Eu Não Bebo e Sou Feliz

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Um jovem  de 23 anos morreu após ingestão excessiva de álcool no último sábado de fevereiro em uma festa. Mais três pessoas até o exato momento seguem internadas em estado grave. Exageros sobre a ingestão de álcool neste caso à parte, a verdade é que há excessos em qualquer festinha que vemos por aí. Não é nada raro vermos amigos bêbados em um costumeiro happy hour.  Não foi somente um jovem que perdeu a vida neste sábado, são vários e todos os dias, principalmente nos finais de semana.

Há tempos já venho observando o comportamento das pessoas em relação ao álcool. Eu que não bebo não porque não goste e sim por não poder, pois não tenho uma enzima que metaboliza o álcool em meu organismo e o resultado de uma xicrinha de cerveja (se é que isso existe) pode ser desastroso, enfim, eu que não bebo porque não posso não sei se pudesse, beberia. Pelo menos não da forma como a sociedade está nos impondo. Vejam bem, na maioria das vezes em que estou com pessoas que não me conhecem seja numa festa ou até mesmo em um bar, eu tenho que me justificar de alguma forma. Falar da aldolase, a tal enzima que me carece e coisa e tal. Você não bebe??? Ela não bebe nada?!? Por que? E me olham com cara de pena como se isso fosse um castigo, uma sentença. Como se isso fosse motivo de sofrimento para mim. Já cheguei a dizer que estava tomando remédio (mentira), que o pastor não deixa (ahahahahaaa), que estou grávida (verdade (na época)), enfim… de alguma forma eu tenho que me explicar e dizer “Calma! Eu não bebo, mas sou legal”. Por que tanta pressão e tanta preocupação com o meu bem estar  quando estou com um copo de suco na mão em uma festa ou sem segurar copo nenhum? Gente, eu estou ótima e me divertindo de verdade…

O projeto de assimilarmos cerveja com felicidade, de fato, foi um sucesso. Todos caíram como uns patinhos. As propagandas sempre associam bebidas com esportes e com total prazer. A sexualidade é associada ao consumo da bebida. Beber se torna, no raciocínio implícito da publicidade, algo fundamental para possuir belas mulheres, grande desejo dos jovens, homens, entre 15 e 25 anos, não por acaso as principais vítimas de acidentes de trânsito no Brasil.

Sexta-feira é o dia da semana em que as redes sociais ficam repletas de fotos de copos de chopp e garrafas de cerveja anunciando o início, promissoriamente leve e festeiro, de um fim de semana. Mas todos sabemos que a realidade não é o que vemos nas postagens no feicebuque. Pesquisas mostram que o número de pessoas viciadas em álcool, os alcoólatras, crescem enormemente. Além disso, o caso de óbitos por cirroses, pancreatites e doenças vasculares crescem na mesma proporção que as indústrias de bebidas enriquecem. E podem colocar nessa conta mortes causadas pelo aumento da violência, da criminalidade e das agressões familiares por conta de pessoas que acharam que estavam consumindo um produto que faria bem à saúde e o tornaria sua vida mais feliz. Bah.

É raro vermos estatísticas falando sobre as mortes citadas acima, não? Por que será? O que há por detrás de tanta omissão? Procurem saber quanto as indústrias de cervejas faturam por ano e quanto gastam em publicidade. E você, bobinho, ainda faz mais propaganda de graça fotografando a cerveja que vai beber juntamente com seu sorriso esperançoso de que terá momentos leves. Que tenha, mas… até que ponto o álcool  e a quantidade que é ingerida  são, de fato, necessários para a sua felicidade? E você que faz questão de ser fotografado com um copo de cerveja na mão: o líquido que você bebe é ingerido pelo que tem em seu conteúdo ou pela característica agregada pelo efeito persuasivo da publicidade? Considere que ao tirar seu selfie com o copo de cerveja na mão ou algo que o valha, o sentido de “ter”, para você, passou a substituir o sentido de “ser”. Agora sim você é um alguém socializado e inserido em um grupo social, né? Você precisava ter um copo e beber muito nele para se sentir feliz, não? Uma pergunta que faço quando vejo pessoas sendo fotografadas bebendo: Quem, de fato, está muito feliz com a sua foto?

É claro que você pode estar sim muito alegre e contente e a cerveja não ser a principal causa disso. Mas em muitos casos, a impressão que se é passada, para mim, não é exatamente essa. Eu, vejam vocês, quase sinto vergonha por não beber. Quase… Já me acostumei com as indagações, mas sinto-me cada vez mais anormal tanto no meio de adultos como no meio da garotada mesmo. E não é de se estranhar a minha sensação.. Há nesse mundo uma apologia à bebida que vou te contar viu. Muitos para mostrar que uma festa bombou tiram fotos rodeados de latinhas vazias ou cheias. Associam o fato de um evento ter sido bom somente se todos se encharcarem de bebidas alcoólicas. Bebi bagarai!!!! Quem nunca ouviu isso? Afff…

Jovens estão consumindo bebidas alcóolicas cada vez mais cedo e em quantidades cada vez maiores. A busca pela felicidade começa desde cedo, agora vejam. E os mais novos sempre imitaram os adultos desde que o mundo é mundo. Já foi assim com o tabaco e agora, mais do que nunca, com o álcool, a droga permitida e institucionalizada. “Aprecie com moderação” é o suficiente para sermos massificados com essa quantidade absurda e criminosa de publicidade. As propagandas  têm um efeito crucial nesse imaginário de que o álcool não é droga e que por ser lícita não prejudica a vida, pelo contrário traz benefícios, felicidades… a vida vira uma festa se houver cerveja! É essa visão que grande parte dos adultos e jovens brasileiros têm das bebidas alcoólicas. Bobinhos…

É urgente e impositivo que sejam extinguidas as propagandas de bebidas alcoólicas no país, como foi feito com o cigarro já que ambas matam, sendo o álcool um grande vilão que apenas é respeitado por conta da ignorância e hipocrisia da sociedade que não enxerga a quantidade de mortes e doenças que o álcool vem gerando, pela cultura “social” que afirmam que tem.  Não digo que se deva proibir, mas há de se gerar na sociedade uma consciência maior, mais responsável e menos alienada sobre o consumo de álcool assim como foi feito com o do cigarro. Não poderiam, por exemplo, colocar as imagens de acidentes de trânsito nos rótulos das cervejas? Fotos de fígados saudáveis versus os com cirrose?

Em verdade, em verdade eu vos digo. É possível aproveitar a vida, uma festa, se socializar, ter amigos e ser feliz sem a necessidade de ter um copo na mão. Vide a mim e as criancinhas! Eu me divirto a vera e a brinca em qualquer lugar de cara limpa. E sou legal, ok? Feliz nem sempre mas, vale lembrar, o normal é ser assim mesmo.

3 comentários em “Eu Não Bebo e Sou Feliz

  1. Elika, mais uma vez aqui estou eu, depois de algum tempo, me deliciando com seus textos. Li algumas notícias que para mim são novidades (vc entrar para a política e se filiar ao PT) que de fato não me deixam mto animada, mas a vida é isso né? Não preciso pensar igual para gostar de vc e de mta coisa que vc pensa/escreve.
    Então passei só para agradecer por ser assim, transparente e compartilhar com todo mundo o que vc acredita. Por mais q discorde de vc em algumas coisas, vc me ensina mto! Me ensina tolerância, me ensina preocupação e respeito pelo outro e por aí vai.
    Sobre a “felicidade em um copo”, dividimos o mesmo dilema de sempre ter que explicar o motivo de não beber. No meu caso, por não gostar mesmo, gosto mto de pensar, gosto mto de poder escolher o que quero e não quero e sempre tenho a impressão que a bebida me tira isso.
    Acho absurdo como o álcool é valorizado e alardeado por aí. Já reparou que a maioria das músicas só falam em encher a cara pra se divertir, pra esquecer a falta de grana, pra esquecer o chifre, pra comemorar o sucesso… Isso também não é apologia às drogas? Não dá pra entender. Ou dá sim, o dinheiro move tudo.
    A única vez q bebi (nem precisou ser mto, foi na verdade uma caneca com um gosto horrível que bebi apenas na ridícula tentativa de me socializar), me senti mto mal depois, não lembrava direito de como tinha acontecido e fiquei me perguntando pq fiz aquilo se nem tinha vontade, se o gosto era de xixi (não, nunca bebi xixi) e se me impediu de me lembrar bem dos bons momentos com minha família e amigos.
    Então não bebo, sou legal (eu e algumas pessoas achamos que sim), me divirto e divirto os amigos. Qd não tô com vontade de me explicar/justificar por não beber, eu invento alguma desculpa como os remédios e tal, tô pensando em invejar vc e falar da falta da enzima 😉

    Enfim… virou uma carta gigante e provavelmente vc nem vai ler. Mas ok, tava querendo bater um papo. Beijo e obrigada!

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