Não sou machista, mas…

Obra feita pelo artista Sérgio Ricciuto.

Percebo que há no mundo uma quantidade imensa de homens que não se dizem machistas mas que consomem muita pornografia. Eu, mulher, desde que me conheço por gente me sinto péssima ao assistir cenas em que percebo qualquer tipo de coerção e observar a figura feminina como submissa ou, pior, curtindo aquele tratamento que considero cruel e humilhante não foge à regra.

Capitalismo está aí para surfar em qualquer onda até mesmo as mais radicais em violência. Lucra-se muito com a desgraça alheia. O mercado da indústria pornográfica ilustra bem isso. As práticas vão se diversificando para atender aos animais que esperam babando, cuspindo, excrementando. Dois homens já não dão mais frisson. Cinco, dez, vinte ok. E ainda que seja um homem para uma mulher, não raro o homem é visto violentando, ofendendo, assediando a mulher e tudo isso é passado, ensinado e recebido como algo natural da sexualidade masculina. 

Não preciso mencionar a quantidade de meninos que são introduzidos ao tema por esse viés pornográfico. Não é difícil concluir que os casos de estupro, abusos sexuais e mulheres insatisfeitas sexualmente com seus parceiros (que se dizem não machistas) tem muito a ver com isso. Muitas de nós cedem aos pedidos de seus companheiros para lhes agradar e acabam vivendo fetiches que não são seus.

O ponto é que o universo pornográfico mostra, por exemplo, homens batendo com o pênis na cara da mulher, gozando em seu rosto, metendo o pau em sua boca com força enquanto puxa o seu cabelo e a mulher  (atriz, vale lembrar) sentindo prazer com tudo isso. No mundo real, há mulheres que, de fato, gostam muito dessa modalidade, chamemos assim, sexual. Mas, vale frisar, outras tantas odeiam. Não é  regra sentir prazer ao ser  tratada como se fosse um ralo entupido. Também não é pecado sentir prazer com tudo isso, ok?

Eu que dentre tantas bandeiras levanto também a da liberdade sexual fico pensando sobre essas coisas vez ou outra. Suspeito que sexo e a sexualidade são algo socialmente construídos. Não sei se teria as mesmas travas e as mesmas taras (atualmente, por uma só pessoa) se nascesse hoje, por exemplo, e não há quarenta e quatro anos. Não sei. Por isso, fico entre a cruz e a espada querendo que a indústria pornográfica junto com a farmacêutica (que mais lucram nesse planeta) vão para o inferno. 

Mas depois, fico refletindo se a pornografia não pode ser usada de forma política pelas mulheres e, pesquisando, já vi que há luz até mesmo no breu do inferno. Pornografia pode ter um outro conceito além do registro audiovisual do estupro.

Mulheres já estão assumindo esse mercado e hoje temos filmes dirigidos por elas em que o prazer do macho é alcançado sem que ele bata, humilhe e xingue suas parceira. Ou seja, o macho goza lindamente em um ser humano que tem sentimentos e não se parece com uma menina de doze anos (mais essa, como a pornografia alimenta a pedofilia meodeos…).

Enfim, tudo isso para dizer que ando observando muitos homens que dizem não ser machistas mas que se deleitam ao ver cenas de estupros gravados como mostra grande parte dos filmes pornográficos. 

Sei que é difícil se desvencilhar de preconceitos e conceitos estruturais em nossa sociedade. Mas, chamo, agora, vocês para pensarem sobre o tema e ver se querem mesmo continuar alimentando esse mercado já que se dizem tão simpáticos às causas feministas.

5 comentários em “Não sou machista, mas…

  1. Concordo com você que a maioria dos homens aprendeu pela mídia e pela sociedade, em geral, a associar violência com masculinidade e, pelo mesmo caminho, com sexualidade, mas tenho esperança que isso esteja mudando🌹Bjos 🌹

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  2. Elika querida, complementando sua reflexão segue o link de um texto que aborda não só a ligação pornografia/ abuso como também fala de pedofilia e da “educação sexual” que as crianças estão recebendo com o fácil acesso a pornografia. beijo
    Ver no Medium.com

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