A Escola ensina a não ler

screenshot_20171104-150323684675755.jpg

Leio compulsivamente desde que me entendo por gente. Sou viciada em literatura. Esta é a arte que mais consumo e que, de longe, mais me transforma. Não é por acaso que tenho rodado o Brasil com essa bandeira em punho: leiam literatura.

Por um pouco, a escola não cometeu comigo o crime que assassina e enterra para sempre inúmeros potenciais leitores: aprender a ter o desprazer de ler. Se ela não conseguiu me atingir foi porque me recusei – rebelde que sempre fui – a ler todos os livros que fui obrigada.

Fazia o que hoje vejo os professores horrorizados reclamando dos alunos: pegava o resumo – não na internet porque lá naquele tempo não existia – com o colega que havia lido. Enrolava nas respostas com ajuda de meus parcos neurônios e conseguia acertar a maioria das questões.

O lado bom: jamais falei que Machado de Assis é chato como ouvi de muitos colegas na época. Idem com Graciliano Ramos, Jorge Amado e até mesmo Fernando Sabino. Nunca reclamei deles porque quando os peguei no colo foi porque quis e estava espiritualmente preparada para recebê-los.

Literatura é arte. Imagina você ir para um show de Rock, ver um espetáculo de dança, assistir uma peça de teatro, por exemplo, sabendo que, depois, fará uma prova para conferir se, de fato, compreendeu bem o que lhe foi mostrado? Já de cara sua postura seria diferente se é que isso não minaria por completo sua vontade de usufruir dessas criações. Uma nota baixa significaria que você não serve para plateia. Tsc tsc… Não sabe interpretar a performance dos artistas.

É essa mensagem que a escola passa para os alunos: você não serve para leitor. E, pelo visto, é muito bem assimilada dado a quantidade de pessoas que sabem ler e nada lêem, o pior analfabetismo alimentado com maestria dentro das salas de aula.

A hora que perceberem que nenhuma arte deve ser enfiada goela abaixo como fazem quando preparam o foie gras (patê de fígado de ganso que tem que ficar inchado e, para tanto, eles mantêm à força e de forma torturante seu bico aberto enquanto lhe entopem de comida) e que a escola é a principal responsável pelo desinteresse pela leitura, vão parar com essa indecência de fazer prova de livros de literatura.

Os livros devem ficar expostos aos montes em toda a variedade possível e de fácil alcance. O resto a própria natureza dará conta. A magia sempre acontece porque a curiosidade é inata ao ser humano. A aversão à arte não. Esta é o que é ensinada pelas escolas.

Um comentário em “A Escola ensina a não ler

  1. Certíssima! Não adianta impor a leitura de um livro para alguém. Uma vez , eu e outras meninas estávamos conversando com a professora de educação física no primeiro ano do Ensino Médio (Na época o 2º grau), e ela me disse que pelo meu jeito de ser , eu ia gostar de um livro que ela havia acabado de ler porque a filha dela leu e gostou muito, o que a fez querer ler também “A Marca de uma Lágrima” de Pedro Bandeira . E realmente gostei muito, e anos mais tarde , minha filha e amigas dela também.
    Você , por exemplo, no lançamento do seu livro, falou sobre a emoção que sentiu com os livros de Zélia Gattai . Eu nunca tinha lido nenhum livro dela, mas sua emoção despertou minha curiosidade, e estou lendo “Jardim de Inverno”, e pela narração carinhosa que ela faz dos momentos vividos com o marido, o filho, os amigos e as pessoas que ela encontra pela vida, a coragem, a postura frente aos desafios nos quais agia com inteligência, força, perspicácia e criatividade, a sensibilidade, a admiração que ela sentia pelo seu amor, a meiguice, a alegria de viver, a esperança, tudo isso que já percebi ainda na metade do livro foi o bastante para entender sua emoção e aproveitar para te agradecer por ter indicado.
    Acredito que esta é uma das melhores de formas de apresentar um livro para alguém , quando se conta alguma história que o envolva. Se os professores falassem com carinho sobre um livro que leram, ou sobre um autor que admiram, despertariam a curiosidade de muitos alunos.

    Curtir

Participe! Comente você também!