Moana. Um filme necessário.

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Ontem, eu, mulher de mais de 40 anos, que fui educada para casar virgem, que fui mãe solteira com 20 anos e fui chamada de puta por muitos da própria família, que tive que lidar com o sofrimento de minha mãe por acreditar que mais nenhum homem iria querer se casar comigo porque eu era uma “mulher usada”, que ouvi várias vezes de minha ex-sogra que deveria parar de estudar se não iria perder meu marido, que fui escrava de um modelo de felicidade que só seria possível com a vinda de um príncipe, que passei minha infância assistindo N vezes desenhos de princesas que eram presenteadas por fadas com a beleza e, quando desobedeciam, eram castigadas até serem salvas por um homem rico e bonito e que, até hoje, a despeito de minha independência financeira, sinto-me insegura em vários momentos da minha vida sendo provedora de uma casa com três filhos e, não raro, caio em desespero de tanto medo do mundo, eu, essa mulher tão comum, vi ontem Moana no cinema, o novo desenho da Disney.

Entrei sem saber o que me esperava na tela. Fui para me divertir com Yuki, Nara e Hideo. Mal o filme começou, fiquei na expectativa do príncipe aparecer. Metade do desenho e nada de macho representando a força e/ou o objetivo da protagonista. Cochichei com a Nara:

– Cadê o príncipe? Tem príncipe nessa bodega não?
– SHHHHHHH. – Nara, que estava assistindo pela terceira vez, fez para mim. – Apenas veja, mãe loka.

Continuei com os olhos arregalados e os óculos na fuça para ver tudo em 3D.

Há um parceiro de aventura, mas nada de ela fazer charme para ele. Moana segue seu foco que é de salvar sua ilha e seu povo da destruição. A jovem polinésia de Motu Nui não está preocupada com casamentos.

Quando me dei conta, entrei em choque e em choro convulsivo.

Moana se basta.

Impressionante…

E ainda. Moana questiona tudo que lhe foi ensinado, procura descobrir quem realmente é e se orgulha do que encontra nessa busca.

Quando terminou o filme, Nara me perguntou:

– E então, o que achou, mãe?

– Altamente necessário. Para todas essas menininhas que estão aqui, mas para as mulheres de minha idade que viram tanto aquela burra da Branca de Neve que só acorda com o beijo de um homem, aquela lerda da Cinderela que só sai daquela vida quando um homem lhe calça um sapato, aquela frágil da Bela Adormecida que não podia fazer nada se não quebrava e só acorda pra vida depois que tem contato com homem, aquela aquela e aquela… aquele inferno todo que vivi! – respondi.

Respondi em prantos sob emoção esquecendo por completo da sororidade. Chorava não pelo desenho em si, mas por viver e conviver com tanto sofrimento desnecessário por conta dessa cultura que nos aprisiona e por ter acabado de ver Moana.

Moana.

A princesa sem príncipe, leve e solta, toda empoderada e feminista por natureza como todos somos ao nascer, até que…

Enfim, gente, amei Moana.

3 comentários em “Moana. Um filme necessário.

  1. Pois vi Moana e não gostei, justamente porque em minha opinião o filme apertou calculadamente todos os botões para cavar emoções como as que você descreveu. Para mim, não havia emoção ou sinceridade ali, apenas o objetivo (e a necessidade?) de apelar a um certo público-alvo. (Além das musiquinhas… Bleargh!)

    Para mim, o animador feminista por excelência é mesmo Hayao Miyazaki – seus filmes são cheios de personagens femininas fortes. Em Nausicaa, Kiki, Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro e Ponyo são as mulheres que fazem as coisas irem para a frente. Essas estórias – principalmente Nausicaa (de 1984!) e Princesa Mononoke (de 1996!) – empoderaram a mulher e o feminino muito antes da Disney sequer imaginar fazer isso.

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  2. Pois eu também adorei Moana. Também fui assistir com minha filha, sem esperar muito e adorei a personagem. Disse pra minha filha: ” é meu filme preferido da Disney, porque ela consegue fazer o que deseja, sozinha”. Não tem ajuda?, Vou tentar, e conseguir! Pensa na Ariel, que larga sua família e seu mundo, por conta de um homem que ela viu de relance e nem conhece… Que coisa surreal!
    A viagem de Chihiro eu não assisti, mas Ponyo, sinceramente não passa nenhuma decisão pra mim. Não consigo ver empoderamento. É um filme difícil!!
    E se a Disney demorou para colocar a mulher em um lugar menos passivo, mas colocou, ainda vejo mérito!

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