Aponta-dor

jacare

– Yuki, não vou comprar mais mochila de super herói, de carrinho, turma da Mônica não.Você já está bem grandinho no auge de seus dez anos e não preciso mais pagar uma fortuna para que você tenha uma mochila decorada. Você já é um rapazinho, ok? – disse eu super firme.

– Ué, eu nunca pedi para você comprar nada. Você que sempre me perguntou que tema eu queria e eu dizia. Mas nunca fiz questão de nada de estampa não. – respondeu ele giga consciente.

– Mas e se outros amiguinhos chegarem lá com mochilas super estilizadas? Você não vai ficar triste com uma toda preta e sem graça? – falei eu hiper balançada.

– Mãe, eu sou um rapaizinho já. Não vou me importar com isso. – explicou ele como se tivesse trinta anos.

Não gostei daquele tom. Afinal, ele deveria estar esperneando como uma criança. De onde surgiu aquela calma toda?

Como uma mãe normal, com aquele papo, perdi a bússola, saí do eixo, respirei fundo virada para Meca, dei umas voltas imitando chinês para pensar melhor e mandei:

– Nada disso. Você é meu bebê e eu vou comprar mochila do Cebolinha com merendeira combinando porque você é uma criança! Está me entendendo? Criançona. Bebezão. Meu bebezão. Esquece isso de rapaizinho. Você só tem dez anos cacete. Vai ter mochila de homem aranha sim.

– Ok. Faça o que você achar melhor. – manteve ele aquela maturidade irritante. E continuou. – Eu não vou me sentir mal por causa de uma mochila. Fala sério.

Saí para comprar o material escolar dele completamente desnorteada com aquela conversa. Como assim ele não fez uma birra danada? A verdade é que nunca fez mesmo, mas como assim tanta frieza com uma notícia daquelas de que o tempo voou e que meu caçulinha já virou gente grande? Como ele lida com essa transformação repentina, com a ideia de que a vida é um sopro e que a gente não pode nem piscar que tudo muda? Só falta agora querer cortar o bife sozinho…

Comprei tudo sem tema infantil porque sou dessas. Mega segura de minhas decisões.

Ao entrar em casa, totalmente desatenta e ainda sem entender nada com mó medo de encontrar Yuki e ele virar para mim e me dizer que vai ali sair com os amigos e que não tem hora para voltar, pisei em um carrinho esquecido no chão da sala e, logo depois, tive que pular um skate. Acho que nunca fiquei tão feliz em tropeçar na infância.

Percebi que a bagunça que eles fazem na minha casa é o que organiza a minha vida.

– Mãe, que apontador de jacaré é esse?

Ah gente…

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