Primavera-me, Pipo

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O amor que sinto parece que veio para que se saiba que se existe. Neste estado, não há nada de tranquilo, nem mesmo a felicidade que irradia de mim quando interajo com ele. É tudo tão tão…

 

É um estado de lucidez plena. Apenas isso: sei que é certo e sempre soube no primeiro contato. Não é racional, portanto, não pergunte por quê. De um modo infantil, eu sei muito.

 

O corpo se transforma em uma potência. Uma bomba-relógio cujos ponteiros têm seu tempo próprio. Aceleram quando o sinto de um jeito ou de outro e adormecem quando vejo as costas dele se distanciando.

 

É uma dádiva irrefreável de partir-se e juntar-se corporalmente – mas, percebam, não somente materialmente porque bem sabemos que para o corpo ter vontades há de se ter algo que chamam de espírito.

 

Neste estado, vejo somente beleza nele. Contudo, não se trata de cegueira pois enxergo seus defeitos que irradiam em uma frequência que, surpreendentemente, não me incomodam.

 

Passo a sentir tudo o que existe para Pipo. A sua verdade é palpável para mim.

 

Nem de longe se iguala a paixão em Cristo ou a paixão em termos filosóficos. Esse estado jamais entendi e nem tenho vontade de aprender sobre isso.

 

O que me angustia e me importuna é o fato de tudo agora ser indizível e tenho o hábito, a persistência e a teimosia de tentar escrever a respeito. Se não rabisco, pego-me amuada, quieta, silenciosa ou acordando por algum sonho confuso.

 

É como um despertar mesmo. Um renascer. Porque antes, compreendo agora, claramente estava morta.

 

Deus sabe o que faz, como dizem. No que pese minha ateinidade, sei que viver assim a vida toda não é possível. Perderia a capacidade de me comunicar de vez. Viraria uma poeta moribunda, uma dançarina que soubesse dar piruetas ou uma pintora que trabalha simultaneamente com as duas mãos. Tudo isso pelo desespero de me fazer entender.

 

A distância de mais de mil quilômetros entre nós não exala nenhum resplendor de energia. Não tem nada de bom nela como não há na fome do mundo.

 

A saudade me coloca numa pobreza que implora por chuva de tanto que os dias são áridos e desérticos. Desconfio de tanto sofrimento e dessa sede intolerável. E questiono-me, então, se o visse todo dia isso não seria demasiado arriscado pois poderia me acostumar com a felicidade.

 

E quando estou feliz ao lado de Pipo sou um ser deprimente. Não me interesso pelas notícias, pela Amazônia, pelos que não podem estudar, pelas medidas provisórias desse governo ilegítimo. Viro um ser egoísta passível de ser desamada.

 

Tudo por ter a vida fazendo sentido e a delícia de experimentar a unicidade de dois. Viveria em contemplação como os drogados. E todos aqui sabem que as drogas representam uma fuga da nossa humanidade já que somos feitos de sofrimento, angústia, dor e pequenas alegrias que permite-nos uma grande dose de altruísmo que me foge quando olho para Pipo.

 

Inútil tentar exorcizar essas hipérboles. Estou superlativa espontaneamente. Não sai. Não vai embora. Não adianta. 

 

As portas estão todas abertas. Mas esse amor não me escapa. Estranho tudo isso. Nunca estive tão animada com a chegada da primavera.


14 comentários em “Primavera-me, Pipo

  1. A unicidade de dois é um estado metafísico quase perfeito, só não o é porque o seu perfeito é mesmo a manifestação resultante. Daí toda a magia do número três, numeral sagrado nas Escolas iniciáticas de Filisofia e Misticismo.

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  2. Foi a poesia de alma mais linda que vi! Vcs se merecem… De alma de corpo de encarnação… O Ricardo é magnífico e VC? AHHH É LOJA SOU TUA FÃ… queria ter tido coragem pra falar com VC na peça DO RJ (vivo Rio) mas tremi kkkkk Sejam feliz… Ele merece vc merece…. Até me emocionei…. Lindos.. ❤️😍🙏

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      1. Fiquei do seu lado te olhando com os olhinhos brilhando, igual criança quando olha um urso gigante e quer abraçar… Rs… SIM!
        Pq pra mim.. VC é gigante! Mulher incrível… (podia aceitar meu convite de amizade no face… 😔) rs ❤️😘

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    1. Ahh que delícia de texto! Participo deste maravilhoso sentimento com meu amado! Eu sabia, eu sabia que você tinha um amor pleno como eu…porque você escreve lindo! Gostaria de ter este dom! Adoro tudo que você escreve! Grande abraço e sejam muito felizes!

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      1. Descobri que Violeta é uma flor tóxica, que me reduz aos níveis descritos pela Elika…

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  3. Elika, não sei o que acontece, nessa sua crônica, e em tantas outras, eu não consigo terminar direito de ler porque vai ficando tudo turvo. Devo ter limpado a tela do notebook com água de cebola, só pode.

    Aí eu saio na janela e fico olhando pro céu, que nem besta. Mesmo em dias nublados, porque já não tô enxergando nada mesmo.

    Beijo. Obrigado por (mais) essa emoção.

    (Cara de sorte, esse Pipo!)

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