Precisa-se…

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Estava andando pela cidade aqui que estou a conhecer. Lindinha por sinal. Mas vi muita placa escrito “precisa-se”… Precisa-se de jardineiro, precisa-se de cozinheiro, precisa-se de camareira… isso me desestabilizou (se é que em algum momento meu eixo foi equilibrado). E se eu andasse também com uma placa precisa-se? Será que adiantaria? O que colocaria na placa? Acho melhor criar um anúncio, pensei, explicando bem do que ando precisada…

Precisa-se de alguém que me ajude a ficar feliz porque ando tão feliz que não aguento mais essa alegria toda sozinha e tenho necessidade de repartir esse sentimento. Pago bem. Pois pago com a própria felicidade. Precisa-se dessa pessoa para ontem. Tenho urgências antes que tudo se transforme em drama em pleno carnaval. Tarde demais. Ok . Apenas precisa-se. Sem data certa… Mas antes que essa alegria solitária fique patética.

Precisa-se de alguém a quem pertencer. E adianto que o trabalho é bom mas é complicado, pois, a fome de me dar de presente para alguém é tanta que fiquei extremamente arisca. Preciso mas repudio. Tenho medo de revelar o quão pobre eu sou e o quanto preciso. Por isso fujo ou me escondo. Precisa-se de alguém que entenda de paradoxos.

Já sei que temos que nos bastar e ficarmos bem sozinhos. Adianto: fico ótima sempre. A cabeça ferve o tempo todo. Precisa-se, portanto, de alguém que goste de brincar de pensar mas, que a noite, freie meus pensamentos e acelere o meu fluxo sanguíneo.

Não é questão de fraqueza esse anúncio. Em matéria de forças, já provei a mim mesma que consigo carregar toneladas e toneladas de flores. E é dessa força que vem a vontade de pertencer. Cansei de possuir uma força inútil.

Já pertenci a alguém? Já. E aproveitei a oportunidade como Viviane Araújo nesse carnaval. Experimentei tudo até a última purpurina. Mas a passarela acaba, o desfile termina. Quisera eu poder sambar eternamente… portanto, precisa-se de alguém que fabrique confetes e serpentinas para além do carnaval…

A sensação que posso passar com essa placa pendurada no pescoço é que procuro alguém às cegas e que estou desesperada… Ledo engano. Isso se deve porque insisto em procurar frases que exprimam profundamente o que sentimos. Teimo em tentar traduzir por palavras esse mundo impalpável e ininteligível. Precisa-se de alguém, então, que entenda que eu tenho muitos sentimentos e ideias e que, além de gastar energia explicando-os, padeço muito mais concebendo-os. Por exemplo, que nome dar a essa necessidade de pedir licença para existir? Ou… como chamar aquilo que sentimos quando a saudade não acaba ao vermos a pessoa? O que é isso que me faz querer urgentemente uma unificação inteira que faz a presença do outro ser muito pouco para matar uma necessidade?

Precisa-se de alguém paciente. Pode ser sem experiência porque o meu amor é tanto que perdoa tudo. Menos querer me inutilizar.

Darei folga. Muita folga. Mas sempre depois de passar o horror de uma sexta a noite que dilacera. Idem com as tardes de domingo…

Há nesse anúncio sério uma festa de sambista em forma de espírito para dar. É que alegria verdadeira é assim mesmo. Não tem a menor possibilidade de ser compreendida e lembra muito uma perdição sem fundo.

Precisa-se ser encontrada.

Um comentário em “Precisa-se…

  1. Minha querida, como sempre é tão bom ler o que você escreve, seja para rir muito, seja para refletir sobre uma placa de “precisa-se”. Todos deveríamos ter uma placa dessa no pescoço, simbólica que fosse, apenas para poder identificar do que realmente precisamos. Bjs

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