
“Eu confio em você, mas não gosto do PT”.
Essa é uma das frases que tenho ouvido muito nas minhas andanças durante a campanha. Como acho que sempre posso estar errada, procuro saber os motivos pelos quais a pessoa “odeia o PT”.
Dou meus ouvidos e…
Cheguei a algumas observações que acho interessante trazer aqui. O tal do antipetismo é uma posição que orienta a decisão eleitoral exclusivamente pela rejeição ao Partido dos Trabalhadores e ao seu principal representante: Lula.
O antipetista considera que tem um dever de limpar o Brasil “da sujeira feita por Lula e Dilma no nosso país”. É o missionário cívico que se sente com a vassoura na mão. Quando falo dos números e dados como a retirada do Brasil do mapa da fome, ele diz sem pestanejar que isso é mentira e que os dados foram alterados assim como os padrões da miséria. Ou seja, para o antipetista não houve diminuição da fome. Fiquei chocada com essa afirmação.
Mas por que o odeia?, insisto sempre. Daí ouço coisas como o fato do PT ser um partido sindical, que comprou votos dos pobres com o bolsa-família, que inventou o racismo ao apoiar políticas compensatórias, que Lula é um analfabeto, cachaceiro, inventor dos programas sociais para manter os pobres como clientes do partido.
Mas não é legal fazer políticas sociais que diminuem a pobreza?, pergunto. Daí ouço que o PT aparelhou as estatais e quer transformar o Brasil em uma Venezuela dando dinheiro para Cuba.
Oi?, mostro que não entendo algumas proposições e tentam me explicar mais coisas que justifiquem o ódio ao partido que me acolheu: “o PT promoveu o comunismo no Brasil, o bolivarianismo e o gayzismo”.
Mas os banqueiros não reclamaram de nada, nunca se consumiu tanto e gays sempre existiram!, tento argumentar. Daí ouço que o PT encheu os shoppings, os aeroportos e as universidades de preto, que criou o Programa Mais Médicos só para humilhar os médicos brasileiros.
Mas a mortalidade infantil diminuiu muito no governo PT. Isso não foi bom?, pondero. Daí ouço que Lula é amigo de Maluf, Sarney, Collor e aumentou a criminalidade, humilhou as Forças Armadas com comissões da mentira, causou alagamentos, desmoronamentos, o incêndio da Boate Kiss e do Museu Nacional e que na época em que faltou água em São Paulo, Dilma estava no governo.
Como assim?!, pergunto para entender o que perdi. Daí ouço que o PT é o rei da corrupção.
Antes do PT, vivíamos em um país com um enorme período sem mobilidade social e os que estão hoje na classe média – que se achavam intelectualmente superiores e viram mulher preta recebendo diploma de médica – surtaram. Essa é a minha conclusão imediata.
Fora isso, perder sucessivamente em disputas eleitorais por nunca terem apresentado um programa de governo que beneficiasse as camadas menos privilegiadas, pelo visto, faz as pessoas perderem também mais uma coisa: a noção da realidade.
Mas nem todo antipetista é uma tábua ou apoia ideias fascistas da política nacional. Vale observar também.
Alguns simplesmente estão cansados, esgotados, exaustos do PT depois de 12 anos.
Mas por quê?, pergunto. E daí percebo mais coisas. A pessoa quer mudanças tipo as que o PT fez mas apoiando outro partido que não terá a força do PT para fazer o que a pessoa quer que seja feito.
Sem falar o nome do presidenciável, pergunto com carinho se a pessoa votaria em quem defende um programa assim assim e assado. A maioria das vezes, ouço que sim.
Ou seja, o antipetismo é uma modalidade de ódio olímpica praticada por pessoas que apenas não têm se informado direito ou conversado muito por aí. Dado a devida atenção, a dúvida sobre a possibilidade de uma cegueira é considerada, ao menos.
Toda forma de amor é natural. O ódio não. Toda forma de odiar é ensinada.
E o ódio a um partido que em nada ameaçou a nossa democracia (a despeito da perfeição não existir) não é exceção.
Quando algo nos incomoda, sabemos muito mais sobre nós mesmos do que sobre o objeto que nos desestabiliza emocionalmente.
Há um problema de origem política. Mas há também muita coisa de natureza psíquica nessa história. Há de se ter paciência.
Essa é a minha conclusão baseada em conversas pelas ruas por aí nessa minha caminhada rumo à ALERJ.
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