Ontem fomos todos para um sarau e voltamos tarde. Tipo dez, onze horas da noite. Yuki, meu caçula de 9 anos, sempre junto. Já no carro a caminho de casa, ele mete essa:
– Vou ter que ir à escola amanhã?
– Ué. Claro. Por que não iria? – perguntei conhecendo meu eleitorado.
– Porque estamos chegando em casa muito tarde e eu vou acordar muito cansado.
Abre parêntese.
Yuki acorda cedo desde que nasceu. Não importa a hora que vai dormir e se vai passar o dia inteiro chato ranhetando de sono. O horário dele é sempre entre cinco e seis. Muito raro eu precisar de despertador para tirá-lo da cama. Finais de semana são sempre o ó. Eu quero dormir e ele quer fazer coisinhas tipo andar de skate no parque antes mesmo das sete.
Fecha parêntese.
– Mas se você acorda cedo de qualquer jeito, qual a diferença de ir para a escola ou ficar em casa olhando para o teto? – questionei.
– Pode ser que eu precise descansar muito. Você não está considerando isso, mãe? – rebateu ele com o tom de quem está na iminência de ser torturado.
– Sempre considero, Yuki, só que nunca acontece… Façamos o seguinte: você dorme e acorda a hora que o olho abrir. Sem pressão. Se não der para entrar no primeiro tempo, a gente entra no segundo. – falei com mó carinho e boa vontade.
– Mãe, eu nunca cheguei atrasado em nada em toda a minha vida! Você quer quebrar isso agora??? Foi você que sempre me ensinou isso! – Aff. Yuki jogando pesado. A minha sorte é que eu sou mais inteligente que ele.
– Yuki, sejamos claros, você está me enrolando. Chegar para o segundo tempo não deixa ninguém esperando e não prejudica ninguém. Deixa disso. Para que tá feio. Se você acordar a tempo de irmos para o segundo tempo, a gente vai.- expliquei cheia de paciência.
– Que horas começa o segundo tempo? – voltou ele depois de trinta segundos refletindo.
– Sei lá. Acho que oito. – chutei.
– Qual o limite que você dá para eu acordar e não ir à escola?
– Yuki, você quer saber a partir de qual hora eu não te levo mais porque não dá tempo nem de chegar para o segundo tempo? – eu já não estava acreditando…
– Isso. Justamente. – respondeu ele sério.
– Você sabe que há o terceiro tempo, não? – joguei. Os alunos só podem chegar até o segundo tempo.
– Mas aí não faz sentido a gente se mobilizar todo para eu assistir só metade das aulas. – droga. Ele estava coberto de razão.
– Ok. O limite é 7:45. Em 15 minutos dá tempo da gente tomar café e sair. Você pode descansar bastante e ainda estudar pelo resto da manhã.
– Mas e se eu não acordar? Seria muito pedir para você me deixar descansar?
– Ok. Acho que uma vez na vida não faz mal a ninguém. Mas duvido. Nunca dantes na história da humanidade você acordou depois das sete.
E mais ou menos assim foi a nossa conversa ontem antes de dormirmos.
São mais de oito horas. Acabei de ir até o quarto dele e ele está dormindo profundamente. Mas gente… Isso nunca aconteceu! Que poder tem o consciente sobre o inconsciente, não?
No próximo fim de semana, vou mentir dizendo que a escola colocou aula extra sábado e domingo. De matemática ainda por cima! E que começa às nove!!!
Mas se estiver cansado, pode ficar em casa dormindo…