Deus me livre ser fanático pelo PT!

Preciso lhes contar uma história que aconteceu hoje.

Passei o dia com um grupo de petistas que me fazem sentir um polvo. Explico: tenho agora vários braços para além dos meus que parecem dez. Quando vocês me virem andando por aí saibam que não sou eu e sim um coletivo de nós.

Antes que vocês venham julgar, saibam que estamos longe de ser fanáticos pelo partido. Inclusive, vale observar, temos problemas sérios com quem é fanático pelo PT.

São insuportáveis.

Eles acham que o PT é o melhor partido do mundo e ficam levantando teorias.

Meu grupo não.

Tudo petista sério.

Aqui não achamos nada. Temos certezas. Não levantamos teorias. Chegamos com a prática.

Um petista sério pode ter visto o PT tirar o país do mapa da fome, criar milhares de empregos, construir Universidades e Institutos Federais e o salário mínimo aumentar, mas ele vai e diz: falhamos nisso falhamos naquilo.

É como a Gisele Bündchen passando um batom.

A gente acha que sempre pode ser melhor daquilo que vemos no espelho.

Não somos simpatizantes do PT. Nananinha. Aqui a gente faz reunião com bandeiras estendidas. Petista que é petista não desperdiça tempo com sentimentos pequenos como a simpatia. Aqui é paixão eterna para cima.

A gente se reúne toda semana para decidir o que queremos decidir na semana que vem. Tem votação sempre porque temos apego a esse conceito: o voto.

Votar para nós é um tipo de modalidade olímpica. Se não tiver nada para votar na semana, a gente inventa. É importante a prática.

Quando uma amiga saiu de uma plenária que não pude ir, ela me ligou e disse:

– Elika, quando saí da reunião algo horrível aconteceu. Levei um tombo e quebrei os dois pulsos.

Eu, petista linda e doce que sou, disse:

– Sinto muito. Me conta: o que foi decidido hoje na reunião?

Claro que isso é um exagero. Minha amiga não quebrou dois pulsos e sim um.

Petista que é petista arruma confusão com qualquer um que não consegue ter opinião. Arruma confusão também com quem pensa diferente. E gasta uma energia infinita tentando convencer até quem concorda com a gente para garantir que não vai mudar de opinião lá na frente.

O nível é esse.

Acabada a nossa reunião hoje que durou o dia inteiro com um breve intervalo para o almoço, alguns falaram que iam pedir uber.

Houve confusão.

Normal.

Afinal, precisamos fazer nossa economia interna movimentar e não estamos aqui para dar dinheiro para empresa estrangeira, disseram uns.

Teve debate depois de sete horas reunidos debatendo.

Nós, petistas sérios, somos incansáveis.

Votei a favor do táxi-rio e tratei de pedir minha corrida com 40% de desconto que o aplicativo me dá. Para quem não sabe, o aplicativo oferece descontos nas corridas que variam de 10 a 40%. Petista não é burro e vai lá e escolhe o maior desconto que muitas das vezes fica até mais barato do que Uber.

E quem pensou que a história está no fim se enganou mais do que aqueles que acharam que tirando o PT do poder o povo melhoraria de vida.

Aqui começa a minha saga.

Mal entrei no táxi – acompanhada de Lucimar e meu amigo Paulo – o taxista começou a reclamar “do cliente que só escolhe o maior desconto e se lixa para o motorista que precisa fazer a manutenção do carro e tem família para sustentar”.

-Tem gente que paga no cartão oito reais, moça! Não dá. É muita falta de senso!

A minha corrida ia dar 28 reais com aquele desconto gostoso. Eu já havia separado 30, crente que estava arrasando no exercício da cidadania deixando o troco para o motorista.

Eu precisava me explicar.

-Mas o aplicativo dá essa opção de desconto, Miguel. Quem vai escolher um desconto menor podendo escolher o maior?

– Quem? Quem pensa no outro, moça! Por isso táxi tá acabando! Crivella que inventou esse aplicativo!

– Mas vocês não estavam gostando do Crivella? Ouvi de um colega seu dizer que…

– Moça, eu tenho muito colega burro. Não é porque é taxista que eu vou defender. – E desatou a reclamar de tudo de ruim que a categoria estava passando dizendo que em vinte anos trabalhando nunca esteve tão mal de vida. – Pior é ver gente doente balançando a bandeira do PT. – Falou Miguel.

Desse jeito, gente. O papo mudou que nem sei como.

O PT está para o Brasil tal e qual Platão para a filosofia. Você cita qualquer político, elogia a reforma de uma calçada, se queixa do preço do gás ou pede Anitta no Rock in Rio e o cidadão vai e desata a falar do PT.

– Minha filha entrou para Universidade Federal e ficou doente. Deu de balançar a bandeira do PT também. Para mim, moça, quem balança bandeira do PT é doente!

Galera, eu fatidicamente estava, pela primeira vez na vida, carregando na mochila cinco bandeiras do partido e dois bonés porque fiquei com a incumbência de lavar nosso manto sagrado e nosso capacete da alegria.

Imagina.

Só imagina.

– Eu votei no Bolsonaro, moça. Falam que ele é homofóbico porque arrumou treta com o Jean Uílis que só virou deputado porque foi bígui broder. Nem no Brasil o cara tá mais e ficam chamando Bolsonaro de homofóbico por causa desse Jean.

Não me calei. Claro. Fiz algumas perguntas.

– Miguel, na época do PT, o senhor estava ruim, economicamente falando?

-Eu tinha tudo, moça. Tinha assinatura de tudo. Sky, Net, Claro… Minha geladeira era cheia de longui néqui. Agora não tenho uma para beber quando chegar em casa. Ontem não tinha dez reais para dar para meu filho, moça. Mas é mole governar quando se tem dinheiro. Quero ver sem nada! – terminou Miguel.

-Miguel, que medidas estão sendo tomadas pelo seu presidente para que pessoas como o senhor melhorem de vida?

-Não sei, moça. Mas preciso confiar no cara né.

Não vou me estender mais. Daí para frente, é suficiente dizer que estava diante de um eleitor confesso de Bolsonaro que dizia que o Brasil não está bom porque vai levar tempo para consertar e que o PT isso o PT aquilo.

É necessário observar que tive um dia muito produtivo e havia felicidade e esperança dentro de mim.

A corrida terminou. Miguel soube que eu era petista quando estava quase chegando em casa.

Paulo ouviu tudo em silêncio e resolveu reiniciar, pasmem, no mesmo táxi, uma outra viagem até sua casa na Cruz Vermelha. Logo ali perto.

Chegando no destino, Miguel disse para meu amigo que achava que tinha me chateado e Paulo (que sabia que ele ia dizer isso) respondeu:

– Ela com certeza não ficou chateada. Ela ficou muito preocupada com você que está perdendo tudo e dando o apoio para quem está pouco se lixando para sua categoria.

Paulo estava se referindo ao estranho fenômeno do gado que aplaude quem lhe tira o pasto.

Miguel pensou por três segundos.

Talvez menos.

Apertou a mão do Paulo e foi pegar, certamente, outros petistas porque muitos de nós temos essa mania de escolher o táxi para fortalecer a economia nacional.

Terminamos o dia satisfeitos como aqueles que tiram do forno um bolo cheiroso. E não há bolo de festa sem cereja. A nossa foi esses míseros segundos que Miguel (quero acreditar nisso) cogitou que algo estava fora de lugar.

Petista fanático tem essa mania de acreditar que a Terra é redonda e que o mundo dá voltas.

Nós, petistas sérios, vamos além.

Miramos na reviravolta.

Cremos que nossa missão é infinita, a ditadura, não. E, fofos e sérios que somos, acreditamos que (juntamente com o amor) o diálogo vencerá.

4 comentários em “Deus me livre ser fanático pelo PT!

  1. O diálogo vencerá, o voto vencerá, o taxista um dia acirrara a corrente, enfim tenho a certeza que o mar está revolto e hoje só quero que Lula Livre!
    Abraços fraternos

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