Resistir não quero mais. Existir será meu verbo.

Há tempos ando com muito medo. Nunca pensei que um dia iria participar como candidata de alguma eleição – como está prestes a acontecer.

Exposição em tempo algum foi um problema para mim. Entendi desde cedo que não importa o que você sinta. Haverá sempre meio mundo com um problema igual ao seu. Portanto, não precisamos nos envergonhar em andar nuas por aí. E, assim, com seios e cérebro à mostra, caminhei até aqui.

Já fiz algumas terapias e olhar para dentro também não é aquilo que me apavora. O que tem me desesperado é a necessidade de mudança. Não é muita coisa que preciso alterar, mas pode ser tudo. Como dizia Clarice, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Jamais fiz nada em troca de curtidas e acredito que nunca ninguém me viu pedindo para compartilhar algo que eu tenha escrito. Penso que carinho quando reivindicado perde muito de sua essência. Mendigar amor: prefiro conversar sozinha. Bendita seja a masturbação.

Estamos na fase das pré-candidaturas em que é terminantemente proibido pedir voto. Não é a melhor fase da minha vida, mas desejaria que ela durasse para sempre. A campanha vai começar em Agosto e até lá preciso vencer esse monstro que habita em mim que sequer consigo nomeá-lo. Não é vergonha, pois se tem algo do qual me orgulho é da minha filiação e da minha coragem, modéstia à parte, de participar de tudo isso e encarar toda essa gente; muito menos… sei lá meu deus muito menos o quê.

Escrevo sobretudo para mim mesma. Preenchendo uma página em branco de um editor de textos, vou me sentindo não mais esclarecida – porque isso beira o impossível – e muito menos mais segura – porque essa palavra foi inventada. Vou me sentindo como aqueles que estendem a mão e recebem o pouso de uma borboleta ou aqueles que leem ao ar livre e são surpreendidos por um cocô de passarinho no parágrafo do texto com o qual conversava.

Estou me lembrando aqui das inúmeras vezes que divaguei sobre as minhas inseguranças com vocês. Seja na maternidade seja na separação seja na escolha de um esmalte ou com a vinda de um novo amor, eu me desesperei. Sou mesmo muito desajeitada com a vida.

Agora estou pré-candidata a deputada estadual pelo PT_RJ. Se tudo der certo, despeço-me das salas de aula que considero o local mais sagrado que existe. Se tudo der errado, seguirei realizada em minha profissão, porém, como dizem, totalmente trabalhada na revolta por ver as escolas públicas sendo sucateadas e nada poder fazer. De qualquer forma, haverá um tombo gigantesco e já sigo em queda me apoiando no ar, relativizando o certo e o errado.

Tenho tomado um cuidado comigo mesma como se eu fosse um pudim sendo desenformado. Procuro me inspirar na suavidade dos estúpidos, a mesma que faz com que um touro ande com um certo charme. Por outro lado, sinto-me tão poderosa como um ogro que possui uma chave (de uma porta que ele não sabe qual é (e que pode ser de um castelo que há tanto havia sido demolido)). Sem nomear nada por dentro, imagino essa chave quando sinto o de-repente-tantos-sonhos. Penso assim bonito porque se eu não der grandeza e magnificência ao meu novo mundo, estarei perdida. Seja lá o que for tudo isso, tem muita força e sinto medo.

A verdade, se querem saber, é que aceitei a minha grande contingência. Não consigo, confesso, livrar-me dessa ameaça que é a minha ânsia de viver tudo em profundidades. Contenho-me da mesma forma que jamais gritei de alegria ao ver um filho dando o seu primeiro passo para que ele não se assustasse.

Não sei exatamente com o quê estou lidando. Entendo que a compreensão é feita através das palavras não ditas e não entendo a minha necessidade de viver tudo isso. Dizemos a verdade quando a negamos de forma delicada.

Sei que aceito humilde o medo e toda essa insegurança como quem aceita um batismo.

Tenho minhas dúvidas se conseguirei pedir lá na frente para que depositem em mim a esperança já que sou tão escabreada. Para isso, tenho frequentado às mulheres. Mal consigo dizer que sou pré-candidata sem sentir o chão tremer. Elas sabem o que eu sinto e já tem agido sobre mim.

Há tempos ando com muito medo. Sem ele, nunca caminhei e suspeito que ele seja o meu combustível. A despeito de tantos fantasmas, saibam que sou uma ameaça (para aqueles que temos chamado de inimigo), pois tenho a tirania dos que necessitam. Resistir não quero mais. Existir será meu verbo.

11 comentários em “Resistir não quero mais. Existir será meu verbo.

  1. Daqui de Goiânia, eu e minha família enviaremos fluidos positivos para você. Força, muita força. A caminhada é árdua, mas você chegará lá. Tenho certeza.

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  2. Cara Elika,
    Sempre que posso leio suas postagens com interesse e admiração, tanto pela simples humanidade que transborda, pela sensibilidade aguda, pela crítica atenta e pelo senso de utopia, pois sem ele qualquer projeto já nasce morto. Sou um professor veterano que ainda não decidiu o voto para deputado estadual, mas devo votar no Freixo para federal. Independente de minha decisão, gostaria de colaborar com sua candidatura, seja com idéias, seja indicando sua candidatura para amig@s petistas, seja financeiramente. Por ora quero apenas te animar a seguir combatendo.
    Abraço,
    Marcos Barreto

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  3. Acho que sua contribuição seria maior e melhor no âmbito federal. Precisamos de gente de fibra e coragem em Brasília. O momento é delicado.

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  4. Elika,
    Daqui da Bahia envio boas energias pra vc!
    Se fosse candidata por aqui, tenha certeza que meu voto seria seu…. nós conjugamos o mesmo verbo e fico muito feliz em te ver entrando na luta, mesmo sendo com a cara e a coragem.
    Vá em frente companheira e lute pelos nossos ideais!
    Segue abaixo um poema de um conterrâneo meu, do qual eu gosto muito e que me inspira nos momentos de decisões importantes:

    “Todo risco
    (Damário da Cruz)

    A possibilidade de arriscar
    É que nos faz homens
    Vôo perfeito
    no espaço que criamos
    Ninguém decide
    sobre os passos que evitamos
    Certeza
    de que não somos pássaros
    e que voamos
    Tristeza
    de que não vamos
    por medo dos caminhos”

    Abraços,
    Eliana

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  5. Seus textos são maravilhosos! Você não me parece uma pessoa que tenha medos, por isso maior a admiração, pois segue apesar deles.Boa sorte!

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