Bodas de ouro

wp-image-808934510

A primeira vez que coloquei Pipo para dormir ao meu lado na minha cama na minha casa com meus três filhos foi um pouco depois de nos conhecermos.

Após abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, disse-lhe olhando em seus olhos que me fitavam atentos:

– Vou te falar uma coisa. Você pode voltar quando quiser. E não precisa avisar. Esse lugar aí é seu.

Certamente ele poderia pensar que eu era uma dessas mulheres que está desesperada procurando um macho para chamar de seu.

Não era nada disso.

Não que a loucura seja escassa em minha essência, mas de homem não estava carente. Digo, de homem de uma forma geral porque, a partir do momento que o conheci, se não o visse, sentia a ausência insuportável de Pipo e somente dele.

Não estava me importando com o que ele pensaria a meu respeito. Nunca me preocupei com o julgamento alheio. O que priorizo é a pessoa com a qual estou lidando saber exatamente o que estou sentindo.

Ele poderia se levantar e ir embora naquele instante. Mas me disse:

– E você pode sair com quem quiser e isso em nada vai mudar a vontade que sinto de estar ao seu lado.

Ainda que considere que a melhor prisão que há seja essa quando desfrutamos da liberdade, preferiria que, naquele momento, ele me pedisse para eu ser somente dele. Paradoxos de quem foi empoderada na fase adulta mas viu muito filme da Disney na infância.

Mantendo a sinceridade e a coerência, comuniquei-lhe que não sairia com mais ninguém porque algo intenso havia acontecido em mim e que precisaria alguns anos para digerir. Com qualquer um que me deitasse eu só iria lamentar por não ser ele. Não seria justo com nenhum dos envolvidos.

Reza a lenda e diz o povo que não devemos entregar o jogo fácil para que recebamos o devido valor. Meu maior medo não era perder Pipo e sim não ser vista por ele por inteiro.

Moramos a mais de mil quilômetros de distância e, mesmo que quisesse, não conseguiria vigiá-lo. Incrivelmente, não estou preocupada com o que ele vai fazer da vida dele. A única coisa que peço é que Pipo me conte o que sente por mim e me atualize – preferencialmente de cinco em cinco minutos.

Não sinto ciúmes a despeito de tanto amor. No que pese essa saudade infinita, não tenho a menor necessidade de controlar nada dentro dele.

Percebo que não há o que eu sinto e o que Pipo sente. Há o que nós sentimos. Se eu deixar de ser a prioridade dele, Pipo não mais será quem ele é hoje para mim.

É muito estranho lidar com algo que já nasceu do tamanho de um dinossauro. Não houve flerte, não houve namoro, não houve dúvidas. Pelo que estou entendendo, já começamos numa grande festa comemorando nossas bodas de ouro.

Haja estrutura física e emocional para carregar esse espelho.

 

8 comentários em “Bodas de ouro

  1. Essas conexões são raras, aproveite e viva esse amor com a intensidade que só uma mulher madura e apaixonada sabe, no mais…Seja feliz!
    Em tempo, parabéns pela Bodas!

    Curtido por 1 pessoa

  2. O melhor da vida são encontros como este. Às vezes duram só algum tempo, mas alimentam nossa alma pra sempre. Curtam muito!!!

    Curtir

  3. A primeira vez que entrei em contato com o que você escreve tive a certeza de ter encontrado vida na internet. E quando você escreve sobre seus amores, seus filho(a)s e como vê a vida ao seu redor me sinto como sendo … um confidente seu. Íntimo. Sensação boa. Abs.

    Curtido por 1 pessoa

Participe! Comente você também!