Apologia ou denúncia?

Com tudo o que aconteceu sobre o episódio-exposição-Santander, além de ter ouvido pérolas que o “banco Santander virou marxista”, “não gostei portanto isso não é arte”, “esquerdistas apoiam pedofilia” e coisas afins, o que me chocou mais foi ver o incômodo causado por um “quadro” de um homem fazendo sexo com um animal e a conclusão de que aquilo era apologia à zoofilia.

Não sou de julgar ninguém, mas achei de uma falta de coerência extrema e, por que não confessar?, uma burrice sem tamanho (Se registrar artisticamente um crime é apologia ao mesmo o que essa gente vai fazer com os livros de literatura?).

Não tardou para ser chamada de insensível com os bichos. Logo eu, vegetariana tentando virar vegana.

No mais, só provocando, se o bicho tivesse sido desenhado morto em cima de um recipiente com uma maçã na boca cercado de batatas coradas não haveria a mesma comoção pelo animal em questão que possivelmente sofreu horrores durante a vida (e na hora da morte) como tantos são os bichos que são torturados e vão para o vosso prato.

Voltando ao foco de minha postagem:

Verbalizei o que senti em um tweet: “Fala que quadro mostrando a zoofilia é crime mas nunca se manifestou contra obras retratando a escravidão. Estamos de olho.”

Ora, se retratar bicho sofrendo abuso é apologia ao crime por que as obras com os negros sendo torturados não causaram a mesma comoção? Que lógica é essa que só se aplica ao animal?

Qual foi a minha surpresa hoje ao ver o quadro completo! O que havia nele? Negros sendo tratados da mesma forma que o bicho! O que foi recortado para falaram que a exposição não prestava? E se a exposição fosse só de negros, e de mulheres negras e brancas sendo abusadas? Será que seria também proibida? Ou viraria produto pornográfico como tantos outros?

Em tempo, apologia ao crime é isso que vocês todos andam fazendo: a famosa indignação seletiva. E fiquem com essa verdade: proibir exposição porque se sentiu ofendido flerta com o fascismo. Não vai assistir, fale mal, mas censurar exposição artística jamais.

Abram os olhos e pensem antes que a fogueira de livros seja acesa porque montada ela já está.

8 comentários em “Apologia ou denúncia?

  1. Eu já estou quase acreditando que o mundo vai acabar dia 23 próximo. Como você disse muito bem, a fogueira já está montada. O fascismo está alastrando como um rastilho de pólvora. É preciso reagir para ontem. Abraços linda amiga!!

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  2. Republicou isso em Blog de Alice Branco Wefforte comentado:
    A Elika, uma vez mais, tem razão, pois: “proibir exposição porque se sentiu ofendido flerta com o fascismo. Não vai assistir, fale mal, mas censurar exposição artística jamais”.
    Ela citou o “rebu” sobre o quadro abaixo – bom, particularmente eu acho feio que dói mas, enfim… – e eu desgostei de outras coisas de lá (mas, de algumas outras até que achei bonitas).
    Afinal, o que é arte? A arte pode tudo? A arte pode nos escrachar (como seres humanos já somos bem escrachados, eu acho), nos ofender, nos torturar? Não, eu acho que a arte pode e deve nos chocar, emocionar, fazer pensar.
    Eu não gostei, não levaria minha neta a ver essa exposição (claro, ela é pequena ainda e a temática é, ou deveria ser, para maiores de idade – variável e cada qual na sua escolha).
    Também não gostei pois, essa exposição foi caracterizada como sendo LGBT (e não é só isso, com toda a certeza). Ou seja, foi diminuído seu propósito.
    Agora, veja bem, ninguém é obrigado a gostar da arte que a mim me agrada. Gosto não se discute e, como bem disse a Elika, fica a reflexão de se a proposta da exposição seria a de FAZER APOLOGIA ou DENUNCIAR.

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