregou

2º lugar: Adiel Luna (Recife/PE) – Álbum: Adiel Luna e Coco Camará

3º lugar: Rapha Moraes (Curitiba/PR) – Álbum: La Buena Onda

Final de festa:

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Eis o vídeo do que foi um pouquinho dessa grande festa:

E termino com a imagem da segundona aqui que vos conta essa história mega feliz e que levantou esse troféu maravilhoso de lindo com muita mas muita alegria no peito.

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Apresento-me oficialmente e sentimentalmente agora como uma escritora.

Obrigada, Saraiva, por ter me dado a oportunidade de viver esse sonho que sequer sonhava de tão sonho que era.

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E a notícia da festa saiu em vários jornais!

Lá em Vitória:

http://m.folhavitoria.com.br/entretenimento/noticia/2014/11/premio-saraiva-de-literatura-e-musica-anuncia-vencedores.html

No Tocatins:

http://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/arte-e-vida/pr%C3%AAmio-anuncia-vencedores-1.704394

No MaxPress:

http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,715966,1_Premio_Saraiva_anuncia_vencedores,715966,1.htm

No Gazeta do Povo:

http://rascunho.gazetadopovo.com.br/noticia/1o-premio-saraiva-anuncia-vencedores/

No Estadão:

http://m.estadao.com.br/noticias/cultura,premio-saraiva-de-literatura-e-musica-anuncia-vencedores,1588039,0.htm

Pipoca ou Piruá?

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Se tem algo que eu gosto é pipoca. Aqui em casa já faltou arroz mas nunca milho de pipoca. Dei-me conta que há anos faço pipoca e que ainda hoje fico mexendo o milho no fogo e olhando para a panela até conseguir ver os primeiros grãos estourarem. É bonito demais… Só tampo a panela por necessidade. A vontade era ver de camarote o espetáculo da transmutação. Lucimar, minha empregada, sempre corta o meu barato.

Percebo que aquele milho duro e pequeno tem conotações metafísicas e psicanalíticas para mim. Quiçá religioso. Veja você: algo que quebra os dentes se tentarmos morder, quando perto do fogo, transforma-se em um tipo de algodão crocante comestível e que não há ser no mundo que não aprecie o gosto.

Acho que o tal do banho de pipoca no Candomblé tem esse objetivo. A pessoa está, de certa maneira, dura, fechada, impossível de ser alimento para alguém. E daqui a pouco, se abre, torna-se maleável e digerível. Pode ser. Sei lá, não entendo nada de Candomblé.

Mas entendo de pipoca e aprendi demais com elas. Percebo que uma grande transformação acontece mediante calor. E que se o fogo for algo violento, o milho queima e não se abre. O fogo deve ser brando, deve aquecer sem enegrecer nenhum lado do milho. E o milho dá sinal que algo está acontecendo. Não vira pipoca de repente como acham os que não entendem dessa magia. Ele muda de cor e incha levemente. Vai se tornando mais claro. Fica amarelinho e daí pum! começa a grande metamorfose de lagarta em borboleta.

Há sempre, ao final do espetáculo, os famosos piruás, os milhos que a despeito de tanto incentivo, se recusaram a se transformar. Em Minas, piruá era nome usado também para as mulheres que não conseguiram casar, aquelas que “ficaram pra titia”. Não acho justo porque sei que em muitos casamentos, as mulheres nem sequer recebem calor. Piruá eu diria que são todos que insistem em ficar achando que está bom do jeito que está e se recusam a dar um grande salto.

Eu, pensando bem, tenho vários milhos que se transformaram em pipoca na minha vida: minhas corridas, meu Pilates, meus filhos, minha casa, meu mestrado em História, Cefet, meu doutorado em Filosofia, meu blog, meus livros e meu amor. Todos eles, aparentemente e inicialmente impossíveis de serem agradáveis, tratados devidamente, tornaram-se um verdadeiro deleite. E fizeram em mim uma grande modificação.

Olhei agora para a despensa da casa e assustei-me com a quantidade de sacos fechados de milho. Daí pensei nessa bobagem toda e, com as portas do armário abertas e olhando para os céus, ajoelhei-me no meio da cozinha e pedi retoricamente (já que sou atéia):

Deus, dê-me vida e calor suficientes para transubstanciá-los. E, ao final, que os piruás sejam sempre irrelevantes mediante as bacias cheias de pipoca.

Amém.

Relações Sociais nas Redes Sociais

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O tema é polêmico. Se um psicanalista, por exemplo, não pode e nem deve ter intimidade com o paciente, como deve se comportar o professor? Ou ainda: é saudável para a relação professor-aluno que eles sejam amigos no feicebuque?

Os que dizem que ‘não’ a essa pergunta são aqueles que preferem manter a privacidade, ou melhor, não querem dividir a sua vida pessoal, suas opiniões, suas fotos de viagens com aqueles que vão aprender algo com eles. Entendem que a relação acaba e quiçá pode ser prejudicada com essa aproximação, diria até, com essa horizontalidade nessa paridade. Professor é professor e não amiguinho, já ouvi por aí. Aluno não precisa ser íntimo, aliás!, é bom que não seja.

Eu, como todos sabem, tenho muitos alunos como ‘amigos’ e a minha relação com eles se mudou foi para melhor. O respeito continuo tendo e, ao contrário do que muitos pensam, nunca alunos invadiram o espaço da rede social para falar sobre assuntos de escola. Quando o fizeram foi porque eu de antemão permiti em uma conversa. No momento que querem falar algo sério, sempre usam o e-mail. Eles já entenderam, sem sequer eu precisar explicar, como devem se comportar em ambientes diferentes e quando uma conversa deve ser oficializada. Os jovens não são tão irresponsáveis e imaturos como o senso-comum aponta.

Por outro lado, eu também passo a conhecê-los um pouco mais. Vejo o que compartilham, o que lhes agrada, o que lhes entristece… e isso tem facilitado muito o meu olhar para eles e nosso diálogo dentro de sala de aula. São todos muito diferentes como todos nós, adultos, também somos. E essa diferença, as vezes esquecida ao vê-los todos sentados de uniforme, fica mais clara e é lembrada por esse contato via rede social.

A única vez que tive dúvidas sobre essa relação foi nas vésperas das eleições. Sei que formo opiniões e que um professor pode cegar seus alunos com ideias. Questionei a mim mesma se seria ético mencionar e defender a minha posição política para eles. Decidi que poderia fazer isso de forma educativa, incentivando a leitura de livros, a buscar a veracidade das informações, a como expor um ponto de vista controverso, a fundamentar bem a escolha, a questionar, acima de tudo, as coisas que eu escrevia. Debates acalorados e muito respeitosos aconteceram publicamente. Inclusive com os pais que jamais, ainda que em posição política oposta, condenaram a minha atitude. Portanto, tendo todo o cuidado de não anuviar, tive a postura que todos os ‘meus amigos’ puderam testemunhar.

Quanto ao psicanalista e profissões afins, eu me pergunto se deve ser diferente o enfoque. Acho que estamos sendo todos forçados, via rede social, a ver aquele que nos serve de uma maneira ou de outra como um ser humano de carne e osso. Lembro-me, quando comecei a dar aula e nem sequer existia celular direito, que fui convidada para uma festa de 15 anos de uma aluna. Cheguei com meu marido no horário marcado – óóóóóóó a professora tem um namorado! – e dancei na pista como todos estavam fazendo. No meio do Abre as suas Asas e Solte suas Feras uma aluna apareceu com os olhos arregalados dizendo: professor dança? Pois muito bem, em tempos atuais, professor não só dança como vai à praia, usa roupa de banho, namora com quem ele quiser, pinta, borda, se fantasia no carnaval de borboleta e ainda escreve abobrinhas como eu. E médicos idem, psicólogos idem, dentistas idem, fisioterapeutas idem e engenheiros, bem, engenheiros são um caso à parte.

Cabe a nós, assim como esses alunos têm feito de maneira tão elegante e sábia,  entender que ninguém aqui é o monstro do Dr. Frankenstein. Não somos feitos de pedaços, somos uno. E o profissional que lida diretamente com pessoas pode continuar a ser um excelente profissional ainda depois de ser visto e considerado como um ser humano por seus alunos ou pacientes (que são, a meu ver, em essência, a mesma coisa: pessoas que precisam de uma transformação). Mas mais ainda, o aluno e o paciente podem também ser vistos em sua completude.

Há relações, ainda que profissionais, que perdem quando nos conhecemos melhor? Eu acho que não.