Noite de Lua

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Aconteceu de novo. Eu e Yuki, meu caçula de dez anos, indo para a escola. Tive a ideia de fazer um vídeo com ele de uma música mega maneira que aprendi com Os Cabinha lá no nordeste. Seria assim: Yuki na bateria e eu cantando.

Comecei a cantarolar para ele aprender a belíssima canção quando estávamos na porta da escola:

– ♪♩ Um dia, noite de lua! Abri a porta e fui cagar na rua! A bosta endureceu! Passou um carro e furou o pneu! ♪♩

– Mãe, vamos precisar arrumar um metrônomo para você. – observou ele tecnicamente e frio que só.

– Ôxi, meu filho. E desde quando preciso de alguém me dando o ritmo?! – assustei-me.

– Mãe, a gente precisa andar no mesmo compasso. – explicou ele calmamente.

– Vixi. Quem te ensinou isso? Não fui eu! Com quem você tem andado?

– Com meu professor de bateria.

– Pois diga a ele que filho meu toca no ritmo do coração. Se a música empolgar e a gente resolver acelerar, a gente vai acelerar sim senhor e a música vai ficar bem mais emocionante!

– Mãe, vai ficar uma merda. – falou ele didaticamente.

– Yuki, meu filho. Prestenção na sua mãe. Metrônomo para baterista é camisa de força para passarinho! Toque no ritmo que mandar a sua emoção. Entendeu, meu filho?

– Mãe, imagina só. Só imagina: eu tocando numa banda. Daí, eu me empolgo e o resto da banda fica no mesmo ritmo. Vai ficar horrível!

– E quem disse? Você está descartando a possibilidade da banda se empolgar com você e todos acelerarem ou diminuírem o passo. Vou cantar para você ver como podemos nos empolgar no final dessa belíssima canção. Ouça, Yuki: “♪♩Levaram à prefeitura! Examinaram a bosta dura! ME LEVARAM PARA O XADREZ E SE DUVIDAR EU CAGO OUTRA VEZ! ♪♩”. Viu só?

– Mãe, você manteve o ritmo. Só cantou mais alto, percebeu? E depois eu toco no máximo a 110.

– 110 volts? Pois eu só vivo ligada a 220, meu filho.

– BPM, né mãe. É bateria.

– Tô ligada, Yuki. Mas não estou falando em acelerar somente. Podemos diminuir também. O importante é não seguir o ritmo imposto por essa sociedade opressora e fazer o que o coração ditar.

– Mãe, meodeos, mãe, me ouve pelo menos uma vez na vida! Imagina Bili dim do Michael Jackson sendo tocado sem ritmo. Qual o problema de seguir um pouco as regras? Só um pouco? Por que isso é tão difícil para você? Deixa eu colocar um metrônomo para nos ajudar a fazer um vídeo decente?

– Não sei onde eu errei na educação que te dei, Yuki. Você não querendo ser feliz, me colocando freios… unghf.

– Nem eu. Mas eu sei que não vou errar na que eu te dou. Vamos fazer do meu jeito. Hideo na guitarra. Nara no teclado te ajudando a cantar porque você está péssima e eu na bateria fazendo o back vocal.

– Ok ok… mas e se a gente se empolgar com essa música maneira da porra? Vou jogar o metrônomo longe. Tô avisando. Quero voar. Me deixa voar, Yuki! Que saco essa marcação cerrada viu…

– Mãe, me beija que já tá na hora eu eu tenho que entrar.

– Quero te contar outra coisa. Péra.

– Quando eu voltar, mãe. A inspetora tá chamando.

– Como você aguenta tudo isso de cabeça baixa? Chega atrasado uma vez e diga lá que estava aprendendo uma bela canção com sua mãe!

– Mãe, me beija. Hoje o primeiro tempo é educação física e eu não vou chegar atrasado.

– Vai sem beijo.

– Não consigo. Me beija daquele seu jeito para eu ir bem.

Enchi minha criança de beijinhos. Fiz meu ritual de sempre: amassei ele todinho. Dei uma forte mordida na ponta do nariz e apertei bem as bochechas. Depois descabelei meu filhote fazendo um cafuné alucinante a 110 hertz.

Ele sempre entra em sala de aula todo vermelho dando tchau feliz para mim.

Como dá trabalho educar essas crianças viu…

6 comentários em “Noite de Lua

  1. Elika,lindo seu relacionamento com o yuki.essa música meu pai cantava qdo éramos crianças há muitas decadas atras .a letra é meio diferente,eu até achava que era invenção dele,mas achei no Google : sonhei com a imagem tua………..

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