
Yuki está com uma ferida no cotovelo que inflamou. Ontem fiz um curativo muito bem feito e hoje já estava com bem menos pus e vermelhidão.
Na hora que ele foi vestir o uniforme, começou a reclamar muito de dor. Quando colocou o tênis disse que estava ficando insuportável. Entendi tudo…
– Yuki, vou te fazer umas perguntas porque preciso analisar bem o que você está sentindo. Só me responda sim ou não com a cabeça. Não se preocupe com o meu julgamento. Farei de tudo para aliviar a sua dor, mas preciso entendê-la, ok?
– Ok. – respondeu ele com lágrimas nos olhos.
– A dor parece piorar conforme chega a hora de eu te levar para escola?
Sim com a cabeça.
– Ok. E dói quando você pensa em jogar videogame?
Não com a cabeça.
– Ok. Dói muito quando você abre o livro de matemática?
– Hoje não tem aula de matemática, mãe.
– Ok. Desculpa. Dói, então, quando você abre o livro de geografia?
Sim forte com a cabeça.
– Mas quando abre um gibi não dói nada, confere?
Sim concordando ausência de dor lendo Cebolinha.
– Dói quando tem que copiar algo no caderno?
– Dor insuportável, mãe.
– Mas se tiver que desenhar livremente seus bonecos malucos não dói.
– Justamente.
Enfim, dei o meu diagnóstico para aquela inflação.
– Filho, não temos como, ainda, sair desse sistema. Precisamos dele. Mas pode contar comigo. Entendo a sua dor. Vou tentar aliviá-la sempre. Se hoje você sentir que não vai aguentá-la, eu irei te buscar. Combinado?
– Tá, mãe…
No caminho, ele estava bem cabisbaixo. Comecei a puxar assunto sobre os cards do Pokemon e ele mudou a fisionomia. Coloquei o CD dos Melhores do Mundo. Ele aumentou o som na música “Nada é de brinquedo quando alienígenas ameaçam nossas jujubas”. Cantamos alto.
Ao nos despedirmos, ouvi:
– Já quase não dói mais. Obrigado, mãe.
Mais um dia curando a dor com empatia e poesia…
Seu modo de viver e partilhar é das mais belas poesias que tenho a alegria de não apenas ler, mas de me sentir plenamente invadida pela certeza de que o mundo pode sim ser melhor, que minhas atitudes influenciam de forma concreta no resultado de tudo e todos que me cercam. Como isso é legal!!
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Cada vez que leio seus textos sou surpreendido com sua ternura e humanidade. Grato pela educadora e educação que nos revela!
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Emoção pura!Poesia pura!Obrigada
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Elika,quero ter e ser essa mãe .voce arrasa.
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Quero muito poder me espelhar nesse seu método educacional.. às vezes sinto que estou falhando com os meus… 😦
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