Fascínio pela escuridão

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Muita coisa já deu errado na minha vida. Aliás, eu sou a soma dos meus fracassos. Tudo o que tenho hoje foi porque não consegui conquistar o que queria.

Estava aqui pensando em como me tornei candidata em pleno Brasil do jeito que está e fiquei assustada com quantas vezes, no que pese meu referencial privilegiado, visitei o fundo do poço.

Acho que não importa o que eu planejar. Vai dar errado. Concluo eu aqui agora no topo da montanha olhando o horizonte que está nas minhas costas que escancara o meu passado. Não planejei ser professora de física. Queria ser bacharel. Uma cientista famosa. Esse era o foco. Daí engravidei do Hideo no meio da faculdade de um namorado que nem amava. Corri para licenciatura para conseguir emprego rápido.

Mestrado em história foi um convite que recebi. Queria fazer em Ensino porque estava encantada com o magistério. Depois até que me empolguei muito com o tema da dissertação e quis fazer doutorado na mesma área. Mas alguém me disse: não. Ouvi que eu era muito inquieta e devia ir para filosofia. Eu não queria de jeito nenhum. Mal sabia quem era Platão.

Casamento acabou. Planejei ficar casada eternamente. Me fu. Depois de anos separada, apaixonei-me de novo. Beleza. Vou beijar muito. Oba! Que nada. Pipo mora em Brasília e conciliar nossas agendas é modalidade olímpica.

Fiquei grávida nos momentos mais conturbados de minha vida quando não tinha tempo para nada e já não estava dando conta das demandas.

Deito em plena campanha e fico pensando em histórias que quero escrever, em roteiros de vídeos, em aulas que preparei e ainda não testei, em contas que esqueci de pagar, em mozão que não vejo, nas viagens que quero fazer e nunca tive dinheiro, nos livros que não consigo vender.

Quando comecei a ser apresentada como escritora e ser convidada para programas de literatura, Lula me ligou e minha vida, mais uma vez, mostrou para furacão como é que rebola direito.

Percebo, no entanto, a maneira como lido com cada mudança de rota. Bem? Depende. Choro sozinha sempre de desespero não por achar que não vou conseguir. Isso não. Isso não penso. Não sinto medo não. O que sinto tem outro nome: cagaço. Choro porque faz parte. Acho que é isso.

Quando engravidei do meu terceiro filho, trabalhando, me preparando para fazer doutorado em outra área, casada com o marido solicitando mais atenção todo dia, eu só fazia secar as lágrimas e ir em frente animadaça com tudo.

Agora estou solteira, cuidando dos três filhos todos surtados de cabeça, resolvendo tudo sozinha aqui em casa, sem saber quando vou receber um cafuné do Pipo, indo para as ruas toda trêmula falar no microfone, gravando vídeos cheia de vergonha, estudando leis de tudo que é jeito, conversando com petroleiros, reitores de universidades, gente que nunca pisou em uma escola, parlamentares, dialogando com o mundo todo e mais uma galera de Marte, sem hora para nada e só escrevendo dentro do trem.

Nunca gostei da sensação de andar de montanha russa. Talvez por causa daqueles trilhos previsíveis. Mas quando a luz acaba… meu deus, como me fascina a escuridão.

Vai continuar tudo dando errado. Eu sei. Mas ainda assim, enquanto eu estiver aprendendo, sigo caminhando saltitante toda desajeitada com a felicidade.

Não. Não tem sido fácil.

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Não. Não tem sido fácil. Não tem sido fácil deixar Yuki em casa. Não tem sido fácil estar longe das salas de aula. Não tem sido fácil não ter hora para dormir (mas ter sempre hora para acordar). Não tem sido fácil defender a democracia nas ruas. Não tem sido fácil lutar pela qualidade do ensino público. Não tem sido fácil parar de escrever e deixar de ler meus romances. Não tem sido fácil ficar longe do meu namorado. Não tem sido fácil ouvir todo santo dia que alguém está decepcionado comigo porque agora deixei de ser entretenimento e firmei meu posicionamento político.

Mas tem sido lindo e eu me guio pela beleza que se manifesta na forma de aprendizado. Não tenho mais o giz na mão, mas o microfone por onde tenho tido a minha voz amplificada. Não tenho mais alunos na minha frente, mas tenho andado ao lado de grandes professores e professoras que me ensinam como me posicionar corretamente na trincheira. Não tenho mais paz, mas essa eu já não tinha mesmo desde que esse golpe foi dado e o povo perdeu seus direitos, a fome voltou a crescer e a desigualdade social, a aumentar.

Hoje estive na Central do Brasil ao lado de grandes soldados. Conheci a presidenta nacional do partido, Gleisi Hoffman, que me disse que já me seguia há tempos. Quanta honra a minha. Conheci o famoso TromPetista que tem corrido o Brasil todo para mostrar pelo seu instrumento a importância de termos Lula como presidente.

Não. Não tem sido fácil. Eu sabia que não seria pois Lula mesmo me alertou. E por isso estou aqui. O desafio me fortalece e com o pouco que já vivi, tendo tempo, já possuo material para escrever mais um livro.

Tornei-me também uma ideia, assim como Lula. Além de nome, agora tenho um número: 13(021), a candidata a deputada estadual pelo Rio de Janeiro.

#mulheresnapolítica
#meuvotoseráfeminista
#Lulalivre

#ChegaDeAssédio

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Aqui em Madureira, no colégio Pensi, várias meninas usaram a rede social para relatar casos de assédio através da hashtag #AssedioÉHabitoNoPensi. O ato de denunciar teria sido incentivado por uma professora da própria escola e funcionou muito bem atingindo o trendig topics no twitter em poucas horas. Não tardou para que outras alunas de instituições como, por exemplo, o Miguel Couto no Méier e o CEFET no Maracanã também se manifestassem nas redes e nas ruas com cartazes e blusas vermelhas e pretas.

Esse caso me remeteu a um outro também iniciado nas redes sociais há três anos. A campanha #PrimeiroAssedio teve mais de 80 mil tweets e surgiu em apoio à menina de 12 anos que foi alvo de comentários de cunho sexual na internet durante sua participação em um reality show de culinária.

Vemos todos os dias casos de violência contra a mulher em seus mais variados níveis. Os números são assustadores e se há algo certo é que enquanto você está lendo esse texto várias mulheres estão sendo assediadas e estupradas.

Por que quando uma começa a falar aparecem milhares de outras atrás? Qual a explicação por detrás desse fenômeno?

Vamos entender: existe uma repetição da natureza da violência sexual contra a mulher como parte de uma misoginia institucionalizada e que resulta na contínua não penalização dos agressores em muitos processos.

A sociedade tende a corroborar com a famosa e maldita cultura do estupro que afirma de várias maneiras diferentes que a culpa é da vítima. Segundo pesquisa feita pelo IPEA em 2014, quase 60% dos brasileiros concordam com a afirmação de que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”.

Quando, porém, surge uma válvula de escape dada até mesmo na forma de uma hashtag onde mulheres não se sentem sozinhas, começamos a ouvir, literalmente, milhares de histórias. Sabemos que não é uma missão simples, indolor. Todas sabemos o quão difícil é se expor.

Concluímos que a média de  idade do primeiro assédio que sofremos não é quando já somos adultas, passamos batom e andamos de saia curta e salto alto na rua. A realidade é que a primeira vez que um homem comete essa violência é com meninas de nove anos e 65% dos casos são cometidos por pessoas próximas da família – muitos deles dentro da própria casa da vítima.

Mas o fato recente de encorajamento ao grito e à denúncia foi feito dentro de uma escola. Não faz sentido fixar o nome de uma somente já que o problema é endêmico. A Escola é uma das instituições que dão sustentação ao Estado patriarcal e ao sistema Capitalista. Cada vez mais se educa para o mercado de trabalho e cada vez menos para o pensamento crítico. Não sem motivo, quando começamos a debater os problemas de preconceito dentro das instituições de ensino, somos ameaçados até mesmo por projetos de lei que buscam amordaçar professores e professoras. Nada é por acaso. Tudo está conectado.

Já temos Estados no Brasil em que o governo decidiu instituir a obrigatoriedade da oferta de ensino religioso nas escolas. Tal decisão fere, inclusive, a constituição federal que determina a laicidade do Estado. Para tanto, as escolas do Rio Grande do Sul, por exemplo, estão tendo que diminuir carga horária de outras disciplinas e a opção tem sido cortar tempos de aula de sociologia e de filosofia, justamente por serem disciplinas que mais promovem o debate. Qualquer semelhança com a época da ditadura não é mera coincidência. O argumento de que a disciplina abordará a diversidade religiosa brasileira não procede pois diversidade religiosa já é um tema tratado nas aulas de filosofia, de sociologia, de história e quiçá de física. Não existe razão para a existência dessa disciplina além de transformar a escola num espaço de disseminação da fé cristã. Juntamente com isso, tivemos a retirada dos temas de diversidade sexual dos planos nacionais, estaduais e municipais de educação. Mais uma vez: nada é por acaso.

Por que estou dizendo isso? Porque tudo está conectado de verdade. A nossa saúde está ligada ao transporte que pegamos todos os dias para irmos ao trabalho, por exemplo. A violência está associada a falta de oportunidades e do tipo de educação que andamos recebendo dentro de casa e nas escolas – ou na ausência total dela.

A escola, o local onde todas e todos julgam ser o lugar do conhecimento e do ensino, também é um lugar onde se produz e reproduz violência. O assédio sexual cometido dentro delas é uma das grandes aflições que atingem meninas e jovens de várias idades. O problema está na própria sociedade demarcada pelo machismo da qual a escola também faz parte.

São quase 25 anos de magistério mais meus tempos como aluna sendo testemunha e vítima de diversos assédios, vendo professores e funcionários em posição de prestígio coagir meninas e mulheres.

O silêncio é a regra.

Nosso grito, exceção.

A média é que 80 % das mulheres que sofrem assédio preferem não prestar queixa.

A verdade é que temos medo. Medo de sermos reprovadas, medo de perdermos o emprego, medo de represálias, medo de passar vergonha e medo de levar a culpa, pois, o que mais vemos é o agressor nada sofrer após a denúncia e a mulher ser desacreditada e ridicularizada publicamente.

Quando crescemos e entramos no mercado de trabalho, queridas alunas, saibam: não estamos livres dessa violência. O machismo e o preconceito são estruturais. Muitas vezes envolvem não apenas a opressão de gênero, mas também a opressão de classe. Entendam, homens. que o assédio, assim como o estupro não é apenas o ato sexual em si. “Piadinhas” e comentários que nos colocam em situação de coação psicológica são enquadrados como assédio sexual. Não é nada fácil lidar com isso. Por vezes, ficamos deprimidas, desistimos de um curso, sofremos de ansiedade, não acreditamos no nosso próprio potencial,…

Quando voltamos para a casa após um dia cansativo, nós, mulheres, ainda temos que enfrentar muita coisa. Homens aproveitam os trens, metrôs e ônibus lotados para tocar nas nossas partes íntimas. Eles não entendem que o transporte é público, mas o nosso corpo não.

Isso tudo gera nojo, revolta. Porém, mais do que punir, o que mais precisamos fazer é desconstruir o patriarcado. Não quero andar armada e me tornar uma assassina para combater o estupro e o assédio. Há outros caminhos que indicam ser muito mais efetivos e duradouros; por eles andaremos. Precisamos debater em todos os lugares sobre igualdade de direitos, conscientização e empoderamento das mulheres. Mas, principalmente, dentro das escolas mais do que nunca.

Por isso, os “movimentos hashtag” devem ser vistos com toda a atenção. Eles nos mostram algo assustador. Quase 100% das mulheres são vítimas ou conhecem vítimas de assédio sexual que, como já falado aqui, muitas vezes ocorrem quando somos crianças. O medo e o risco são constantes justamente por não sabermos de quem e quando podemos sofrer um abuso.

Nem nas escolas estamos protegidas.

Nem nos hospitais.

Nem nas nossas casas.

Daí a expressão “todo homem é um estuprador em potencial”.

Acho bom que você, homem bonzinho e honesto, que se ofende com essa frase “todo homem é um estuprador em potencial avise a sua filha, a sua afilhada, a sua irmã e a sua mãe que todo homem é sim um estuprador e um assediador em potencial. Se tivessem me avisado isso com todas as letras, talvez eu não tivesse sofrido o que sofri com um médico, um vizinho e um desconhecido na rua. Todos me pegaram, me sarraram, botaram o pênis para fora… e, pasmem, quando eu ainda era criança.

Quando colocamos a boca no trombone e saímos gritando de forma uníssona seja nas ruas seja nas redes sociais não estamos querendo dizer que todos os homens são ruins. Estamos falando que precisamos do apoio de toda a sociedade. Estamos pedindo socorro e reflexão profunda sobre o tema porque há mulheres sendo estupradas e meninas sendo assediadas diariamente.

Algumas histórias pessoais:

9 anos. Fui fazer exame de vista. O oftalmo apagou a luz e mandou eu ler as letrinhas. A sala ficou muito escura. O médico segurou o meu braço e começou a me sarrar toda. Minha mãe estava na sala mas não viu nada naquela escuridão. Eu apavorada me calei. – ‪#‎PrimeiroAssedio‬

11 anos. Em Minas. Fui na beira do rio pegar capim para os porquinhos da índia. Um homem que estava passando abaixou as calças e começou a se esfregar todo em mim. Consegui me desvencilhar dele e corri gritando. Foi preso. – #‎SegundoAssedio‬

12 anos. No ônibus. Eu sentada sozinha um homem senta ao meu lado. Pega a minha mão com força e coloca em cima do pênis dele. Ameaça-me com um canivete. E eu sou obrigada a obedecê-lo. Mais gente entrou e ele parou e desceu. Fiquei em estado de choque. – #‎TerceiroAssedio‬

Acabou? Não. Mas acho que está suficiente.  A mente agoniza.

Para que todas as mulheres denunciem e digam basta para a violência, elas precisam se sentir seguras, acolhidas e aí está a última questão que gostaria de comentar. É importante o empoderamento entre nós, mas o poder público não pode se eximir do seu papel. A violência contra a mulher se dá por causa de uma opressão histórica de gênero dos homens em relação às mulheres em todas as esferas sejam elas públicas sejam privadas. Essa reparação precisa começar acontecer também e, principalmente, na escola com o apoio do Estado. É nesse templo que considero sagrado o local mais apropriado para debatermos as diferenças de direito e de tratamento na nossa sociedade. Não à toa, tenho sido alvo de críticas por quem defende um modelo de educação que se fundamenta na mera transmissão de conteúdos.

Não vou cair aqui na hipocrisia de dizer que a escola é neutra. Ser laica é uma coisa, neutra é outra. O meu conceito de educação inclui entender como funciona a sociedade e essa grande máquina chamada mercado de trabalho. Ou educa a favor dos privilégios ou contra eles, ou a favor das classes oprimidas ou contra elas. Ou para falar ou para ficar calado. E ambas as formas de educar são políticas. A primeira forma cidadãos-zumbis que acreditam que o mundo é assim, nada mais pode ser feito e só lhes resta ser mais uma peça substituível nesse sistema. A outra é a que eu defendo.

Por isso espero que tudo o que aconteceu nesses últimos dias seja amplamente discutido dentro das salas de aula, porque mais importantes do que o valor da força de atrito para que o bloco não desça num plano inclinado são os valores éticos e morais que levamos conosco em qualquer lugar pelo qual passemos.

Não evitar que mais criminosos surjam também é crime.

Foi mostrada nas notícias recentemente a quantidade de jovens infratores que estão morrendo vítimas de assassinatos no período em que estão sendo reabilitados. Não tardou para que os “cidadãos de bem” começassem a bradar que “tem mais é que matar mesmo”, que “está morrendo é pouco bandido”, que “bandido bom é bandido morto”.

No que pese meu entendimento à revolta de ver pessoas inocentes de classe média e que moram no asfalto sendo vítimas da violência, pergunto a esses raivosos qual a dificuldade de se considerar a possibilidade do infrator ser produto de algo também criminoso como a falta de oportunidades, a falta de escolas, a falta de comida, a falta de emprego, a falta de artes, a falta de esporte, a falta de saúde,… Se isso for levado em consideração, trataremos esse problema atacando a sua raiz e não enxugando gelo, pois, matar que mata não evita que mais criminosos brotem em cada esquina.

Vejo gente gritando que precisamos diminuir a maioridade penal como solução para a violência urbana. Para tanto, saibam que vamos precisar de uma nova estrutura que vai demandar: número maior de policiais, de escreventes judiciais, de juízes, criação de novas Varas Criminais e Varas cumulativas, ampliação do espaço físico de delegacias, tanto para acomodar inquéritos como maior carceragem, ampliação do espaço físico em fóruns, criação e ampliação de presídios, contratação de carcereiros, faxineiros, serviços de manutenção, de fornecimento de alimentação, etc.

Tem espaço para isso? Temos condições para ter mais prisioneiros? Nosso sistema carcerário comporta mais gente? Nananinha. Presos mais antigos serão liberados, certamente.

Mas vamos supor que tudo isso aconteça da melhor forma possível. O jovem entra com 16 anos na prisão. Que fique 10 anos preso nesse sistema falido. Sairá com 26 anos… bom? Reabilitado? Dando bom dia para o padeiro? Com as condições que temos nos nossos presídios? Acreditam mesmo nisso?

Quem defende a redução se esquece que daqui a 5, 6 ou 10 anos (dependendo do crime) eles estarão na rua novamente. E muito piores pois a prisão no Brasil não ressocializa ninguém como todos estamos vendo.

No mais, a redução da maioridade penal pode até piorar a violência no Brasil. O sistema prisional no brasileiro está degradante. Todos sabemos. O que resultaria unir jovens de 16 a 18 anos aos criminosos adultos? Respondo: eles, certamente seriam qualificados para mais crimes.

A ideia do Estatuto da Criança e do Adolescente e suas medidas socioeducativas buscam a recuperação desses jovens para o retorno a sociedade, pois eles também sofrem pena de internação. Por que não lutar para a melhoria desse setor? Qual a origem da dificuldade de olhar para o Estatuto com mais carinho?

Observei que as pessoas que são a favor da redução da maioridade são as mesmas que bradam contra a política das cotas. Coincidência?

Quero que esses jovens sejam tratados como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescentes para pessoas entre 12 e 18 anos. Se fosse feito o que lá está escrito, já veríamos muita melhora na nossa sociedade.

Em uma rápida pesquisa feita pelos sites de busca, percebemos que somente nos países em que a desigualdade social diminuiu foi observado também uma redução da violência. Dos 54 países que reduziram a maioridade penal não se observou diminuição da criminalidade, sendo que Alemanha e Espanha voltaram atrás na decisão após verificada a ineficácia da medida.

Apostar na redução da maioridade penal como resolução da violência juvenil é investir na reprodução da violência como mostra a experiência em outros países.

Para finalizar, lembro-me de uma tentativa forte no Governo de Brizola de reduzir essa desigualdade no Estado do Rio de Janeiro com a implementação dos CIEPs – um projeto educacional de autoria do antropólogo Darcy Ribeiro que tinha como objetivo oferecer ensino público de qualidade, em período integral, aos alunos da rede estadual. O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados “pais sociais”, funcionários públicos que, residentes nos CIEPs, cuidavam de crianças também ali residentes.

Não foram poucas as vozes que se levantaram para falar mal do projeto. Na maioria dos casos, os críticos – inclusive, claro, os que atuam na mídia –, baseavam-se em argumentações tal como a tão difundida à época que aula se dá até debaixo de árvore e, portanto, todo o gasto com a estrutura física era inteiramente desnecessário e dispendioso, que estavam gastando dinheiro público à toa, que Brizola era populista, que Marx isso que pobre aquilo… Não nos esqueçamos da luta de Brizola contra a Rede Globo cuja atuação foi fundamental para que esse projeto grandioso fracassasse.

Os governos que sucederam aos de Brizola, como todos sabem, não deram continuidade administrativa ao projeto, desvirtuando-lhe a sua principal característica: o ensino integral.

Pergunto-me: se tivéssemos investido nisso, será que teríamos tantos jovens infratores assim? O que a classe média que está gritando que “menor infrator bom é menor infrator morto” fez a favor dos CIEPs? E o que tem feito para a desigualdade social diminuir?

Quero que a violência diminua e quero que todos os criminosos sejam devidamente punidos, mas não aceito medidas que não irão surtir efeito e que não passem por dar melhores oportunidades a quem tem como a barbárie seu principal espetáculo.

Socorro! A pesquisa no Brasil não pode morrer!

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Socorro!

A proposta orçamentária feita pelo ministro da Educação Rossieli Soares acaba com TODA a pesquisa do país. Estou exagerando? Nananinha.

Foi repassado agora à CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior) um teto limitando ainda mais o seu orçamento para 2019. Há um corte ainda maior feito em relação a 2018! Quando pensamos que não dá para piorar, o chão se abre sob nossos pés.

Que fique claro: O ofício do CAPES que alerta sobre a paralisação da pós-graduação em 2019 – cujo link segue abaixo – é consequência da PEC do Teto de Gastos. Alertamos de todas as formas que essa legislação absurda inviabilizaria a educação, a saúde e a pesquisa. Tem saída? Sim. Derrubar esse teto.

Para que TODAS as bolsas de pós-graduação não sejam cortadas em agosto de 2019, a Capes precisa de R$ 300 milhões. Para se ter uma noção se há ou não dinheiro para isso, Temer gastou mais de 800 milhões em emendas parlamentares pra convencer os deputados aprovarem essa maldita PEC.

Sabe o que vai acontecer se isso não for revogado? A suspensão de TODOS os pagamentos para bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado a partir de agosto de 2019! Serão quase 100 mil discentes e pesquisadores interrompendo a pesquisa!

Acabou? Não!

Teremos a interrupção do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do Programa de Residência Pedagógica e do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Também será interrompido o funcionamento do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e dos mestrados profissionais do Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (ProEB)!

Pessoas lindas, foco aqui: não haverá pagamentos para os profissionais que atuam pela pesquisa em Educação no país no ano que vem! Serão fechados 750 cursos (mestrados profissionais, licenciaturas, bacharelados e especializações) pelo Brasil!

Um corte orçamentário desse tamanho acabará com a nossa soberania. Quem vai respeitar um país que não valoriza a pesquisa?

Serão “só” os profissionais que não terão mais pagamentos que serão prejudicados? Ledo engano. Todos nós seremos! Como viver sem ciência? Como sobreviver sem estudo? Como crescer fazendo um corte tão profundo na Educação? Como iremos evoluir como sociedade sem pesquisa? Como iremos curar as nossas doenças? Como iremos cuidar do nosso meio ambiente?

Todas as pessoas que valorizam a pesquisa precisam se voltar com seriedade para essa causa. Necessitamos de uma ação urgente do Ministro da Educação para continuarmos vivendo de forma digna e seguirmos tendo orgulho do que produzimos neste país.

Um país sem pesquisa é um país sem respeitabilidade, sem brios, sem excelência.

Socorro…

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Segue o documento:

https://sei.capes.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=0746852&codigo_crc=6755A444&hash_download=ef5e65b749e9b6a0c124c56e438345f0dbb86d4b097fccd29f4b4221365642ee971b5a5e507aea925d83d67d1d4d79f08696fa5be30b507aa19122ff68c396a9&visualizacao=1&id_orgao_acesso_externo=0