
– Mãe, como é possível a perna se mexer? É a veia que é a responsável por isso? Não me diga que é o cérebro, aquela massa cinzenta toda embolorada que faz isso? E se for, como, mãe? Me explica? Eu te dou um tempo para você consultar o gúgol, tá? Te espero. A historinha que você vai contar pra mim hoje é essa: “Como a perna se mexe.”
Consultei gúgol, estudei anatomia, nervos e músculos para debater com Yuki como sempre fazemos em cima de um tema ou de um livro. João e Maria, Os três porquinhos, Patinho Feio, diário de um Banana, a saga do MineCraft, Menino Maluquinho… pelo visto, eles são bem menos encantadores do que a própria natureza quando esta se revela para os olhos atentos de uma criança.
Pior que descambou para o campo da metafísica. Nem os cientistas mais estudados no campo da neurociência e da cognição corpórea chegaram a um acordo ou a uma conclusão de como isso se dá… Se você pensou que a resposta fosse enzimas ou sinapses, você não entendeu o nível de profundidade da pergunta da criança.
Yuki quer saber de onde surgem os pensamentos e como algo imaterial age na matéria.
Comecei o dia contando uma historinha aqui para o meu pequenininho segurando um atlas anatômico, duas teses de doutorado, um livro de um filósofo francês que fala sobre mente e corpo e um gibi da Mônica.
A moral da história é a mesma de tantas outras que já contei para ele: mesmo que não se tenha resposta para uma dada pergunta, quando ela é feita a ponto de nos fazer pensar sobre algo que nunca nos parou, aumentamos por demais o nosso entendimento sobre a natureza.
Conhecer é saber o tamanho da nossa ignorância.
– Ok, mãe. Vou pensar em outra então para ver mais fumaça saindo da sua cabeça.
E assim vamos esclarecendo as coisas por aqui vendo tudo muito mais confuso…
– Tá bom, meu filho, mas leia um pouco de gibi agora para eu preparar nosso café.