Julie & Eu

jl

Estive em Itajubá, Minas Gerais para o lançamento do Minha Vida é um Blog Aberto nas terras de mamãe. Contei uma história nas redes sociais que vivi ali que jamais esperava. Foi mais ou menos assim:

“Hoje eu vivi sem sombra de dúvidas o momento mais emocionante desde que me tornei escritora. O dia já estava para lá de perfeito. Falei na Rádio pela primeira vez na vida e o lançamento foi um deleite só. Revi primos, conheci gente bacana, recebi abraços dos tios… Assim que percebi que o movimento havia acabado, dei por encerrada a festa na livraria e aceitei o convite da prima Enilda para tomar um sorvete na Praça.

Mal sento com três bolas devidamente melecadas de caldas e cerejas (gordice nível hard), recebo o telefone da Janaína, a dona da Nobel onde se deu o evento.

– Oi, Janaína. O que esqueci aí? – perguntei já rindo.
– Elika, acabou de chegar aqui uma menina chorando muito dizendo que fez de tudo para chegar a tempo de te ver mas não conseguiu. Você pode dar um pulinho aqui, bem?
– Janaína, acabei de sentar. Ou você espera eu tomar meu sorvete ou você pede para ela… Janaína, quantos anos ela tem?
– Uma criança, me parece.
– Pede para ela vir aqui. Estou em frente a sorveteria, pode ser?

Em cidade do interior tudo é perto e em menos de dois minutos vejo Janaína vindo em minha direção com os olhos marejados segurando na mão de uma menina que parecia uma princesa de tão linda e que chorava convulsivamente.

Assim que a mocinha me viu chorou mais ainda. Abraçou-me forte e não parava de se balançar pelos soluços vindos com tantas lágrimas.

Como assim? O que era aquilo? Por que tudo isso???

– Calma, linda. A tia está aqui. Você conseguiu me ver…

Eu crente que estava falando com uma criança que queria apenas conhecer uma escritora. Qual o quê, minha gente, qual o quê…

A mocinha de doze anos é um mulherão que se chama Julie. Ela começou a falar – sem conseguir conter o pranto – que lê meu blog há mais de sei lá quantos anos. Desde quando eu era blogspot.

Como assim, minha gente? Como assim???

Julie me disse que está terminando de escrever um livro de quase trezentas páginas e que se inspira muito em mim para tudo e que ela não imaginava que eu era real até o momento que hoje, pela manhã, passei na turma dela convidando todos para o meu lançamento. Quando coloquei o endereço do meu Blog no quadro, ela disse que não acreditou. É ela!?! Elika Takimoto??? E ela é muito mais legal ainda pessoalmente??? Você não sabe, disse-me Julie, mas meu sonho era te conhecer. Por que não me falou isso quando estive na sua frente?, perguntei. Porque sou tímida e estava em estado de choque. Julie me disse isso e muito mais, meu povo.

Deus, se existir, não me preparou para viver Julie. Eu estava sem saber como lidar com toda aquela situação. Julie, se você está feliz em me conhecer, saiba que esse encontro mudou a minha vida para sempre, confessei usando toda a minha sinceridade. Eu escrevo há mais de dez anos, tenho muitas pessoas que adoram o meu trabalho, mas nunca senti isso como agora com você. De uma forma que não consigo explicar, há magia nesse momento.

A gente que escreve sabe o quanto esse ato é solitário, continuei. Somente nós sabemos o quanto somos sozinhos. Por mais que eu seja lida, a impressão que tenho é que ninguém me entende porque quem escreve cria castelos mas somente quando há um leitor esse castelo é habitado. Ainda assim, cada tijolinho requer minutos dolorosos de solidão. E eu percebo que você, Julie, conhece o peso de cada pedrinha que carreguei nessa labuta. E saiba, mocinha, que eu entendo a sua emoção por esse encontro porque ela é minha também.

Ao dizer isso, Julie me abraçou e chorou muito mais.

Enfim, isso foi apenas um resumo. Queria compartilhar com vocês e escrevi de qualquer jeito aqui do celular mesmo para não perder o timing desse sentimento quase anestésico que ainda jorra em mim.

Eu não sei direito como consegui manter a calma e trocar mais tanta coisa com Julie. Na dedicatória que fiz para ela, escrevi: juntas para sempre. E assim será.

Estou ainda sem acreditar. O que foi isso que vivi, gente?

Obrigada, Julie, por ter feito um dia que estava tão especial ser indescritível.

Juntas para sempre.”

julei

12 comentários em “Julie & Eu

  1. Ontem noite, antes de dormir, li essa entrada do blog no meu telefone (ah, não te contei: há um mes uso celular e estou me sentindo no século XXI, mas esse é outro assunto). A cada momento, enquanto ia desgranando cada parágrafo, não conseguia conter as lágrimas pela emoção e tinha que parar a leitura (lembrando agora isso, também me acontece).
    Eu acho que a Julie é um dos momentos mais mágicos que um escritor pode imaginar; o momento onde se passa o limite entre ficção e realidade. Pôr esse momento em palavras é o grande desafio que tem tentar descrever a beleza e a mágica. Porque a Julie -assim como você a descreveu- é a beleza mesma; e suas palavras, que expressam só sentimentos, recriaram a mágica daquele encontro.
    Agradeço às duas este post.

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  2. Elika, acabei de te “conhecer” através de um ‘share’ no Facebook da sua prova sobre a Teoria da Relatividade. Amei tanto que fui ler sua timeline no Facebook. Amei tanto que vim conhecer seu blog. Amei tanto que fui lendo até chegar nesse post. E nele parei porque conforme eu lia a garganta foi se apertando, até que quando veio a história do castelinho… ai… aí o nó na garganta explodiu! E cá estou… Emocionadíssima e inspiradíssimas com tuas palavras para colocar os tijolinhos no meu castelo que tento construir (ainda que morrendo de medo dele ficar vazio sem ninguém querer entrar…).
    Parabéns! E espero um dia te convidar para entrar no meu castelinho (e se não gostar, é só pedir licença e sair ;-)).
    Bjs

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