Queria eu poder beber…

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Queria eu poder beber. Não tenho aldolase, a enzima que metaboliza o álcool e o resultado de uma pequena dose para mim pode ser fatal. Qualquer outra solução é muito demorada para uma dor dessas mundanas, passageiras, mas que incomodam como o diabo e que uma cachaça resolveria rápido como uma neosaldina para dor de cabeça.

Psicanálise é caro, não tenho saco para ficar falando de infância durante anos na tentativa de tentar entender algo que, por essência, não tem, a meu ver, explicação: a nossa mente. E ainda que isso seja possível, não ocorra da forma que descrevi e fosse de graça, o resultado demora. Quem tem dor tem pressa. Ikebana não tenho paciência. Ioga requer dedicação, dança de salão dá preguiça. Não sei fazer tricô. Quebra cabeça me dá nos nervos. Enfim, quando os pensamentos estão te levando para o inferno e a solidão te espreita, que ao menos eu pudesse abrir uma garrafa de vinho ou de caninha da roça para fazer coisas que me arrependeria depois – mas que me aliviaria no presente que é o que nos mata. Eu quero a paz dos embriagados. Ah que falta uma cachaça me faz…

Fico aqui só sonhando… Eu perdida na quinta dimensão etílica, ligar praquele cachorro e dizer que ele é um imbecil, falar mal de tudo que é jeito do pênis dele, dizer que é brocha, é torto, tem pentelho, é feio, sem graça e que nem sinto saudades de nada. Eu disse nada! Que a vida… a vida é uma coisa que nem te conto e que aqui se faz aqui se leva, Deus ensina certo por linhas mortas, que saudade de c* é rola… Vai sonhando que sinto falta. Ahahahaaaa. Enfim, dizer essas coisas com palavrão sem asterisco que só os bêbados dizem e só embriagada proferiria.

Depois, dormiria o sono dos deuses, como uma criança inocente e os ébrios merecem. Ah que falta uma cachaça me faz…

Falando em infância, quisera eu beber quando tinha oito anos de idade quando descobri que não tinha padrinhos. Como lidar com esse fato se não enchendo a cara? Com treze anos, repeti a oitava série. Todos os amigos bagunceiros que me levaram à reprovação passaram. Qual seria a melhor forma de encarar aquela notícia? E quando o Balão Mágico se desfez, TV Colosso acabou e a nova atriz de Narizinho não me agradou e mudou a configuração do Menudo? Olho para trás e fico pensando como sobrevivi a tudo isso de cara limpa só na base de groselha e toddynho.

Que nas cantinas das escolas vendessem vodka e eu pudesse colocar o cotovelo no balcão e pedir mais uma. Como teria sido mais fácil lidar com as aulas de matemática e com o resultado das notas baixas. Já pensou chegar em casa gargalhando e jogar na mesa aquele dois em química, pedir para minha mãe autografar a prova com a consciência hiper leve ao invés de ficar pensando nas consequências de falsificar a assinatura do responsável? Ah que falta uma cachaça me faz…

Não tendo onde afogar minhas mágoas, pois, meu copo nunca pode encher e o mar sempre está longe, de cara limpa, abro o Word e escrevo: queria eu poder beber…

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