“Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.

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Obrigada, Enem. Quase sete milhões de pessoas que nunca se comunicaram com os surdos ou com os deficientes auditivos estão tendo que escrever sobre eles e pensar nos desafios em sua formação educacional.

Eu não falaria da formação educacional do surdo e sim da sociedade porque é ela que precisa ser melhor educada. O resto vem por tabela.

O surdo, como já falei várias vezes aqui, é o “deficiente” – se é que seja mesmo deficiente – que mais sofre de depressão tamanha é a sua exclusão. Ele é motivo de chacota e o isolamento é a saída mais fácil.

Muitos não sabem, mas eu sou uma deficiente auditiva. Já uso próteses há quatro anos. Quer dizer, já ‘tenho’ as próteses há quatro anos. Meu problema é genético, não há o que fazer. Ladeira abaixo sempre e cada vez mais rápido. Estou caminhando a passos largos para ficar surda. As próteses me custaram os olhos da cara, com o perdão do trocadilho de um sentido pelo outro. E mesmo com elas, a audição não é a mesma.

Há milhares de deficientes como eu que, pela vergonha de usar as próteses ou pela falta de dinheiro para comprá-las, não mais se socializam pela incapacidade da interação.

Acreditem, não é nada difícil fazer um mundo mais bacana. Nas escolas, aprendemos tantas coisas inúteis e quando nos deparamos com um surdo (há uma infinidade deles que passam por vocês todos os dias mas que lhes são invisíveis) não conseguimos sequer dar um oi decentemente. Aprendemos inglês desde os quatro anos, mas libras nunca nos ensinaram.

Se em programas de televisão houvesse sempre uma pessoa traduzindo nas línguas de sinais o que está sendo dito, que mundo melhor já teríamos – não somente para os surdos porque a empatia é como vírus. Pega e se alastra.

Se em teatros houvesse alguém falando em libras com a plateia, seria como ipês florindo no deserto.

Não se trata somente de inclusão social e sim sobre uma educação do, digamos, espírito. Ensinaríamos para nossas crianças que todos têm direito ao lazer, a arte e a cultura. Nada absolutamente nada pode ser privilégio de uma parcela da população se sonhamos e lutamos por um mundo mais justo. Nenhum soldado pode ficar para trás – como temos feito com os surdos não os percebendo entre nós.

Qual seria sensação de se viver em uma sociedade onde todos sabem se comunicar em libras? Quando nos deparamos com a beleza que não é vista pelos olhos e sim nas relações entre seres humanos temos uma ideia da primavera pela qual seríamos possuídos.

O deficiente só se sente mal e tem lá suas dificuldades dependendo de onde e com quem ele convive. O que me leva a crer que a deficiência maior não está em que não escuta, não vê, não anda ou não consegue falar. Mas sim naqueles que não enxergam a falta de acessibilidade e, ainda que a percebam, tendo cordas vocais em perfeito estado, fiquem mudos diante dela. O pior manco é aquele que sabendo andar tropeça sempre em sua própria inércia.

 

8 comentários em ““Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.

  1. Redação do ENEM-2017 (coitado da GAROTADA) => Eu não saberia nem por onde começar, mas ESCREVERIA ASSIM: “Educassão no brasil pra Surdos, Cegos, Mudos & Beyond”..!

    “Nas minhas mal traçadas linhas “Serei CURTO e GROÇO” ..!!
    A “Educassão no brasil” é COLOÇAL.
    Enquanto ROLA o ROLO (du gorpe), em “Su Paulo” o tucano Alckmin SUCATEIA ESCOLAS: as dos “NORMAIS” ..!!
    Ah,.. SURDOS, CEGOS, MUDOS & BEYOND somos todos nós pois a MERENDA já roubaram e até RAÇÃO já inventaram pra estudantes .. e o POVO nada,.. quieto”:  somos mesmo todos: SURDOS, CEGOS, MUDOS & BEYOND !
    No paraná, até o QUADRO NEGRO virou OPERAÇÃO POLICIAL pois o tucano richa rouba até o GIZ, quanto mais o Quadro Negro !!

    Ah Surdos… Ah Mudos… Ah… Céus !!
    Melhor fechar a “EDUCASSÃO” do brasil pra BALANSSO !
    Q eu vou CONGREGAR, LOUVAR, ORAR, GLORIFICAR,… ALELUIA e GLORIA “pai eterno, tenha piedade de nóis enquanto dá tempo” !!

    ORA ESSA, não tem ESCOLAS nem pros NORMAIS pois o QUADRILHÃO sucateou TUDO em menos de 1 ano… aos diabos com os SURDOS, CEGOS, MUDOS & COXINHAS !!
    VIVA o brasil do FELICIANO, MALAFAYA, RR SOARES, APÓSTOLO Rodrigo Salgado, o..o..o.. CU..CU..Cunha da Missionária SACRILÉIA …pois o SENHOR é o Pastor !!

    JESUS, tende piedade de nós: SURDOS, CEGOS, MUDOS & BEYOND (normais e anormais !).

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  2. Prezada Elika, não é exatamente um comentário, é mais um convite. Acompanho e gosto muito das suas postagens e gostaria de convidá-la para um curso que daremos no próximo dia 21 de novembro, em São José dos Campos “PROFESSOR NOTA 10”. Somos do INEC – Instituto Educação, Cultura e Gestão e atuamos tentando melhorar as políticas municipais de educação através de cursos, assessorias e consultorias, mas sempre na perspectiva da inovação e da transformação da educação!

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  3. Elika, sou deficiente auditivo. Perdi subitamente a audição direita e estou com um probleminha na esquerda. Estou saindo agora do médico. Li o seu texto e considero tudo que você escreveu. Somente os insensíveis se prontificam a criticar, sem embasamento, a proposta de redação do ENEM. Ora, vejamos a principal dessas críticas, “o público alvo é específico, o tema destina-se a profissionais da área abordada” . Só que esquecem os valores humanos e humanitários. Os nossos alunos não vão produzir um tratado científico, mas um texto com argumentos suficientes, dentro de suas limitações acerca do tema. Como professor de produção textual, reconheço a falta de debates nas escolas e classes, mas aí já é outro problema, que devemos combater, para que não haja contestações cuja profundidade assemelha-se a um pires. Sem mais, Companheira, senão agradecer por nos propiciar esse espaço para debatermos temas bem instigantes. Só mais uma coisa, vi as suas resenhas literárias e menina, lhe confesso, eu com vinte e tantos anos de sala de aula, dando aula de literatura, nunca vi quem tivesse tanto apreço pela leitura, nem eu mesmo. Abraços

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  4. A acessibilidade para cego e cadeirante pode ser criada por terceiros e uma vez que seja realizada ótimo. Problema resolvido. Inclusão feita. Podemos continuar nossa vidinha sem crise de consciência.

    A acessibilidade para o surdo quem faz somos nós. Aprendendo libras. Por isso eles são invisíveis para todos. Na verdade, fingimos que não os vemos.

    Quando nos deparamos com um cego ou um cadeirante nos prontificamos a ajudar. Um surdo não gera essa mesma reação. Pelo contrário. Fugimos dele porque não lhe somos acessíveis.

    Criar rampa de acesso e piso tátil dentro de si é que são elas.

    Não sejamos essa pessoa que joga a responsabilidade para o Estado, para a escola ou para Igreja. Está em nós a solução.

    Façamos o que tem que ser feito. Como disse o mestre: sejamos a mudança que queremos ver no mundo.

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  5. Mal escrevi sobre o tema da redação do Enem que trata da formação educacional dos surdos já choveram comentários de, pasmem, professores, pedagogos e “educadores” criticando o tema por não fazer parte do currículo ou não ter sido debatido em sala de aula.

    Li de professoreS – no plural mesmo – que os alunos não são obrigados a escrever sobre o que jamais pensaram. Oi? Oi?!

    Essa é a prova de que escola, como estou cansada de dizer, foi feita para gerar jumentos ambulantes e não vida inteligente. Ninguém vai para sala de aula para aprender a refletir sobre nada. Vai para ficar burro e ser adestrado. E muitos professores sequer enxergam isso e se comportam como marionetes desse sistema. São excelentes treinadores porque, por sua vez, foram também adestrados com maestria. Sabem ensinar muito bem os alunos a dar uma resposta pronta para aquele tipo específico de questão. Se sair um pouco do feijão com arroz, trava quem ensina e quem está ali para aprender a vomitar na prova o que lhe é forçado goela abaixo em sala de aula.

    Como assim alunos não podem escrever sobre algo que nunca pensaram? Que pensem sobre isso e dissertem sobre! Se vocês, jovens, não conseguem refletir sobre um tema inédito, que tirem os antolhos colocados de forma aqui confessa por seus adestradores!

    E aos professores que não debateram sobre esse tema em sala e estão reclamando agora nas redes sociais que o Enem está errado, pergunto: vocês acham que os deficientes são os surdos?!

    Fim do poço. Enfim!

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  6. Eu de novo. Prometo não mais escrever sobre a redação do Enem (hoje). Muitos estão falando que o tema não deveria ser só sobre surdos e sim sobre todos os deficientes, ou seja, sobre inclusão social. Por que somente sobre deficientes auditivos?, questionam.

    Percebam. Sem querer medir infelicidades e dificuldades mas sim apontando algumas diferenças, a cegueira e uma cadeira de rodas não são possíveis disfarçar e as pessoas procuram ajudar quando se deparam com esses que são claramente “portadores de necessidades especiais”.

    Os surdos não são detectáveis facilmente e quando sabemos que estamos diante deles muitos os evitam por não saber como se comunicar. Não sem motivo os deficientes auditivos são os que mais sofrem de depressão dentre todos os que são considerados deficientes.

    É mais do que inclusão essa discussão sobre surdos e deficientes auditivos. É sobre o quanto os surdos são invisíveis e o quanto ninguém se preocupa com eles. É, sobretudo, sobre Educação. Sobre prioridades nas escolas que ensinam inglês e não ‘a segunda língua oficial brasileira’: a língua de sinais.

    E sobre ninguém aqui saber disso.

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