Sobre a representatividade das mulheres na política.

PT4

Todos sabem que a representatividade das mulheres na política no mundo é baixa. Com a projeção que ganhei nas redes sociais e a exposição de minhas opiniões sobre diversos assuntos, acabei recebendo o telefonema de Lula, conhecendo-o pessoalmente e me filiando de forma consciente ao Partido que mais fez pelos pobres no Brasil.

Depois disso, surgiram convites para participar de forma mais orgânica da política que vai desde participação de plenárias até a ideia de eu me candidatar para algum cargo em 2018. Amei tudo isso.

Porém.

Moro em Madureira, subúrbio do Rio. Tenho dois filhos e uma filha que vivem e contam comigo. Sou provedora desta casa. Faço tudo sozinha. Conserto bomba de caixa d’água, troco resistência de chuveiro, resolvo vaso entupido, vou ao supermercado, levo um à aula de bateria, outra na aula de piano, participo da vida deles o máximo que posso, além de trabalhar. Conto com a ajuda de meus pais que moram ao meu lado e por esse apoio, dentre outros motivos, não saio daqui. Sem eles, nem sei o que seria de mim.

Tenho um carro velho que vive na oficina e o caminho de casa até o centro da cidade onde tudo acontece – inclusive onde trabalho – fica em torno de uma hora.

Se saio de casa à noite para uma reunião do partido ou de algum movimento social isso significa ter que deixar meu caçula sob os cuidados da empregada. Os mais velhos estão sempre fazendo curso, faculdade ou em ensaios. Meu pequeno sempre me pergunta que horas eu volto e se vou almoçar ou jantar em casa com ele. Abro mão do que consigo para ele não se sentir muito só em casa.

Fora isso, saio e retorno sempre sozinha de quase todos os lugares e, para vocês terem uma ideia, aqui não se renova mais seguro de carro e nem entregam nada comprado na internet por ser considerado área de muito risco.

Sempre tive o sonho de me mudar para mais perto de onde trabalho, no Maracanã. Quando meu casamento acabou, meu ex marido foi morar no Leme em um apartamento de um quarto praticamente em frente a praia. No que pese o reconhecimento pela atenção que ele jamais deixou de dar a nossa prole, a carga máxima ficou nas minhas costas e entendi bem o que é ser homem e ser mulher em nossa sociedade.

Um apartamento minúsculo de três quartos mais próximo ao centro é quase o dobro do preço da casa onde eu moro que tem quatro quartos. Não tenho como arcar com essa despesa e não cogito a hipótese de morar sem meus filhos e minha filha.

Não ganho mal, mas não sobra nada porque invisto tudo nos cursos da molecada. Paguei a faculdade do mais velho sozinha que não é filho biológico do meu ex-marido e pretendo investir agora em sua pós graduação. Sou, financeiramente, a única pessoa com a qual ele pode contar.

Tudo isso para dizer que é extremamente difícil eu conseguir atuar de forma mais eficiente na política e aumentar a representatividade das mulheres por eu ser, exatamente, uma mulher típica de nossa sociedade. Mãe que prioriza o futuro da cria acima de tudo. Pessoa que sofre com o deslocamento em uma cidade grande e abandonada como o Rio. Mulher que sabe que é alvo fácil de bandido. Gente que quer fazer sem ter como.

3 comentários em “Sobre a representatividade das mulheres na política.

  1. Nestes tempos tristes de golpe e tirania na política, resta a alegria de ter encontrado na net pessoas como você, cujas postagens acompanho há tempos. Aliás, comento sempre com amigos que tenho conhecido na net algumas mulheres notáveis, admiráveis, e você certamente é uma delas. Que os deuses todos a protejam e que seu caminho seja de muita realização!

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