Esperança

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Poucos sabem. Eu tenho insetofobia. Pode ser um simples e linda joaninha, odeio. Acho horrorosa. Fico arrepiada, o coração dispara… Eu tenho medos. Como somos frutos de nosso passado – saibamos ou não – as minhas razões são meus traumas. Fui muito picada quando criança, quase perdi um filho por veneno de um ferrão e agora a dengue, a zika, a microcefalia. A epidemia. E a coisa não é racional como acredito que não seja nenhuma fobia ou qualquer outro sentimento. Portanto, não adianta falar não morde, não pica, veja que bonitinho. Eu acabo ficando assustada. Porém, menos pelo bicho e muito mais por ser tão difícil alguém entender e respeitar o medo do outro.

Já tentei me tratar, adianto. Mas foi inútil como uma placa para cegos. Depois, nunca se sabe qual defeito sustenta todo esse edifício, já dizia a bruxa.

O fato é que ontem à noite entrou um bicho verde no meu quarto. Estou em uma pousada em Penedo tentando descansar a mente – objetivo claramente não atingido. Estava sozinha como nos outros dias mesmo sem ser feriado. Peguei meu chinelo e mirei sem piscar o bicho para não errar a pontaria. Quando percebi que se tratava da tal da esperança. Puta merda… por que tudo tem que ser tão difícil para mim?

Fiquei observando como a esperança se comporta para ver se aprendo algo e me curo dessa e de outras fobias. Ela parecia uma folhinha. Frágil. Parecia burra também. Não parecia ter fome o que me deixou perplexa porque os bichos, como nós, caçam o dia inteiro. Não precisava alimentar a esperança? Procurei seus olhos. Meu Deus a esperança é cega…

Desisti de matá-la, pois isso poderia ser metafórico demais e eu sou ligada em poesia. Expulsar do quarto tão igual. Ora por que diabos a esperança é um inseto? Não poderia ser um filhote de urso panda? Um flor cheirosa? Dormir com a esperança? Jamais. Ela, para mim, é tão nauseante como uma barata. E se ela andar por cima de mim quando durmo? E se ela me colocar ovos na cabeça?

Abri toda a janela e também a porta. Liguei o ventilador de teto. Nada da esperança ir embora… Enquanto isso consultei na internet a foto do inseto que me acompanhava. Qual o quê…

Tratava-se de um louva deus.

Com um kamehameha cuja energia foi materializada em forma de havaiana, tentei me livrar daquele pesadelo o quanto antes.

Na mosca.

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