A foto de Landau

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Na imagem, há um menino com frio, todo molhado no mar, olhando assustado para o alto, certamente, admirado com a festa que o céu de Copacabana faz a cada chegada de um ano novo.

Atrás dele, fora de foco, há pessoas vestidas de branco. Muitas com celulares na mão fotografando o barulho. Um grupo está de costas para o espetáculo de cores fazendo uma selfie.

Se o menino é pobre, o registro pode ser considerado triste porque assusta – já que vira uma foto onde também estamos nela. Vemos ali a imagem nítida da invisibilidade diária dos meninos pretos. Está escancarado o olhar puro de quem vem nos pedir um trocado nos sinais fechados trânsito – e de comunicação – que nos escapa.

Se o menino não é um menor abandonado, o registro continua sendo triste, mas de uma natureza diferente de tristeza. Trata-se de uma explanação didática sobre o mundo veloz que estamos vivendo: a emoção desses dois personagens, o menino e a sociedade, tem naturezas distintas, pois não há alegria aparente no menino e sim algo muito melhor. Há uma curiosidade genuína. Infantil. Que não somos mais capazes de sentir.

O frio fotografado pode ser por falta de toalha ou por excesso de brincadeira fora de hora. Como o sentimos diz muito mais sobre nós do que sobre o menino.

E é por estar em quem vê o sentimento, o pensamento, a cor e a classe social do menino na foto de Landau que paramos sobre ela.

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