Sendo menina por todo lugar.

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Hoje foi dia de voltar para casa vindo de Brasília. Estou naquele período de esvaziar copo. Não, migues. Não estou entornando cachaça e sim toda hora, na verdade de três em três horas, descartando meu sangue menstrual do coletor.

Estava tudo sob controle porque sou dessas de me iludir que tenho as rédeas da vida. Havia feito tim tim com dona Celite lá casa do Pipo e a despedida dele (que durou umas duas horas) me dispersou um pouco. No aeroporto, ao invés de ir ao banheiro, fiquei vendo as fotos que havia tirado do Pipo no palco e lambendo a tela do celular já de tanta saudade.

Entrei no avião, coloquei os fones de ouvido, peguei meu livro e mal a moça começou a dar os procedimentos caso a aeronave caísse eu já estava toda cagada. A minha poltrona era a da janela. E ao meu lado, dois homens. Eu só sentia um quentinho molhado se esparramando pela minha calça.

Com trinta minutos de vôo, ou seja, com um terço do trajeto, parecia que o avião tinha sofrido um ataque terrorista de tanto sangue que estava vendo se espalhando. Eu que não ia me levantar dali e andar pelo corredor até o tualéte naquele estado de quem acabou de parir um útero.

Tentei cochilar porque sou dessas de manter a calma em condições adversas, mas a torneira não estava colaborando. Digamos que meu fluxo é intenso. Mega intenso.

Passei a mão entre as pernas para tentar sentir o tamanho do problema. Era grande. No desespero, levei a palma à testa. Puta merda que saudade do Pipo ainda bem que ele não está aqui já pensou, gente?

No fone, vejam vocês, eu ouvia Joyce:

🎶- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
– Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
– Então me ilumina, me diz como é que termina?🎶

E eu lá toda cagada dos pés à cabeça, literalmente.

Resolvi relaxar e curtir a viagem. O que não tem remédio remediado está já dizia a minha avó. Som na caixa.

Avião em solo. Fui a última a me levantar. Peguei meus pertences, avisei a comissária que meu copo transbordou e que havia deixado uma marca vermelho-comunista na 17F.

Sem opção, fui arrastando a minha mala toda feminina que tem um lacinho vermelho e um broche de rosa na lateral até o banheiro mais próximo esbanjando para todos que partiam e voltavam o que é ser mulher. Fui de cabeça erguida porque sou dessas de abraçar o capeta no inferno.

Banheiro público sem ducha higiênica. Ok. Tudo bem. Peguei um bando de papel e umedeci na pia. Foi quando vi no espelho o estado da minha testa.

Tranquei-me naquele cubículo. Meu copo dava orgulho de ver, gente. Nunca o vi cheio daquele jeito. Razei.

Consegui dar uma tapeada e cá estou eu no táxi escrevendo porque sou dessas de compartilhar alegrias e tristezas.

Se não for para chegar no Rio assim chorando e jorrando meu sangue para tudo qué lado nem me despeço do Pipo.

7 comentários em “Sendo menina por todo lugar.

  1. 🤗😂💪🏾 duas coisa: sabia q vc é valente, mas nem tanto; outra, vc não é paulistana?!?! como assim uma japonesa q mora no Rio?!?!

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  2. Companheira, vc é demais. Ponto.
    Escreve bem pra caramba e sobre uma realidade excluída do broquinho das ‘pessoas de bem’.
    Quantas moçoilas não morreriam nesta viagem sob estas circunstâncias? Milhares!
    Gosto muito desta música, vou botar ela no meu perfil do Face pois eu o povo e a pova também somos filhos de Deus.
    Beijo e abraço per te.

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