Yuki, o Flash e a Física Moderna

flash

– Mãe, me responde essa que minha cabeça está dando um nó. – veio Yuki, meu caçula. – se o Flash correr na velocidade da luz e passar em frente a um espelho… a imagem dele no espelho vai aparecer depois ou não vai aparecer nada?

Caraca. Quase infartei de tanto orgulho. Essa foi uma das perguntas que Einstein se fez quando começou a pensar sobre a velocidade da luz!!! Claro que Einstein não mencionou o Flash e nem Yuki chegou à Teoria da Relatividade. Pouco importa.

– Well, meu filho, pensemos no seguint…

Antes de eu começar a responder essa, ele continuou

– Se o Flash correr com a velocidade da luz de cabeça para baixo no teto o que aconteceria?

– Ele cairia oras. A gravidade puxaria ele para baixo. – disse eu subestimando a cria.

– Mãe, você está me dizendo que a força da gravidade é mais rápida que a luz?! – questionou ele completamente livre das amarras de Newton.

– Estou dizendo que ela é instantânea e a luz não. – respondi eu completamente apegada à física clássica.

– Não faz sentido isso, mãe! A Terra precisa de um tempo para comunicar ao Flash essa força! Não faz sentido ser instantânea! Todo corpo precisa de um tempo para se comunicar com outro! Para mim, o Flash consegue correr de cabeça para baixo porque a velocidade dele é maior do que a que a Terra leva para falar para ele que ele tem que cair…

Meodeos… Yuki com uma das maiores questões da física moderna aqui por causa do Flash.

Estamos discutindo agora como ocorrem forças à distância e a possibilidade delas acontecerem e a necessidade de um meio para estabelecer essa comunicação entre dois corpos de massas.

Yuki está alucinado. Uma graça!

A conversa está tão boa que acho que em 2017 teremos mais um livro de Física Moderna para crianças (“Isaac no Mundo das Partículas” ainda não foi publicado).

Benditos sejam os super heróis e os questionamentos infantis.

Você. Mulher guerreila.

chi-jap

Acabo de rever pela milionésima vez o vídeo épico de Neil DeGrasse Tyson em que ele responde a um homem na platéia à pergunta: onde estão as mulheres na ciência? Neil, depois de algumas palavras que mostraram a força do racismo, disse que antes de falarmos em diferença genética, temos que discutir como seria uma sociedade cujas oportunidades fossem iguais.

O vídeo me emocionou. Enquanto via Neil proferindo verdades, lembrava-me do que me fez fazer uma faculdade de Física. Visitei o baú de minha memória. Ali encontrei minha imagem trabalhando como mecânico de carros, motorista de ônibus, diplomata… e tive que concordar com meu ex-marido, hoje melhor amigo, que eu sempre estive à frente do meu tempo. Eu queria fazer algo que quase mulher nenhuma faria por pré-conceito para mostrar que conseguimos. Mas não basta querer. Há de resistir todas as pancadas do mundo que vierem. Com vontade. E, se possível, com humor. Não é nada fácil…

Acabou que a Física me encantou. Poder conhecer melhor a natureza e seus mistérios foi mais cativante do que consertar carros, embora, ainda hoje, sonhe em entender dos paranauês das rebimbocas das parafusetas.

Se eu estava procurando marido, foi uma pergunta que ouvi muito dentro da Faculdade. Afinal, havia poucos cromossomos XX estudando ali. Assédio de professor para passar com mais facilidade perdi as contas de quantas vezes sofri.

Mexendo daqui, cutucando dali, encontrei no baú algo que achei interessante contar.

Não sou negra, mas sofri uma espécie de racismo de um professor chinês, que extremamente aborrecido com o que os meus ancestrais fizeram com os dele, disse que eu merecia fazer prova final para aprender a não me meter mais com chinês. Meu colega que havia feito a mesma avaliação que eu e errado as mesmas questões tirou uma nota maior e foi aprovado. Ao questionar o tio ting ling, vi ódio saindo de seus olhos.

– Ele pode passar. Você japonês não. Plova final pla aplender! – falou ele apontando o dedo para meu naliz.

Cheguei em casa. Fui direto perguntar ao meu pai que diabos o Japão havia feito para a China porque meu professor chinês queria que eu pagasse, fazendo uma prova de Mecânica Quântica, as injustiças da japonesada.

Qual o quê…

Meu pai ficou super blavo também. Contou-me outla histólia e falou para eu meter a cara nos estudos e tirar dez na prova para mostrar o quão os japoneses são capazes.

Estudei que nem um asiático.

Fiz a prova.

Fiquei reprovada.

Deixei de lado aquela guerra toda entre eles. Permiti que o Exu da brasilidade se incorporasse e fui até a sala do professor chorando.

Disse para aquele sábio chinês que não tinha nada a ver com o que fizeram antes de eu nascer. Que era para ele aplicar a prova final de Mecânica Quântica para quem merecia. Eu não! Eu como pastel, ajudo a movimentar a economia, compro produto falsificado direto vindo da China, uso incenso todo dia e jamais sequer vi o Monte Fuji. Vale lembrar o que Einstein disse, professor: triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. Pelamor de Confúcio, Lao-Tsé e Zuang-Zi, raspe esse seu coração peludo e reconsidere as questões que errei.

– Eu tenho um sonho, professor. – finalizei – O sonho de ver meus filhos julgados por sua capacidade de entender Física Quântica e não pela cor de sua pele. – alucinei nos Martin Luther King.

O professor me olhou perplexo.

Entendeu que eu não sou japonesa nem aqui nem na China porque os meus ancestrais têm outro estilo de luta bem diferente daquele voltado para o diálogo estridente onde um fala e o outro se assusta.

Bufou e disse:

– Você mulher guerreila.

Respilou fundo e mudou a nota da oooutra prova e fui aprovada.

É óbvio que não contei essa história querendo comparar esse episódio aos sofridos diariamente pelos negros ou querendo, com isso, dizer que entendo o que eles passam. Apenas me vi aqui com essas recordações e mais com aquelas de outros tantos leões que tive que matar para conseguir meu diploma e reflito, cá comigo, sobre a questão colocada por Neil. Como seria uma sociedade se as oportunidades fossem iguais para todos?

Por um mundo menos injusto onde, dentre tantas outras coisas a serem corrigidas com urgência, só os que, de fato, merecem façam prova final de Mecânica Quântica.

Queria eu poder beber…

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Queria eu poder beber. Não tenho aldolase, a enzima que metaboliza o álcool e o resultado de uma pequena dose para mim pode ser fatal. Qualquer outra solução é muito demorada para uma dor dessas mundanas, passageiras, mas que incomodam como o diabo e que uma cachaça resolveria rápido como uma neosaldina para dor de cabeça.

Psicanálise é caro, não tenho saco para ficar falando de infância durante anos na tentativa de tentar entender algo que, por essência, não tem, a meu ver, explicação: a nossa mente. E ainda que isso seja possível, não ocorra da forma que descrevi e fosse de graça, o resultado demora. Quem tem dor tem pressa. Ikebana não tenho paciência. Ioga requer dedicação, dança de salão dá preguiça. Não sei fazer tricô. Quebra cabeça me dá nos nervos. Enfim, quando os pensamentos estão te levando para o inferno e a solidão te espreita, que ao menos eu pudesse abrir uma garrafa de vinho ou de caninha da roça para fazer coisas que me arrependeria depois – mas que me aliviaria no presente que é o que nos mata. Eu quero a paz dos embriagados. Ah que falta uma cachaça me faz…

Fico aqui só sonhando… Eu perdida na quinta dimensão etílica, ligar praquele cachorro e dizer que ele é um imbecil, falar mal de tudo que é jeito do pênis dele, dizer que é brocha, é torto, tem pentelho, é feio, sem graça e que nem sinto saudades de nada. Eu disse nada! Que a vida… a vida é uma coisa que nem te conto e que aqui se faz aqui se leva, Deus ensina certo por linhas mortas, que saudade de c* é rola… Vai sonhando que sinto falta. Ahahahaaaa. Enfim, dizer essas coisas com palavrão sem asterisco que só os bêbados dizem e só embriagada proferiria.

Depois, dormiria o sono dos deuses, como uma criança inocente e os ébrios merecem. Ah que falta uma cachaça me faz…

Falando em infância, quisera eu beber quando tinha oito anos de idade quando descobri que não tinha padrinhos. Como lidar com esse fato se não enchendo a cara? Com treze anos, repeti a oitava série. Todos os amigos bagunceiros que me levaram à reprovação passaram. Qual seria a melhor forma de encarar aquela notícia? E quando o Balão Mágico se desfez, TV Colosso acabou e a nova atriz de Narizinho não me agradou e mudou a configuração do Menudo? Olho para trás e fico pensando como sobrevivi a tudo isso de cara limpa só na base de groselha e toddynho.

Que nas cantinas das escolas vendessem vodka e eu pudesse colocar o cotovelo no balcão e pedir mais uma. Como teria sido mais fácil lidar com as aulas de matemática e com o resultado das notas baixas. Já pensou chegar em casa gargalhando e jogar na mesa aquele dois em química, pedir para minha mãe autografar a prova com a consciência hiper leve ao invés de ficar pensando nas consequências de falsificar a assinatura do responsável? Ah que falta uma cachaça me faz…

Não tendo onde afogar minhas mágoas, pois, meu copo nunca pode encher e o mar sempre está longe, de cara limpa, abro o Word e escrevo: queria eu poder beber…

O Cachorro do Daniel

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Nara, minha filha meiga e fofa, dormiu hoje na casa de seu namoradinho, o Daniel. Estava eu no meio de um texto sobre o golpe quando ela me liga:

– Mãe, você não sabe o que aconteceu.

Falar isso para uma mãe no telefone é sadismo nível hard.

– O QUE FOI QUE TE ACONTECEU, NARA SUA LOKA?

– Minha calcinha sumiu ontem a noite. A cachorra do Daniel…

– A cachorra ou o cachorro do Daniel?- interrompi sabiamente porque sou dessas mega atentas.

– A cachorra, mãe. Mãe, me ouve. Calma. A cachorra do Daniel pegou a minha calcinha. – explicou ela calmamente e depois riu histericamente.

– Por que você não estava com ela? Como uma cachorra arranca assim a calcinha de uma pessoa? Confessa com sua boca que foi o cachorro do Danie… – perguntei eu espertamente porque sou dessas super ligadas.

– Mãe, eu estou com calcinha! Ela pegou a outra que trouxe para hoje. – esclareceu minha filha super limpinha.

– Então é só procurar pela casa.- concluí de forma competente porque sou dessas giga aguçada.

– O problema é que o pai do Daniel está aqui e ela podia aparecer em qualquer lugar da casa. – falou Nara baixinho e depois riu de lá que eu ouvi daqui sem precisar nem de celular.

– Nara, isso está parecendo aquela história de aluno que não trouxe o trabalho pronto porque disse que o cachorro comeu… Confessa com sua boca que foi o cachorro do Daniel.- desconfiei eu de forma super apurada porque sou dessas tera sabida.

– Mãe, ouve. Daí o Daniel teve que avisar para o pai. Olha que constrangimento… – contou-me Nara gargalhando de um jeito estranho.

– Nara, saia já daí e nunca mais volte, minha filha, vai por mim. – orientei inteligentemente porque sou dessas que mando na lata o melhor a ser feito.

– Mãe, eu acho que elas fizeram cabo de guerra com a minha calcinha. São duas cachorras e elas são muito agitadas. A calcinha apareceu hoje de manhã toda esgarçada. – rinchavelhava Nara sua loka.

– Onde?

– No sofá da sala…

– Nossaaaa que lugar estranho para uma cachorra deixar uma calcinha. Se eu fosse a cachorra, eu ia largar a calcinha no quintal nooooossa como vocês estão criativos… Confessa com sua boca que foi o cachorro do Dani… – ironizei afiadamente porque sou dessas quilo maquiavélicas.

– Mãe, você acha que eu ia ligar para você para mentir? – sondou Nara nossa relação.

É. Jamais. No mais, se tem uma coisa que ensinei para meus filhos é não deixar rastros. Só não contava mesmo com essa da cachorra do Daniel.

– O pai dele viu? – falei baixinho como se estivesse ao lado dela.

– Não. Imagina se visse. Tô te ligando porque não consigo parar de rir de nervoso imaginando a cena… Vou fazer um grupo fechado no whats para contar essa história. Já já volto para casa.

– Eu também quero contar no meu grupo fechado formado por mim e alguns seguidores no Facebook.

– Ok. Só não me marca para o pai do Daniel não ler.

– Tudo bem. É tudo gente boa. Vão entender a situação. Manda um beijo pro Daniel. Fala que estou com saudades.

– Beijo, mãe!

– Beijo, Nara!

Enfim, galera, não há Parque de Diversão que se equipare com o que tenho aqui com meus filhos… essa postagem é um convite para vocês brincarem com a gente na roda gigante.

O Movimento Feminista é excludente? Ou foi você que não entendeu nada?

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Quem aqui já ouviu homens reclamando que o movimento feminista é excludente? É meio cansativo lidar com isso, mas é necessário repetir que o homem que queira fazer parte do movimento de alguma forma deve antes compreender a ideia do protagonismo feminino dentro de todo o contexto.

Não preciso explicar por quê o feminismo surge. Isso parece que está claro. Mas ainda assim não custa repetir que esse movimento só começou pela necessidade das mulheres de serem protagonistas de suas vidas (o que até pouco tempo atrás isso beirava um sonho de tão distante que nos parecia. Para quem não sabe, até 1900 e sessenta e blá as mulheres quando casavam se tornavam juridicamente incapazes).

Um dos objetivos do movimento é empoderar as mulheres dando a elas voz e confiança para reivindicar direitos, além de espaço para debaterem sobre assuntos que lidam diretamente com o sofrimento que passam por… serem mulheres.

Isso não implica que homem não possa participar. A questão é que muitos querem fazer parte da luta feminista da maneira que ELES acham melhor e agindo dessa forma o protagonismo, conquistado a duras penas, pode, fatalmente, nos ser roubado.

Se o homem se diz a favor das pautas feministas, que ele aja e atue, no seu referencial privilegiado, em prol delas nos espaços nos quais circula, no bar, nas ruas, no trabalho ajudando, de fato, na criação de uma nova cultura onde a desigualdade de direitos assim como o preconceito sejam considerados abomináveis.

Se houver um clube da Luluzinha onde homens são proibidos de entrar ou falar, saibam que nesses lugares discutimos sobre abusos que vocês não têm noção que sofremos. Há uma quantidade enorme de mulheres que jamais falaram sobre isso porque, vejam bem, são julgadas quando são até mesmo estupradas. E isso é muito diferente de uma exclusão, percebem?

Estar entre mulheres e ouvir somente vozes femininas nesses debates nos ajudam a proferir palavras sem medo e criar mais segurança. É o famoso e necessário empoderamento. Precisamos nos sentir confiantes e, friso, aprender que podemos nos expressar. Isso ainda é muito difícil para muitas de nós que tivemos uma educação castradora e vivemos em uma sociedade machista. Então, quando uma de nós mais segura fala, outras começam a se inspirar.

Se um homem nos tira esses importantíssimos minutos que sejam, pode resultar, naquele ambiente, em menos mulheres empoderadas. O que seria um desserviço e não uma ajuda à causa.

“Mas eu não posso me manifestar?”, diriam alguns homens com mega boa vontade. A resposta é: claro que sim! Mas entre vocês e jamais tirando esse momento que nos foi brutalmente roubado ao longo de uma história plena de mortes de tantas companheiras.

Saibam, homens de bem que queiram falar, que se pratica o feminismo em todos os lugares e não somente em mesas redondas e auditórios. Basta você não deixar passar nenhum discurso machista, misógino, preconceituoso quando o presenciar.

Você pode atuar, mas sem querer roubar algo que já nos foi tão subtraído: o exercício de se manifestar. O que para você não é nada demais, para nós, isso significa ter vencido uma guerra.

Chegue, pode se aproximar, mas respeite a dor das sobreviventes.

Amigo Oculto no Congresso

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Rolou amigo oculto (ou secreto, vá lá) no Congresso.

– O meu amigo oculto está na lista da Odebrecht. – Disse Dilma sorrindo de forma festeira.

Todos caíram na gargalhada e pediram mais dicas.

– Ele fez uma obra estimada em R$ 500 milhões mas que custou aos cofres públicos R$ 2,3 bilhões. – continuou.

Silêncio. Todos se olhavam ainda sem saber quem era.

– Ok. Ele desviou R$7,6 bilhões da saúde quando foi governador…

– Opa! Foi governador! – gritou Carlo Caiado animado.

– Ele está como mineirinho na lista da Odebrecht! – arrematou Dilma.

Aécio se levanta sorrindo. Pega o presente. Dá um abraço em Dilma e começa:

– O meu amigo oculto, no seu primeiro mandato… – iniciou Aécio.

Todos já olharam para Lula sorrindo.

– … no seu primeiro mandato, houve denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia.

Silêncio. Não era Lula…

Aécio prosseguiu:

– A sua reeleição custou caro ao país. Gravações revelaram que deputados ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto e ele resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI. E a PF diz que ele recebeu R$ 975 mil da Odebrecht!

– Fernando Henrique! – gritou Roberto Freire.

FHC se levantou todo sorridente no meio de aplausos, trocou abraços com Aécio e começou:

– O meu amigo secreto está envolvido no Escândalo Banestado! – falou seguro de que ninguém ia acertar quando ele mencionasse o escândalo em que se apurou como 124 bilhões de dólares foram lavados no exterior.

Dito e feito. Então, Fernando Hernrique completou:

– No Banestado, estavam envolvidos grandes empresas como a Globo e políticos expressivos, mas no seu grande primeiro caso nas mãos, meu amigo secreto jogou pesado com laranjas, prendendo apenas chinelões!

Muitos começaram a cochichar.

– É político?! – perguntou Serra.

– É tipo isso… Vou ajudar: Ele nunca julgou casos relacionados ao PSDB! – entregou FHC.

– É o Moro!!!! – falaram vários rindo alto.

Moro se levanta, troca abraços com FHC e inicia:

– Meu amigo oculto, de todos os presidenciáveis, foi ele que teve mais processos!

Lula e Dilma caíram na gargalhada. Muitos ainda não sabiam quem era. Moro então detalhou:

– Meu amigo secreto recebeu R$ 23 milhões via caixa dois, conforme afirmou a Odebrecht!

– É o Serra! – matou Bolsonaro certeiro.

E assim continuou a brincadeira por mais alguns minutos onde foram lembrados áudios, fotos, festas, escândalos, desvios, nomes de empreiteiras… até que chegamos ao último que adivinharam quando se falou em “vice decorativo”.

Temer, então, começou:

– Meu amigo oculto já recebeu uma carta minha onde falei da minha lealdade: “Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal”, assim escrevi.

Aí geral não se aguentou.

O barulho das risadas foi ouvido por toda cidade.

 

Mendigando Felicidade

mendigo

Hoje saímos todos para brindar a formatura do Hideo. Local? Lapa porque combina com festa. Andando pelas ruas, fomos parados por um mendigo:

– Vocês poderiam me dar um dinheiro para eu comprar cachaça?

Olhamos uns para os outros meio perplexos. A sinceridade assusta quando vem sem dentes e mal cheirosa. Ele esclareceu:

– Não é para remédio e nem para passagem. Eu quero é beber cachaça e estou sem um puto no bolso. Pode ser moeda, qualquer coisa, me ajuda a tomar uma cachacinha?

Enquanto estávamos, cada um ao seu modo, pensando se íamos dar nosso suado trocado que jazia no fundo do bolso de nossas calças jeans, apareceu um segundo mendigo:

– Nós moramos em Teresópolis e…

– Eu já contei para eles. – interrompeu o Cachaça. – Nós moramos na rua, na calçada. Não tem nada de Teresópolis, Petrópolis… nóis quer é beber!

Um mendigo olhou para o outro. Riram alto e se abraçaram.

Diante daquela cena, por um reflexo desses bem refratados, começamos a catar nossas moedas. Mas nada timidamente não. Estávamos mexendo nos bolsos com vontade como aqueles que vão pagar um sorvete para um criança.

Demos mais do que nos foi pedido.

Olhei os dois indo embora felizes e conversando alto. Coisa linda viu.

– Vai que isso é uma tática deles e ele tenha um filho doente precisando de remédio… – disse um de nós ainda meio atordoado sem acreditar.

– Puxa vida. Tava tão bonito… Será que aqueles dois safados estavam nos enganando?

Creio que não. Estou pensando aqui e lembrando-me dos poucos dentes a amostra antes de dormir.

A verdade assim como a amizade são coisas que têm nos escapado tanto que ao nos depararmos com elas caminhando lado a lado, jogamos confetes imaginários e todas as nossas moedas de tanta satisfação.

Fé em Deus. Era pra cachaça.

Ponto para a poesia.