15 anos do Bolsa Família. Justiça acima de tudo. Deus ao lado de todos.

screenshot_20190110-004631_google

Hoje temos uma efeméride: 15 anos do Bolsa Família. O que é o benefício e que ele tirou o Brasil do mapa da fome já é sabido. Gostaria de trazer algumas reflexões do porquê tanta gente falar mal de algo que é elogiado pela ONU e pelo Banco Mundial: o maior programa de transferência de renda do mundo que ajudou não só na redução da pobreza, mas também na melhoria de indicadores de desenvolvimento humano.

Há uma certa aceitação sobre a importância no impacto positivo do Bolsa Família especialmente na saúde e na educação, pois temos dados que o comprovam. Mas, infelizmente, há uma parcela da sociedade e projetos políticos que conflitam com essa perspectiva e tem disseminado preconceito, ódio e criminalizam as famílias beneficiárias do Bolsa Família. É sobre esse sentimento que gostaria de me estender.

É regra na história da humanidade que grupos dominantes impõem sua concepção de mundo e aniquila o sofrimento dos pobres de forma a desumanizar sua dor. Interessante o fato de quase nenhum rico se sentir culpado pelo sofrimento dos menos abastados. Pior do que isso, há muitas pessoas que têm o que comer, carro do ano para dirigir, casa própria e outras preciosidades que responsabilizam o pobre pela sua condição. Esses seres, não raro, consideram os pobres burros, preguiçosos, promíscuos, pois – dizem os ricos que os pobres – não sabem usar o dinheiro e gastam o pouco que tem não para investir e sim “para comprar cachaça”, usam o tempo livre para “fazer filho” e que pobre tem “sexualidade precoce”.

Quando um rico aponta comportamentos como os ditos no parágrafo anterior, ele aponta uma irracionalidade no pobre e a condena como uma coisa natural. A sua própria irracionalidade não é questionada nesse processo.

Valioso observar que o fenômeno de pobreza é gerado pela falta de reflexão e humanidade da classe dominante que sempre acha que o seu comportamento é o correto. Até mesmo uma orgia regada a drogas numa cobertura de Ipanema pode ser considerada algo aceitável e quiçá um exemplo a ser seguido. Certamente termos como “liberdade” ou “experiências alternativas” aparecerão para justificar o evento.

Leis econômicas são consideradas naturais da mesma forma que o sofrimento social. Tudo se passa como se o ser humano não fosse responsável pela sua história ou como se a história existisse mesmo sem ter quem a narre, escreva ou dirija.

É claro que nem todo sofrimento humano é culpa da falta de bens materiais ou causado pela má distribuição deles. Porém, há muitas dores que estão enraizadas na nossa estrutura social. Não sou eu quem as provoca nem você individualmente, mas as instituições como a escravidão, por exemplo, podem sim ser as grandes culpadas.

Tudo é uma construção cultural. Isso que é difícil enxergar já que vemos o mundo com os óculos impostos a nós pela sociedade em que vivemos. A ideia, por exemplo, de trabalho estar associado à moral, que precisamos trabalhar muito para ter direito ao lazer, esse medo de ser improdutivo e a vergonha de ser “inútil para a sociedade”, enfim, tudo isso não foi dado no mundo e sim construído no século 19.

Vejam que curioso: a nossa cultura que não considera parasita o cidadão rico que vive de renda financeira, a nossa cultura que considera justo conceder isenção, incentivos fiscais e perdão da dívida com os bancos públicos aos grandes empresários é a mesma cultura que chama de vagabundo quem recebe o Bolsa Família.

O sistema é tão cruel que ricos fazem até mesmo com que os próprios pobres sintam vergonha de sua pobreza, pois a consideram como resultado de um fracasso pessoal e não de um arranjo socioeconômico.

Tenho usado aqui o termo “pobre”, mas é necessário que se esclareça que a pobreza tratada no texto não se refere somente a privação de dinheiro mas também privação de capacidades e o não desenvolvimento de diversos tipos de competências – o que faz do pobre (no sentido comum) um ser pobre também no nível imaterial.

Nessa esteira, pior do que o homem pobre é a mulher pobre que foi ensinada a ser muda, pois a sujeição feminina é muito mais cruel e complexa do que a sujeição de classes.

É dever das instituições próprias de nossa sociedade e de cada um de nós vetar a discriminação, a opressão e a exploração e criar condições para que todas as pessoas participem em pé de igualdade da educação e da cultura.

Em um lugar onde a democracia funcionasse, seria também obrigação de todo ser humano apoiar qualquer medida e política pública que contribuísse para a diminuição da desigualdade e reparasse injustiças históricas.

Nesse sentido, por tudo que já vi acontecendo nesse país, não houve medida mais eficaz e que representasse com mais propriedade essa reparação histórica do que o Bolsa Família.

Para finalizar, gostaria de dizer que lá pelos idos de 1950 os índices de crescimento econômico do Brasil estiveram entre os maiores do mundo. No entanto, nessa mesma época, vimos um aumento gigantesco da desigualdade social e da exploração. Em outras palavras, um país crescer economicamente não quer dizer um aumento generalizado nos padrões de vida.

Jamais evoluiremos como sociedade se um programa público que visa diminuir a pobreza – como o Bolsa Família – for considerado como paternalista.

A falta de capacidade de se colocar no lugar do outro nos trouxe a essa tirania ética na qual pessoas se recusam a apoiar políticas de justiça distributiva e de transferência de renda que deveriam ser consideradas por todos como uma política de urgência moral.

Foram 15 anos do Bolsa Família. Milhões de famílias beneficiadas e uma queda considerável na mortalidade infantil.

Seu futuro a nós pertence.

Justiça acima de tudo. Deus ao lado de todos.

2 comentários em “15 anos do Bolsa Família. Justiça acima de tudo. Deus ao lado de todos.

Participe! Comente você também!