Relatividade e Dilatação do Tempo

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Estou terminando o bimestre apresentando a Teoria da Relatividade para meus alunos (para quem não sabe, sou professora de física). Pensar sobre o conceito de tempo é algo fascinante. Há anos observo que o tempo, de fato, é relativo e cada qual tem sua forma de medi-lo. Mas não falo de referenciais com velocidades próximas a da luz e sim do temperamento de cada um de nós, de nosso ofício, do ambiente em que vivemos e de nossos sonhos.

Há quem meça o tempo na base do dinheiro. Os autônomos e os profissionais liberais são um exemplo. Nessa esteira, o taxista de ontem me contou que tem que trabalhar trezentos reais por dia. Existe também o caso de pessoas que só se sentem adultos depois de terem um carro. Uma outra forma de mensurar os anos é dizer que só vai ter filho após conhecer a Europa. A verdade é que todos nós medimos de acordo com o nosso mundinho.

Minha cabeleireira me respondeu quando lhe perguntei em quanto tempo ela poderia me atender que eu deveria esperar duas escovas. A passadeira me informou que a cada cinco camisas sociais passadas ela checa o celular. O pedreiro me disse em uma ocasião que daqui a quinhentos tijolos ele encerraria o expediente.

Perguntei ao Hideo, meu filho de 22 anos, se ele ia demorar muito para voltar para casa. Só mais cinco cervejas e eu vou embora, mãe. Fiz a conversão rapidinho e entendi que poderia ler mais umas cem páginas de Sérgio Porto. Yuki, meu caçula, ao ser chamado para jantar pediu que eu esperasse mais dois gibis da Turma da Mônica. Eram equivalentes a umas quatro crônicas de Veríssimo. Nara, minha linda mocinha, pediu para eu ver um filme com ela, mas só depois “d’eu acabar de cuidar da Marie Curie”, nossa fofurésima vira-lata. Ok. Divido aqui somo lá, cinco páginas de Marcel Proust.

E há os poetas. Um dia li que a moça havia chorado muitos lenços. Achei lindo. Sofri doze poesias, confessou-me um que não teve o amor correspondido. Compreendi que foi um ano doloroso.

Eu, já divagando, quero que a noite de hoje dure inúmeras gargalhadas. Ou, vá lá, não custa sonhar, um cinco beijos bem dados e três suspiros intensos também me fariam bem feliz. Tudo junto – as gargalhadas, os beijos e a comunhão – seria algo similar ao que Einstein chamou de dilatação do tempo.

No meu referencial, uma eternidade.

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