
Bateram na porta. Ouvi. Perguntei quem é. Ninguém respondeu. Abri a porta. Ninguém entrou. Não abracei ninguém. Ninguém sentou. Servi um pedaço de bolo para ninguém. Me arrumei para ninguém. Falei o que me afligia, das lembranças boas que guardava, disse que tinha planos e contei sobre eles para ninguém. Depois fez-se um silêncio e eu olhei fixo e sorri de lado para ninguém. Mostrei a casa arrumada. Ri do produto errado que usei e que manchou a roupa toda, mostrei o estrago que fiz para ninguém. Deu a hora da janta. Subi uma cerveja para o congelador e enquanto cozinhava contava sobre o livro que penso em escrever para ninguém. Coloquei dois pratos na mesa. Um copo porque não faço tim tim com ninguém. Na hora de abrir a cerveja a mão tremeu. A garrafa caiu no pé de ninguém. Quebrou toda. Fui limpar e me cortei um pouco. Doeu muito. Ninguém viu.
Ninguém.