Patch Adams

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Hunter Doherty “Patch” Adams, o médico que inspirou o filme “Patch Adams – O Amor é contagioso” tendo Robin Williams como seu intérprete, deu uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura. Eu resolvi transpôr parte do que ele falou sobre o filme e sobre a medicina aqui porque achei tudo extremamente surpreendente. No mais, se o personagem do filme já havia me emocionado, muito mais fiquei estarrecida com a opinião altamente desfavorável do verdadeiro Patch Adams sobre a própria película e como ele encara a sua profissão. Ouvir Adams foi muito melhor do que vi mostrado pelo saudoso Robin Williams.

Patch começa a entrevista dizendo que ficou altamente constrangido com o filme. Ele se diz um ativista político que trabalha pela paz e pela justiça e considera o governo americano fascista. Diz que se não mudarmos de uma sociedade que venera dinheiro e poder para uma que venere compaixão e generosidade não haverá esperança para a sobrevivência do ser humano neste século. Aqui, vale observar, o discurso de Adams fecha muito com o do Papa Francisco e Mujica que vem nos alertando sobre o que o ser humano e o capitalismo andam fazendo com o meio ambiente.

Hollywood queria vender ingressos, afirma Patch Adams. E há duas maneiras de vender ingressos, ele explica: uma pela violência e outra pelo humor. Por isso, preferiram no filme enfatizar o esforço dele em abrir um único hospital maluco na história e ignoraram o fato de que os EUA são um país que se recusa a cuidar de 50 milhões de pessoas porque elas são pobres, ou melhor, ignoraram o fato de que ele, o verdadeiro Patch Adams, luta pela medicina gratuita e isso não foi, óbvio, colocado no filme hollywwodiano.

Essas declarações fortes e emocionadas explicam porque Adams nunca foi chamado pelas grandes emissoras de televisão para ser entrevistado e sua voz é muda para a maioria das pessoas no mundo – incluindo todos que assistiram o filme.

Adams diz que essa mensagem de que “rir é o melhor remédio” passada nas telas de cinema não é a bandeira que ele levanta e sim a de que “a amizade, esta sim, é o melhor remédio”, pois a coisa mais importante que levamos na vida é a nossa relação com todos que amamos. Patch, pasmem, sequer considera o riso como uma terapia… nem música, nem arte, nem dança…

E não adianta se fazer de palhaço para um moribundo no hospital e não cumprimentar o porteiro! Diz Adams que essas duas situações são iguais. Quando tiram a roupa de palhaço começam a desperdiçar todos os outros momentos lindos que poderiam viver na volta para casa, no ônibus, nas ruas… certamente por isso Adams, o verdadeiro Patch Adams, não tira a roupa de palhaço dele em momento algum. E o filme dá a entender que ele gosta dessa ideia do médico entrar em um quarto do hospital para fazer palhaçada. Nada disso…

Trata-se de um filme bonitinho, ele concorda, mas alfineta: “Patch Adams – O Amor é contagioso” não faz ninguém querer alimentar todos os famintos e cuidar melhor do meio ambiente. “Patch Adams – O Amor é contagioso” não fez nada para que a violência contra as mulheres diminuísse. Por que o filme não tratou também dessas questões?, ele pergunta provocando os entrevistadores.

Adams concorda que o filme inspirou muitos médicos e muitas pessoas a fazerem os enfermos rirem e isso não é ruim, porém, “Patch Adams – O Amor é contagioso” sequer é um filme inteligente e sim extremamente comercial, afirma o verdadeiro Patch que se diz triste por seu nome ter entrado em um filme que não prega a paz e nem a justiça, coisas que ele defende e luta com unhas e dentes. Se você tem dinheiro e não ajuda ninguém, quem é você?, pergunta Adams. Nada, ele responde.

Patch Adams topou fazer o filme porque a Universal Studios prometeu ajudá-lo a construir um hospital que ele tentava levantar verba há quase trinta anos sem sucesso. O filme rendeu milhões de dólares, lembra ele, e ninguém ligado ao filme deu um dólar sequer para o hospital ou alguma entidade beneficiente. Adams mesmo, como fica claro na entrevista, é um Mujica. Não guarda nada. Doa todo o dinheiro que recebe para clínicas e escolas no mundo.

Quando a médica perguntou o que ele faria em um hospital no Nordeste brasileiro sem condições de trabalho, Patch Adams colocou que nenhum hospital de ponta tem condições de servir a nenhum ser humano na forma que ele entende o que seja “servir”. “São hierárquicos, são comerciais,os médicos gastam pouco tempo com o paciente porque tempo é dinheiro!”, ele respondeu. Então, “não só no nordeste do Brasil, mas em todo mundo os consultórios, os hospitais em sua grande maioria não são um ambiente onde se pratica o amor, portanto, não há condições de trabalho”.

No hospital de Adams, todos os atendentes são alegres. A intenção é eliminar o esgotamento emocional e físico no trabalho e colocar outro objetivo para os médicos. Lá, com Adams, todos no hospital ganham o mesmo salário. Do porteiro ao cirurgião. E não há ali médico infeliz porque Adams faz com que o amor circule o tempo todo e em todos os setores. Não há um médico reclamando de estar ali, afirma ele.

E quanto ao jornalismo? Adams afirma que não há jornalismo no mundo. São todos marionetes de riquezas! Cinco empresas detém 70% dos meios de comunicação do mundo!, ele informa e complementa dizendo que não há jornalismos e sim máquinas de propaganda (juro que foi ele falando e não eu ou meus amigos de esquerda) e lembra Adams que os políticos servem às grandes empresas.

É uma ignorância, diz Adams, falar que os médicos devem curar prescrevendo remédios. Os médicos, frisa ele, têm que cuidar. “E não nos esqueçamos que a Indústria farmacêutica tem a mais alta margem de lucro do que qualquer outra no mundo. Vendem substâncias sabendo que não ajudam em nada. As pesquisas são falsificadas. As Indústrias farmacêuticas são as empresas mais nojentas do planeta. E o capitalismo vai acabar com a vida humana!”.

Sobre qualidade de vida… a explanação dele foi uma das mais lindas que já ouvi. Quando convidamos alguém para jantar em nossa casa, Adams explica, nós comemos quando todos se servirem, certo? Ao menos, assim manda a educação. Por que não fazemos isso no mundo todo? Só vamos comer quando todos puderem comer também. Isso seria qualidade de vida!, explica emocionado.

Para terminar com chave de ouro, um médico perguntou ao Adams sobre a relação deles com pacientes adultos e se há conversa e coisa e tal com eles. Adams explicou sobre a quantidade de coisas que carrega em sua roupa para que a pessoa se interesse e ele possa estabelecer uma ponte. O personagem de palhaço do verdadeiro Patch Adams é um adulto com Síndrome de Down porque esses são os adultos que amam de forma incondicional.

“Não estou aqui para curar ninguém e sim estabelecer relações de amor com as pessoas e essa relação vai tornar mais fácil o que quer que seja”.

Olha, foi uma das entrevistas mais lindas, inspiradoras e esclarecedoras que já vi…

Queria compartilhar isso com vocês porque acho que pessoas como Patch Adams têm que ser ouvidas e já que a internet permite-nos fazer o que o jornalismo não faz… por que não?

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(link da entrevista:https://www.youtube.com/watch?v=MNOveHSJGto)

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