Bus Party: Despedida de Solteira da Janete.

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Eu tenho uma história para contar e nem sei como começar porque sou extremamente tímida e reservada para esse tipo de coisa, digo, para versar sobre esse assunto específico. Mas o fato aconteceu e não aguento mais guardar isso só para mim. Fico mal só de lembrar. Desato a suar frio… não sei o que acontece, gente… que chocolate era aquele… Bom, deixa eu começar do início…

Uma vizinha, que eu achava que era casada há anos, bateu na minha porta para me dar o seu convite de casamento que vai ainda acontecer na Igreja. Ela disse que resolveu oficializar a relação e que estava sentindo vontade de comemorar uma união tão perfeita e duradoura como é a dela com Seu Felício. Que lindo isso… adoro ir a casamentos. Sempre me emociono…

– Mas, ó, vai ter despedida de solteira!!!!! – ela disse hiper animada. E continuou – Miga, aluguei um ônibus. O tal do Bus Party que agora está super na moda… Você vai, né?

Meu filho de nove anos, há pouco tempo, foi para uma festa nesse Bus Party. Daí eu pensei cá com meus botões: que legal… vou passar por tudo o que ele passou, vou conhecer o ambiente e coisa e tal. Maneiro.

– Claro que vou, miga. Magina se vou perder uma comemoração dessas!

Daí chegou o dia. Foi ontem. Sábado a noite. O ônibus parou aqui na porta da vila e eu mais algumas vizinhas que nem conheço direito entraram também. Uma delas, da minha idade até (e olha que não tenho mais vinte anos…) levou a mãe. Na hora eu pensei que deveria ter chamado a minha também para sair um pouco de casa e coisa e tal mas, agora é tarde. Inês é morta. Entrei.

O ônibus não se parece nada com o 485. Ele é todo preto, lindo por fora! E com os vidros todos que ninguém vê lá dentro. Estava encantada com a chiqueza do negócio. Janete mandou bem, pensei. A gente sobe pela frente lá onde fica o motorista. Logo na entrada, havia uma mesa com um bolo com formato de sutiã, mas não é desses de mulher casada não, vamos colocar assim de forma preconceituosa porque preciso que vocês entendam o que quero dizer sem que eu precise detalhar muita coisa e não me vem nada melhor na cabeça. Foco na história. Era aquele sutiã de renda vermelha que só se compra em lojas específicas, dessas bem específicas mesmo no assunto se é que vocês estão me entendendo. Ao lado do bolo, estavam os salgadinhos e algumas comidinhas.

No meio no Bus Party, havia uma pista de dança com pisca pisca. Não sei o nome daquilo… aquela luz que fica acendendo e apagando bem rápido. E também tinha uma bola cheia de caquinho de espelho grudado nela rodando. No meio dessa pista, havia dois ferros desses que tem em metrô. Não é ferro deitado não. Era ferro em pé para as pessoas que iam dançar se segurar neles caso o ônibus freasse, assim concluí eu. Na parede, tinha uma TV enorme passando uns vídeos clips.

Lá atrás, havia dois bancos. Mas não era desses da gente sentar normal não. Eles ficavam ao longo do comprimento do ônibus. Não sei se estou sendo clara… e ao final, lá depois desses bancos, ficava o banheiro. Eu que não sei dançar nada e quando tento pareço um boneco de posto tendo ataques epiléticos, fui direto lá para o fundo e sentei rapidinho.

A mulherada toda já ficou ali na pista. Sentadas, só havia eu e mais duas vizinhas. O resto… tudo largada… Mal o ônibus anda um pouquinho, uma outra vem lá detrás com um microfone e começa a gritar que vai ensinar para todas que estavam na “Despedida de Solteira de Janete Uhullll!!!!” como dançar sensualmente. Eu fiquei estarrecida, menos com a dança e  muito mais com a animação e a dedicação da Dona Hermelinda, Dona Neusa e Dona Augusta em aprender aqueles passos que fazem nosso corpo parecer que não tem osso e que deu àqueles ferros um outro destino bem diferente do que eu imaginei.

Eu lá quietinha pensando que a coisa mais quente daquela festa seria essa dança…  qual o quê… qual o quê!

Chegando na Barra, o Bus parou na praia. Daí pensei: nossa, que legal!, vamos descer, caminhar no calçadão, tirar fotos, beber uma água de côco…

Descemos todas.

De repente, do nada e do além, aparecem vários policiais segurando a noiva e dizendo que o ônibus havia sido apreendido e que era para todas nós entrarmos correndo senão todo mundo ia morrer! Saí empurrando e derrubando aquelas velhas todas e me meti lá atrás de novo porque tenho filhos para criar e bababá bububú e nessa hora é cada um por si e deus contra todas.

Assim que os policias entraram, foram para o meio do ônibus, puxaram a roupa toda que parecia que estava fechada só com velcro e… mas gente… e ficaram todos, eu disse to-dos, só vestidos com uma micro sunga. Acreditam numa coisa dessas? Dona Irene que vive na Igreja foi a primeira a gritar e correr para agarrar um deles. Atrás dela, quase todo o resto das convidadas! E vocês pensam que elas iam lá para abraçá-los e cumprimentá-los? Também pensei que fosse. Nananinha. Elas passavam a mão em tudo! Eu disse tu-do! E ainda arrancavam o pouco de roupa que eles estavam usando! Eu vivi para ver Dona Marina, a tal da mãe que foi com a filha, falando para um policial:

– Você é o netinho que vovó sonhava…

Mas gente… o que era aquilo? Acho que quando falam de receber santo deve ser algo parecido, só que no caso não tinha santo nenhum descendo não. Era tudo espírito encapetado mesmo. Os policiais empurravam as minhas vizinhas contra as paredes e ficavam se esfregando nelas simulando bubiça! Um troço de doido que só vocês vendo… E elas? Gosto nem de lembrar viu…

Uma vizinha que era meio do meu time, correu e se trancou no banheiro. Eu queria me esconder também, mas não teve jeito… Dona Neusa que estava na pista como o Diabo gosta vendo que euzinha aqui estava sentadinha gritou:

-Vem! Vem, boba! Vemmm!!!

Eu fiz timidamente um sinal de não-muito-obrigada-dona-Neusa-me-deixa-quieta-aqui-pelamordedeos! Ela nem tchum para mim. Chamou um polícia pelado, cochichou algo no ouvido dele enquanto apontava para minha direção…

Agora eu não sei se devo continuar ou é melhor parar aqui porque já estou vermelha só de lembrar… Bom, já que comecei…

O policial veio vestido só com um chapéu da corporação até a minha recatada pessoa. Mas não vinha caminhando não. Vinha dançando todo como uma lagartixa no cio. Chegou perto e pegou a minha mão e puxou. Eu com medo de ele colocar a minha mão lá no cacetete, no reflexo, puxei de volta. Ele foi e, cheio de moral que aquele quepe lhe conferia, puxou minha mão de novo. Vocês não vão acreditar no que eu disse para ele, gente. Dá até vergonha de falar..

– Não. Obrigada. Estou satisfeita… obrigada mesmo…

Disse assim porque além de tímida eu sou super educada mesmo. Daí, ele fez sinal que queria falar algo no meu ouvido. Eu, fofa, deixei. Qual o quê, gente. Qual o quê!!!! O puliça me contou segredos de liquidificador! Colocou um palmo de língua para fora e girava e girava e girava aquela coisa no meu ouvido que nem te conto viu…

E eu só sabia repetir: não não! obrigada! obrigada! não!

Foi Dona Maria que me salvou. Veio ela, toda dona de si, tacou-lhe uma mordida no bumbum dele e ele se virou imediatamente para ela com o cacetete em riste e nem te conto! nem te conto! Mas gente… que festa…

Até que o ônibus parou. Final da Despedida da Janete uhulll grazadeus. Mas para descer, a noiva, que estava completamente bêbada, gritou:

– Para descer tem que tomar uma dose de tequila!!!!!

A mulherada toda urrou. Dona Irene emitiu um som gutural que jamais vou me esquecer. O que foi aquilo?

Eu não bebo nada, vocês já devem saber. Nada mesmo. Passo mal com a menor dose. Provo só e olhe lá. Pior que não era só virar o copo. Tinha um ritual que nem se eu bebesse muito conseguiria fazer porque exigia uma coordenação motora que está muito além da minha capacidade. Tinha uma parada de chupar um limão, depois lamber um (acho que era) sal que ficava do lado oposto da palma da mão, dá uns pulinhos, abrir a boca e virar o copo não necessariamente nessa ordem que, é claro, não me lembro da sequência certa.

Tinha fila. Eu era a quadragésima sétima. Na quadragésima sexta, acabou a última garrafa de tequila. Amém, meu pai, amém!!!!

Na porta do ônibus, estava a noiva dando para todas as convidadas a lembrancinha de sua despedida de solteira. Era um chocolate, mas com o formato de… bem, vocês sabem. Naquele formato. E tinha muito chocolate mesmo viu. Benza-te deus…

Chegando em casa, entrei correndo para esconder aquela lembrancinha. Fiquei com medo de alguém ver e me perguntar alguma coisa e eu ter que explicar tudo isso. A imagem dos meninos dançando não me saía da cabeça. Por que será que eles fazem aquilo? Será que por prazer mesmo ou por necessidade? Será que se eles pudessem fazer outra coisa para ganhar dinheiro estariam ali no meio daquela mulherada? Será que eles se sentem objetos? Será que eles gostam de se sentir usados? Em que medida os sentimentos dos homens diferem dos nossos? Pensando pensando pensando assim, aquela divagação toda foi se estendendo e acabei comendo a lembrancinha da festa. Estava morrendo de fome porque a comida toda estava láááá perto do motorista e se eu cruzasse o ônibus ia perder a virgindade. E vou te falar… Que chocolate viu… Tinha até um recheio dentro. Muito gostosinho por sinal.

Amanhã vou perguntar para Janete onde ela comprou aquilo…

Que festa, gente. Que festa…

———

Todos os nomes foram inventados para manter a privacidade das meninas.
Obrigada, minha amiga, por ter dividido essa história comigo. Não posso te agradecer nominalmente se não você me mata! Que festa, miga, que festa!!!

6 comentários em “Bus Party: Despedida de Solteira da Janete.

  1. Sempre escrevo a mesma coisa….Adoro suas crônicas!! Só não escrevo em todas porque vou ser muito repetitiva … Mas sou uma Apaixonada pelo que escreve. Muito obrigada! Abraços.

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