Breve reflexão

Estou refletindo aqui e me lembrei de uma história.

Um dia, do nada, meu filho Hideo, que na época tinha 8 anos, começou a ficar estranho andando atrás de mim pela casa. Ele sempre sentiu muito medo mas estava fora do normal.

Parei para perguntar o que estava acontecendo e ele me falou: “Eu estou com problemas com os espelhos dessa casa.”

Eu que sempre fui toda cética achei que era coisa de criança. Alucinação, talvez.

Fiquei com ele no quarto dele até ele dormir.

Um detalhe que não é detalhe. Eu tinha uma cachorrinha da idade dele, a Pati. E ela sempre ficava por perto como uma sombra.

Quando Hideo dormiu, eu fui para o meu quarto com a Pati na minha cola sempre. No meio do caminho, havia um espelho grande e quando ela o viu, desatou a latir loucamente.

Ela já conhecia a casa toda há anos e sempre passou por ali deboa.

Acendi a luz.

Poderia ser alguma sombra que ele estava estranhando.

Nada. Ela continuou com os olhos fixos no espelho latindo e querendo avançar no que estava vendo. Latindo com ódio canino desse que envolvem amor ao dono.

Peguei a Pati no colo e fui para meu quarto. Ela seguia inquieta querendo sair do quarto.

Acalmei a Pati. Acalmei bem porque precisava avaliar toda aquela situação.

Quando ela estava quietinha, peguei ela no colo e refiz o caminho.

Mesma coisa.

Ao olhar para o espelho, desatou a latir babando de ódio.

Eu estava sozinha em casa com as crianças e a Pati. Era de noite.

Eu, óbvio, estava bolada com tudo aquilo já que sempre desdenhei desse tipo de história.

Peguei a Pati e coloquei em vários ângulos diferentes em frente ao espelho. Ela não parava de querer avançar nele.

Levei, depois, a cachorrinha para o meu banheiro. Ela estava calma no chão. Quando peguei no colo e ela viu o outro espelho, mesma coisa. Começou a latir.

Enfim. Ela estava vendo o mesmo que meu filho e, de fato, havia algo ali.

Acreditem. Eu fiz todos os testes com ela. Com a luz apagada ou acesa, ela latia como os que têm algo a dizer.

Apaguei a acendi a luz várias vezes. Coloquei em outros ambientes com espelho. Antes, sempre a distraía.

Como lidar com essa situação?

Entendi que seja lá o que fosse que eles estivessem vendo não sairia dali para nos machucar. Se não, já teria saído. Resolvi impor uma lógica que nem sei se cabia. Mas assim pensei há exatos 20 anos.

Peguei as crianças no colo (pesadas para um caramba) que já estavam dormindo e fiquei ao lado delas na minha cama com a cachorrinha no nosso meio.

No dia seguinte, com calma, expliquei para o Hideo que seja lá o que ele visse nos espelhos que era para pensar em coisas boas e não se preocupar.

Falei que há coisas que a gente não entende mesmo e que o amor e bons pensamentos sempre são armas boas até para seres de outra dimensão.

Durante vários dias fiz mais testes com a minha cachorrinha. Ela chegou a esboçar um rosnado um dia, mas foi tímido. Passou.

Meu filho disse que nunca mais viu nada.

Enfim, contei isso porque olhei para o espelho agora há pouco e vi uma mulher toda descabelada, meio grisalha, com olheiras e com um olhar triste e desesperador.

Vendo o meu reflexo, lembrei-me dessa história e resolvi contá-la pela primeira vez para vocês.

5 comentários em “Breve reflexão

  1. Isso são os nossos medos e nossas alegrias. Quando estamos muito tristes, vemos nossa alma sofrida. Seja adulto ou criança e os animais enxergam espíritos. Eu morava em uma rua próximo a uma capela de velório, então todos carros fúnebres com caixão tinha que passar enfrente minha casa para ir ao cemitério. Eu tinha um casal de cachorros labrador, antes do carro fúnebre chegar enfrente a minha casa, eles corriam chorando a esconder. Chamei um médium espírita kardecista no meu lar, e ele disse que meus cachorros viam o espírito do morto que acompanha o caixão. Não acreditei, mas tem gente que acredita.

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  2. Muito comovente e sensivel elika,quem nao tem para contar uma experiência semelhante? A diferença é que para muitos passa desapercebida,nao gera reflexões portanto,diferente de você a quem ,além de gerar aproveitou para compartilhar conosco,sou dentista e tenho um punhado deste tipo de experiência,mas poucas são as pessoas que refletem,obrigada por este presente,e sim,estamos todas assim,no espelho,descabeladas e com olhar desesperador,fora os brancos dando ar da graça que chegam pra ficar! Este olhar é de quem percebe,mas no fundo a esperança nos move.Obrigada,obrigada.

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