Buraco da Lacraia

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Ontem eu fui no Buraco da Lacraia, uma das boates gays mais tradicionais do Rio de Janeiro. Há 25 anos, a casa existe e há 4 temos o show “Cabaré on Ice” que eu não consigo definir com palavras o que é exatamente aquilo. Sei que já vi essa mesma apresentação umas 5 vezes e pretendo ver outras tantas… Depois do espetáculo, tem o famoso videokê onde as bichas arrasam. Adoro. Amo. E, de brinde, antes do Cabaré on Ice, tem Simone Mazzer, uma das maiores cantoras do Brasil dado seu tamanho e seu talento. Simone Mazzer já começa a acumular alguns prêmios importantes na Música Brasileira. Enfim, coisa boa em um lugar autêntico. O Buraco é apertado e pequeno mas super aconchegante.

Isso posto, gostaria de compartilhar um momento que vivi ontem ali. Após o show do Cabaré, Luis Lobianco (o que também está no Porta dos Fundos e integra o Cabaré) se dirigiu ao público mais ou menos com essas palavras:

– Hoje é um dia muito triste. Há uma semana, em um lugar exatamente como esse, 50 pessoas que estavam se divertindo como nós, morreram assassinadas. Eu trouxe a lista dos nomes de todos eles que tiveram suas alegrias estancadas de forma tão violenta. Enquanto eu leio esses nomes, peço para que todos pensem sobre o mundo que estamos vivendo e o que podemos fazer para melhorá-lo. O ódio venceu o amor neste dia, mas não podemos deixar que isso aconteça sem refletirmos sobre o momento atual. Então, lerei nome por nome enquanto pensamos juntos.

E assim começou a ler uma lista enorme. Silêncio sepulcral. Literalmente. Um clima sem definição tomou conta do lugar. Afinal, ficamos juntos quase duas horas chorando de rir com o show que havíamos acabado de ver e, de repente, uma pontada de dor a cada nome lido. Muitos começaram a chorar em silêncio. Empatia nível espírito-transcendental. Para finalizar, ele leu mais nomes de gays que morreram assassinados nesta semana aqui no Brasil. Pesado. Triste.

Climão.

O elenco inteiro, após o término da leitura, pegou um saco bem cheio e, aos gritos que o amor há de vencer tanto ódio, eles fizeram uma chuva de pétalas de rosas e purpurina em todos que ali estavam. Foram muitos abraços e beijos de várias espécies acontecendo ao mesmo tempo numa harmonia linda de se ver. Eu agarrei um viado maravilhoso de tão doce que me abraçou forte e me permitiu ficar um tempo naquele abraço.

Nara, minha filha, chorava rios e ganhou muito carinho dos gays, das sapatas, das bis, dos héteros e das héteras que estavam ao lado dela.

Bobos, idiotas, imbecis são todos os que falam mal de um ambiente como esse onde não há o menor indício de maldade no ar. Só amor mesmo. De qualquer jeito. De todas as formas. Porque assim tem que ser.

E há de ser…

Um comentário em “Buraco da Lacraia

  1. Elika, não tinha visto este texto no Face. É isso aí, estamos todos no mesmo barco, ou no mesmo planeta perdido neste universo louco. Todos, gays, heteros, pretos, brancos, jovens, velhos, todos. Bj

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