Babá de branco. Argh!

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Comentei que acho um absurdo levar a babá vestida de branco no shopping e em outros lugares como na praia, por exemplo, e recebi uma crítica daquelas.

– Médico também se veste de branco, há vários outros empregados que usam uniforme…

– Jura que você acha a mesma coisa? Penso que funcionários de empresas utilizam uniformes como forma de identificação e para promover a empresa. Babás usam uniforme para mostrar quem é a serviçal e dar status para a mandame. Me lembra muito aquelas mucamas. Ainda mais que em grande parte as babás são negras e a patroinha é branca… mas posso estar delirando…

– Ah está sim. É um emprego como qualquer outro.

– Jura que você acha isso? Não vejo ninguém sonhando em ser empregada doméstica… Não acho que não seja digno, acho que é muito resquício de escravidão isso sim. No Japão, por exemplo, esse “trabalho digno” quase não existe.

– Vejo muitas babás bem felizes e até elogiando o tratamento que os patrões lhes dão.

– Ah sim. Normal isso. Mas vale observar que o passarinho canta e agradece a quem lhe dá comida na gaiola porque não conhece a mata… Muitas pessoas de baixa renda sequer entendem as condições em que vivem. Acham que é natural ser pobre e ser explorado e que a vida é assim mesmo.

– Mas não é assim mesmo?

– Não. Pode ser tudo diferente. Mas posso estar delirando…

3 comentários em “Babá de branco. Argh!

  1. Erika querida, concordo em parte quando vejo as babas de branco no meu clube… mas nem todas são escravizadas…a pessoa que trabalha comigo um dia por semana há 20 anos é, uma grande amiga não é explorada e gosta muito do seu trabalho ( e crescemos juntas nesta relação)aqui e na outra casa onde trabalha ganha bem legal, tem outros benefícios não previstos em lei e é amada, aqui e ali e ama aqui e ali… e está no mercado de trabalho diante de milhares de desempregados neste momento…e deve haver babas de branco na mesma situação… e outra não de branco, a exemplo do que vejo no NE que realmente ainda são escravas…tempos delicados, teus escritos são tão abertos…o branco das babás, todas exploradas, pode fechar, não achas?
    Grande abraço

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  2. Não é o resquício da escravidão, mas a própria, ainda viva e latente. E as pessoas vão reclamar toda vez que você escrever sobre isso. Por que a parte que explora quer mater o privilégio de explorar, quer manter suas mucamas e fazem questão de que fique bem claro que são mucamas! A situção das babás e domésticas no Brasil é vergonhosa. Servindo aos reis e rainhas, que não podem servir-se de um copo d’água sozinhos. Trabalhando do café da manhã ao jantar, folgando, quando muito, uma vez por semana. Muitas vezes, amando filhos que não são seus, o que ajuda a mantê-las no cabresto.
    A quem diz que é uma profissão digna, eu digo que poderia ser sim.
    Sem uniforme, com horário e funções definidas, direitos pagos e respeito, poderia ser. Mas limpar, cozinhar, servir, lavar, passar, cuidar de criança, fazer mercado, 50 horas por semana? Nem o dobro do salário base paga. E a maioria está longe de ganhar o dobro.
    Ah, comer na mesa com seus senhores também não pode.
    Nem conversar demais com a visita.
    Empregados domésticos, na maioria das vezes, são coisas para os patrões. Mesmo quando “bem tratados”, são bem tratados como um eletrodoméstico, não como uma pessoa.

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  3. Parabéns pela reflexão!
    A escravidão e a servidão habita a mente de muitas, muitas pessoas.
    No Brasil mal falamos sobre a escravidão dos negros. Agora mesmo, essa matéria foi “corrida” do currículo escolar. E por um filho de libaneses…
    E assim, uma elite racista e entreguista nos escraviza em seu atraso civilizatório. Escrava é que das ideias, trejeitos e outras bestagens de outras plagas…

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