Questão de Postura

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Como já disse em outros textos, eu circulo pelo Rio de Janeiro do Oiapoque ao Chuí. Moro em Madureira, mas frequento os mais diversos tipos de ambientes da Cidade Maravilhosa. Vai da vontade do dia. Posso sair de uma sessão de um cinema mega cult em Botafogo direto para uma sessão espírita em Cavalcante (para quem não sabe, Cavalcante é um bairro inexplicável no subúrbio do Rio). Subo o Pão de Açúcar a pé e volto de BRT para casa. Adoro o Buraco da Lacraia. Sou dessas.

Observo coisas por onde ando e a Zona Sul do Rio também é o meu lugar. Portanto, trago orientações de como fazer bonito e ser enturmado rapidamente por alguns grupos bem típicos dessa região.

A despeito de muitos andarem com sapatinhos, bolsas e camisas de marca em lançamentos de livro nas bibliotecas do Leblon, se você disser que está indo para Miami comprar roupas, alguns irão te olhar como se você fosse leitor de Paulo Coelho. Melhor dizer que está indo para o centro histórico de Bérgamo, uma cidade na Itália, ver umas roupas artesanais em uma feirinha de coisas usadas que ocorre sempre na Primavera. Vão te adorar de cara e dizer que a feirinha é ótima – ainda que você não faça ideia de qual região do seu cérebro você tirou aquilo. Não faltarão dicas de brechós onde você possa ir por aqueles lados.

Se quiser que te aceitem, jamais revele que fez uma excursão na Europa pela CVC. Será discriminado como são aqueles que sabem todas a coreografias das músicas de axé. Para ser bem tratado como os que adoram queijo muito mofado, tente dizer que pensa em voltar a Europa para fazer o Brit Movie Tours. Mas se prepare porque vai chover de gente falando de outras caminhadas cults com temas de arquitetura, artes de rua, espionagem e outros motes que você nem sonha que exista.

Faça como eu. Divirta-se com essa trupe. Nunca perco a oportunidade de sondar se eles foram ver a exposição permanente do Pierre Choinier em Paris. Adoro fazer essa pergunta porque sempre tem mais de um dizendo que sim. Pierre Choinier, para quem não sabe, é um grande artista renascentista francês inventado por mim na década de 80 em uma apresentação da escola quando o professor pediu para eu citar o nome de um pintor famoso e contar um pouco sobre ele em um trabalho oral. Ganhei 10 e, desde então, aprendi a blefar com maestria.

De vez em quando, esqueço e dou uma rateada. Confesso empolgada, sem querer, que fui passar Lua de Mel em Cancun. Jamais, eu disse jamais, façam isso quando estiver no meio dessa tribo específica porque eles vão achar que você mora na Barra. Nada contra a Barra, diga-se de passagem. Puro preconceito mesmo dessa gente. Se foi a Cancun, diga calmamente que foi para um lugar onde pode ver as antigas civilizações maias, astecas e toltecas, que esteve no Complexo de las Monjas e que a astronomia, a geometria, a matemática, a engenharia e as artes plásticas dos Maias são de cair o cu da bunda. Não. Perdão! Jamais fale assim. Fale que Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Alejandro González Iñárritu fariam a festa com aquele cenário. Pronto. Verás orgasmos múltiplos e serás invejado por ser burguesia-cultural-nível-hard. Vão te achar hiper cool. Depois me conta.

Se souber se comportar direitinho, você tem o mundo em suas mãos. Por exemplo, sempre que chego aqui na minha vila em Madureira e encontro meu vizinho lavando o carro na calçada, dou um berro:

– Fala, corno! Teu time, hein! Vou te contar!

Ele sempre me mostra o dedo do meio e depois me joga um beijo. Não faço ideia para quem ele torce e o campeonato que esteja rolando…

É o que eu digo sempre, tudo é questão de postura, gente.

 

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