Correndo atrás da auto-estima

correr

Fui correr hoje no Parque Madureira como sempre faço. Estava eu quase na metade dos meus 5 km quando passou por mim um mulher maior do que eu (o que não é difícil), fortona, negra e toda durinha. Ela corria com aquele corpo que não tremia e aquela pele brilhando ressaltando aquele tônus muscular que, meodeos, como invejei.

Bah, pensei. Eu aqui lutando contra essas manchas de sol em minha pele frágil, gastando horrores com ácidos e protetores, tendo que colocar aquelas blusinhas elásticas que apertam e amassam meus peitos porque as muxibas pulam alegremente quando se vêem com um mínimo de liberdade… e ela toda empoderada nesse corpo abençoado com essas pernas enormes que duas das minhas varetas não dão uma delas.

Lá ia ela com aquele cabelo trançado ouvindo música e nem isso posso mais fazer por conta da minha deficiência auditiva que piora muito se eu ficar usando fones de ouvido.

Corria eu com ela se distanciando na minha frente. Olhei para os meus braços e eles tremiam cada vez que colocava um pé no chão. Mirava o braço da preta e ela lá. Parecendo uma estátua em movimento.

Lá pelas tantas ela parou de correr e começou a andar. Eu continuei meu trote. Passei lentamente por ela observando tudo de novo. Completei a metade do caminho e dei meia volta.

Eu voltava correndo e, agora, ela vinha em minha direção andando.

Quando chegamos perto pela terceira vez, ela falou:

– Vai voltar correndo, japonesa?!

– Sim. Corro 5 km sempre sem me importar em quanto tempo faço. – parei para responder.

– Menina, tava aqui pensando como você consegue. Eu não tenho fôlego para isso não! – e riu com aqueles dentes maravilhosos.

– Mas você estava correndo super bem! Voando lindamente! – exclamei com vontade.

– Aquele tico que você viu, minha flor. Guento correr muito não. Joelho dói. Nem andar muito estou conseguindo mais.

– Eita, mas você pode fazer um fortalecimento. Eu, por exemplo…

E seguiu-se daí um conversa profunda de uns dez minutos. Despedi-me dela com um sorriso sincero e um abraço suado dizendo que da próxima vez que nos encontrarmos iria cobrar dela a promessa de se cuidar melhor. Pedi o número dela, pois se tratava de uma advogada arretada pelo pouco que ouvi e certamente vou precisar de uma com aquela garra.

– Valeu, flor! Tu arrasa! – ouvi quando já corria longe a despeito de minha dificuldade em escutar sem fazer a leitura labial.

O resto da minha corrida fiz não mais me sentindo um saco de purê de batata e sim uma mulher em liberdade. Percebi que julguei a outra por mim mesma – como sempre ocorre com qualquer julgamento. Absolvi Andreia complacentemente de vários defeitos e fragilidades e neguei com severidade minhas qualidades por vários minutos que se estenderiam por horas e dias caso ela não interviesse na nossa história e nos meus devaneios.

Continuei a correr no meu ritmo e com meus músculos balançantes. Eu. Toda cheia de limites a serem superados.

O primeiro sendo a auto-estima.

3 comentários em “Correndo atrás da auto-estima

  1. O julgamento é sempre cruel… O nosso ou do próximo sempre fará mal de alguma forma. Minha meta atualmente é simplesmente seguir… Correndo ou andando, mas aproveitando os encontros e parando para ler seus textos sensacionais.

    Curtido por 1 pessoa

  2. Com certeza a vida ee uma caixinha de surpresas, q sao reveladas, muitas vezes, sob a obra do acaso. Estar na vida ja ee uma dadiva a ser aproveitada…Gostei muito do seu texto!

    Curtido por 1 pessoa

Participe! Comente você também!