O dia que andei muito de windsurf

Foto: Bárbara Lopes

Teve um dia que eu estava passando férias em Florianópolis na casa de uma gente muito rica cujo quintal se emendava na areia da praia em Canasvieiras.

E onde tem gente rica tem gente fazendo coisa de rico.

E eu lá no meio daquilo já cheia de filhos e boletos.

Um pouco mais ali na frente, tinha aula de windsurf e, do quintal daquela mansão, eu ficava babando vendo uma galera planando na água controlando uma vela em cima de uma prancha como quem anda de patinete.

Parecia fácil e eu quis.

Contei as moedas e vi que dava para uma aula. O valor de uma hora, para vocês terem ideia, era o equivalente, hoje, a 4 ou 5 sacos de arroz. Estava de férias, havia trabalhado pacas. Julguei no alto do meu privilégio que merecia.

A moça disse que seria bom fazer ao menos umas três aulas para eu aprender direito as manobras a ponto de poder ir para mais longe. Não duvidei, mas não era questão de opinião e sim de matemática financeira.

Na hora combinada da aula, avisei para minha galera que ia me ausentar. Lá fui eu com toda minha inteligência cheia de conhecimento de física quântica e anos acumulados de sedentarismo ver qual era daquele esporte.

A moça que ensinava era uma surfista-senhora. Magra, loira e com couro cor laranja-Trump textura jacaré-vacinado. Falava portunhol. Em Santa Catarina tem muito disso: argentinos.

A primeira coisa é aprender a montar a vela. Digo, colocar aquela lona no mastro. Não curti. Para que isso? Nunca ia montar aquilo em Madureira. Tinha pressa como os que pedem comida pelo aplicativo.

Eu queria logo brincar como via, há dias, outras pessoas fazendo. Tive que perder, porém, uns 15 minutos daquela aula carééésima erguendo aquele peso. Descobri que a força que uma leve brisa tem quando bate num pedaço de plástico se equivale a fúria de um furacão.

Depois de tanta montagem e desmontagem, tira casaco coloca o casaco, grazadeus amém fomos para o mar.

EBAAAAA.

Mais instruções. Affff.

Naquela época eu sabia que tinha surdez moderada e tinha já indicação para usar próteses. Mas não falei sobre isso para a instrutora porque houve um momento na minha vida que tinha vergonha de não ser como a maioria.

Lembro-me de que estava pê da vida porque estava perdendo tempo de aula com ela tagarelando e dando nome em cada pedaço daquele brinquedo. Para quê isso, gente?

Ela falava da rosa dos ventos, ângulos, direções e tentei poupar o tempo dela dizendo que, de vetores, eu sei tanto que até dou aula.

Até que chegou o momento de eu ficar em pé naquilo.

Quem disse que conseguia.

Lembra do que te falei, ela insistia.

O pouco que consegui ouvi-la não prestei atenção como fazemos com aqueles que começam a contar uma história quando o garçon chega com o pedido.

Eu queria brincar e só tinha aquela oportunidade. Tenso. Mega tenso.

Toda hora eu caía na água.

E ela ficava insistindo em explicar.

Já estava ficando triste e irritada com tudo.

Estávamos no mar e eu só entendo o que a pessoa fala se olhar para a boca dela.

A mulher estava em um caiaque e eu na prancha a uma distância que mesmo eu olhando não entendia patavinas.

A hora passando e eu só pensava no dinheiro que tinha dado para ficar passando por aquela humilhação de não conseguir mais encontrar meu centro de massa.

Balançava como um boneco de posto sacudindo aquela vela para frente e para trás e água.

Subia na prancha e em menos de um minuto… água de novo.

E a mulher gritando orientações pelas minhas costas.

Caraca.

Não acredito que paguei para passar por aquela situação, pensava como os que compram um vidro de azeitonas bem grandes e suculentas, mas não conseguem abrir sozinhos.

Até que um milagre aconteceu.

Os ossos se ajeitaram com a vela.

O equilíbrio se fez presente e bons ventos sopraram em conjunção perfeita de Madureira com Canasvieiras.

A prancha saiu do lugar e começou a ganhar velocidade.

Quem acompanhava de longe via uma vela sendo soprada pelo vento. Se aproximasse, veria uma mulher deixando tudo para trás.

A sensação era maravilhosa.

Via um horizonte, um céu lindo, estava numa velocidade que, ouso dizer, nem os surfistas mais experientes alcançaram.

Sentia que a instrutora estava ao fundo gritando, mas se eu olhasse para trás, cairia e sabe deus nosso senhor quando iria encontrar aquele equilíbrio raro – fruto do encontro dos alísios com a minha lombar.

Eu só pararia quando o vento mudasse de ideia porque a minha era fixa: usufruir ao máximo de cada centavo como fazemos quando vamos a um rodízio de pizza.

Eu era parte de um cenário lindo e gritava urrú em pensamento. Era, enfim, uma mulher equilibrada andando em linha reta.

Até que olhei sorrindo para o céu e de uma nuvem saiu Mufasa.

Lembre-se de quem você é. Disse ele.

Quando a nuvem se fechou eu caí na água.

Subi de novo na prancha e foi então que olhei onde estava.

Possivelmente no Pacífico pelos meus cálculos.

As pessoas estavam minúsculas e bem lá longe – mas muito longe mesmo – vinha a instrutora remando rápido no caiaque.

Tentei ficar em pé, mas o vento não mais ajudava. O jeito foi ficar sentada vendo o mundo parado embaixo de mim como fazem aqueles que experimentaram um hatuna matata nível Advanced Plus Master.

Até que, depois de um bom tempo, a mulher se aproximou a ponto de eu escutá-la.

Ela estava demasiadamente irritada. Fiz sinal que não ouço direito, pedi desculpas.

Ela me deu o remo, mandou eu subir no caiaque e assumiu o windsurf.

A minha experiência não era suficiente para me fazer voltar contra o vento, disse ela quando reclamei em voltar de caiaque e ela no meu brinquedo.

Odeio caiaque. Cansa. É lento. Tem que remar. Não gosto.

Demorei muito voltando.

O suficiente para refletir sobre tudo e me conhecer melhor.

Desde então, percebo que muitas vezes que estou feliz e equilibrada, não tenho a menor noção do que esteja fazendo.

Lembrei disso porque tenho 500 livros para autografar e acabo de impulsionar mais uma postagem distribuindo autógrafos. Podem ficar tranquilos que já estou remando em direção à terra firme.

Como dialogar com as capitãs cloroquinas

Nesta semana, teremos a médica Mayra Pinheiro, a capitã cloroquina, depondo na CPI do genocídio. Ela ficou “famosa” em 2013 quando gritou nos ouvidos dos médicos cubanos, na ocasião da chegada deles ao Brasil pelo programa Mais Médicos, para que voltassem para a senzala.

Ganhou mais holofotes quando virou secretária da saúde no governo Bolsonaro e defendeu o uso de tratamento precoce que a comunidade científica já mostrou não ter eficácia comprovada.

Quero alertar que será uma médica que de burra não tem nada contra senadores e senadoras. Aposto que Mayra Pinheiro vai vir segurando papéis e falará sobre método científico e eficácia com a autoridade conferida aos profissionais da saúde. Será uma médica trazendo “dados” contra senadores. O debate será tenso e extremamente perigoso.

O assunto é muito delicado, profundo e controverso e alerto que Mayra Pinheiro pode deixar quem anda defendendo a ciência de uma forma ingênua no chão.

Sem querer fazer propaganda – mas já fazendo – é sobre isso (e mais outras coisas) que trato no meu novo livro Como dialogar com um negacionista publicado pela editora Livraria da Física.

A polarização “Eles negacionistas são burros” versus “Nós defensores da Ciência somos inteligentes” não se sustenta e, infelizmente, teremos mais um caso nesta semana mostrando os riscos de seguir por este caminho. Muitas vezes, estou sendo motivo de piada nos comentários de minhas postagens em redes sociais pelas pessoas que me seguem quando aponto a necessidade de refletirmos melhor sobre o assunto e sobre a necessidade do diálogo. Gostaria, sinceramente, de estar errada em insistir nisso. Porém, percebo todo santo dia que desprezá-lo é contribuir para o aumento do caos e do número de mortes.

Há como defender o uso e o não uso de um medicamento, como estamos vendo neste país. Porém, como o debate nunca se aprofunda, a população paga, muitas vezes com a própria vida, por ficar no meio desse tiroteio de argumentos.

Como uma pesquisadora, defensora da ciência e atenta ao mal em potencial que o capitalismo dissemina em qualquer esfera, sou uma das primeiras a duvidar e a defender a dúvida em relação às “verdades científicas”. Sei muito bem que há pesquisas financiadas por empresas e que um cientista não é um robô e sim uma pessoa, portanto, está sempre sendo atraído por coisas que despertem seus interesses e vão ao encontro de seus valores. Dito de outra forma, defendo a ciência sem perder a capacidade de prestar muita atenção ao modo de fazer científico e, sendo o caso, criticar e apontar eventuais erros. Isso é bom, honesto e saudável.

O ponto é que com o avanço da extrema direita, o que era bom, honesto e saudável virou arma na mão dessa gente mal intencionada. Uma coisa é fazer uma crítica construtiva, ser agente de uma mudança e lutar para que os benefícios da ciência sejam democratizados. Outra, bem diferente, e extremamente perigosa é promover a falsa simetria dos argumentos desqualificando como um todo o trabalho de especialistas baseado nas controvérsias internas e naturais que ocorrem no curso da ciência fazendo afirmações sem sentido e totalmente levianas, como por exemplo, que dentro das instituições de pesquisa só tem comunista ou que o tratamento precoce tem eficácia comprovada.

Por isso, insisti no meu novo livro sobre a importância de não sermos ingênuos quando entramos nessa discussão. Para quem acha que com um negacionista é burro e que a coisa se resolve com um taco de beisebol, como leio em inúmeros comentários todas as vezes que compartilho o lançamento do “Como dialogar com um negacionista”, penso que essa pessoa seria facilmente esmagada com as palavras e a articulação da capitã cloroquina.

Ainda que ela pague pelos crimes que cometeu e responda pelas mortes que poderiam ter sido evitadas, se deixá-la falar (e é necessário que ela fale numa CPI), as falas serão recortadas e transmitidas em grupos de whatsapp com manchetes sensacionalistas em capslock comemorando “a vitória da doutora contra Renan Calheiros”, algo nessa vibe: VEJA MAYRA PINHEIRO JANTANDO RENAN CALHEIROS. Aff.

O grande público que não terá tempo nem disposição para acompanhar toda a história e a CPI possuirá, mais uma vez na mão, um material tão fácil de ser transmitido como um vírus.

Tempos complicados eram aqueles que o povo ia para a rua “por 20 centavos”. Os tempos, hoje, estão complicadíssimos.

Bolsonaro quis ter o controle da Anvisa, do Inpe e do Ibama achando que concentrar em si a autoridade dessas instituições resolveria a questão da desconfiança – que volto a dizer, é saudável no meio acadêmico e científico porque nos deixa alertas quanto aos erros possíveis de serem cometidos. Estar atento ao jogo é importante, querer ganhar mudando as regras é ausência de caráter. Percebem a diferença?

Penso que estamos nesta lama – e temos ainda como nos enterrarmos mais – porque estamos fazendo uma defesa da ciência que não se sustenta. A capitã cloroquina tem capacidade de derrubar com menos de dez minutos de fala o discurso de quem começa a discussão defendendo a ciência pelo método científico que é um tema de extrema complexidade. Temos uma ampla bibliografia sobre os conceitos de verdade, de ciência e, portanto, do método científico. São necessárias leituras e disposição para esse diálogo.

Minimizar ou ridicularizar as afirmações de Bolsonaro e de seus pares é desconsiderar algo super importante: as narrativas mentirosas não são frutos de uma mente alucinada e sim de uma estratégia política que muitas pessoas, por reduzir o negacionismo a uma questão cognitiva, acaba mordendo a isca.

A falsa simetria precisa ser escancarada nesse debate. A balança não está equilibrada de forma alguma, ou seja, não é somente “uma questão de opinião” ou de liberdade para profissionais de saúde prescreverem o que acham melhor para o paciente. Ou, como disse Bolsonaro na live de 16 de Julho “Se não tem alternativa, por que proibir? ‘Ah, não tem comprovação científica que seja eficaz.’ Mas também não tem comprovação científica que não tem comprovação eficaz. Nem que não tem, nem que tem.” Não se trata disso. Muitas vezes, o melhor é, em caso de dúvida, não fazer. O “tanto faz” é falso neste caso.

Debater argumentos científicos sobre eficácia da cloroquina na CPI é tenso. Acredito que seja possível somente se as instituições forem devidamente valorizadas.

Como eu acredito que as instituições andam juntas com a questão da saúde pública, há tempos recolho algumas informações sobre o tema. Faço uso delas para fazer um bom debate com quem vem falar sobre tratamento precoce. Divido com vocês parte da minha munição. Acho que vamos precisar, mais do que nunca, usá-las nesta semana.

1 – A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda tratamento precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais.

Fonte: https://infectologia.org.br/2021/02/25/repudio-ao-tratamento-precoce/

2 -Não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19. A orientação da SBI está alinhada com as recomendações de sociedades médicas científicas e outros organismos sanitários nacionais e internacionais, como a Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e a da Europa (ESCMID), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde do Brasil (ANVISA).

Fontes:

https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/hcp/therapeutic-options.html

https://www.idsociety.org/covid-19-real-time-learning-network/therapeutics-and-interventions/hydroxychloroquine/

https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/noticias/noticias/208-fda-veta-uso-de-cloroquina-e-hidroxicloroquina-contra-a-covid-19-nos-estados-unidos

https://eacademy.escmid.org/escmid/2020/covid-19/293257/n.petrosillo.e.presterl.j.p.stahl.m.sanguin

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53370870

3- A agência regulatória norte-americana, o FDA, elenca uma lista de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19. Entre eles: fosfato de cloroquina, sulfato de hidroxicloroquina e ivermectina.

Fonte:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53058069

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/06/15/eua-suspendem-uso-emergencial-da-hidroxicloroquina-contra-covid-19

4- O kit-covid além de não ajudar, está causando problemas sérios e levando pacientes a óbito. “O médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, destaca que entre 80% e 85% das pessoas não vão desenvolver forma grave de covid-19. Para esses pacientes, usar o “kit covid” não vai ajudar em nada. Também pode não prejudicar, SE a pessoa não tomar doses excessivas nem tiver doenças que possam se agravar com esses medicamentos.”

Fonte:

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/paciente-entre-na-fila-do-transplante-de-figado-por-usar-drogas-do-tratamento-precoce-contra-covid.shtml

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56457562

https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2021/03/4913536-coronavirus-chefes-de-utis-ligam—-kit-covid—-a-maior-risco-de-morte-no-brasil.html

https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,apos-uso-de-kit-covid-pacientes-vao-para-fila-de-transplante-ao-menos-3-morrem,70003656961

5 – Segundo chefes de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência no Brasil, isso tem contribuído de diferentes maneiras para aumentar as mortes no país, por exemplo, retardando a procura de atendimento pela população, absorvendo dinheiro público que poderia ir para a compra de medicamentos para intubação, e dominando a mensagem de combate à pandemia, enquanto protocolos nacionais de atendimento sequer foram adotados,como mostrou a BBC News Brasil.

Fonte:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56457562

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-02-26/estudo-sugere-que-pessoas-em-tratamento-precoce-tiveram-taxas-mais-altas-de-infeccao-por-covid-19-em-manaus.html

6- Os números da pandemia em todo mundo mostram que a maior parte das pessoas que contrai covid-19 se recupera. Por isso, segundo especialistas, remédios apresentados como “cura” acabam “roubando o crédito” do que foi apenas uma melhora natural.

Fonte:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-53896553

7- Temos que tomar cuidado com as fakenews e apurar com detalhes as notícias verificando as fontes. As notícias que afirmaram que o tratamento precoce zerou internações por tratamento precoce são todas falsas.

https://www.aosfatos.org/noticias/e-falso-que-tratamento-precoce-zerou-internacoes-por-covid-19-em-15-cidades/

8- O uso da Ivermectina é desencorajado por entidades médicas e farmacêuticas, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela própria fabricante do medicamento. Já há casos de hepatite medicamentosa por conta do uso excessivo do medicamento.

De acordo com o NIH (National Institutes of Health ou Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos), ainda não há dados suficientes sobre a eficácia da ivermectina. No dia 5 de março, o FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA) publicou um alerta pedindo que a população dos Estados Unidos não tomasse o vermífugo para tratar a Covid-19.

Fonte:
https://www.medicina.ufmg.br/kit-covid-o-que-diz-a-ciencia/

https://www.aosfatos.org/noticias/e-falso-que-novo-estudo-comprova-eficacia-da-ivermectina-contra-covid-19/

https://www.covid19treatmentguidelines.nih.gov/antiviral-therapy/ivermectin/

https://www.fda.gov/consumers/consumer-updates/why-you-should-not-use-ivermectin-treat-or-prevent-covid-19


O que fazer? Sigamos os que dizem os maiores especialistas. O Brasil, como estamos vendo, não é exemplo para nada na luta contra esse vírus.

A recomendação é: usar máscaras boas como PFF2 e N95 (as de pano já não estão dando conta mais) e manter o distanciamento social enquanto a vacina não chega.

Fonte:

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/03/30/interna_gerais,1252267/conselho-de-saude-culpa-aglomeracoes-e-falta-do-uso-da-mascara-por-colapso.shtml


Enfim, torço para que os senadores e as senadoras preparem-se muito bem e que as pessoas responsáveis pelas mortes que poderiam ter sido evitadas paguem por cada uma delas. Creio que Mayra Pinheiro terá o que merece em um breve fututo. Temo, porém, que, antes, ela faça mais estragos.

Sigo na esperança de que diálogos aconteçam. Mas, para tanto, é necessário descer do salto alto e parar de subestimar a capacidade intelectual do adversário político. Somente assim, conseguimos nos preparar corretamente para eles sem nos igualarmos, em atitude, ao nosso inimigo.

Dia do trabalhador perceber a força que tem

Hoje é dia do trabalhador perceber a força que tem sua classe.

Golpe de 2016. O que temos de lá para cá? Temos menos direitos e menos futuro. Paulo Guedes que o diga… O ministro da economia sinalizou de forma escancarada que esse negócio de pobre querer futuro longevo lhe deixou indignado. Não pode!, disse Guedes. Na lógica liberal, pobre tem que viver menos para não sobrecarregar a previdência.

Logo depois do golpe, veio Temer e a primeira coisa que fez foi retirar direitos dos trabalhadores.

Mas… nada neste Brasil é tão ruim que não possa piorar. Passarinho na gaiola canta porque não sabe que a pessoa que lhe dá água e comida também explora e oprime. Mas seu dono faz isso como se tivesse fazendo um bem e o passarinho acredita que está sendo bem cuidado. Assim acontece com os liberais que exploram dizendo que estão fazendo o melhor para o trabalhador.

Sob termos que enganam como “empreendedorismo” e ”trabalho flexível”, retiraram direitos trabalhistas e previdenciários. Teve passarinho cantando defendendo seu dono porque não sabe o tamanho da floresta que perdeu.

Ontem foi o leilão da Cedae. Mais essa. Esse processo de privatização de empresas e dos serviços públicos está sendo feito por quem alimenta passarinhos, volto a dizer, que estão em uma gaiola. Falam em ineficiência do Estado para que o passarinho acredite que morar em árvores é pior do que em gaiolas.

Empresário só investe onde lhe dá lucro, passarinho. Percebe? Em lugares que o povo não tem dinheiro para pagar os serviços prestados, empresário nem aparece, meu bem. Essa é a realidade. Temos inúmeros exemplos para comprovar que o discurso usado para tornar privado o que é público é uma grande falácia.

Vimos o quão desastrosa foi a transferência para organizações sociais de serviços de saúde e assistência social, sob a forma de parceirização e contratualização. Falaram o que para você, passarinho? Que isso ia beneficiar toda a revoada, lembra? Que nada. Foi uma das maiores fontes de corrupção e serviços precarizados para os trabalhadores.

Enfim, hoje, é o dia do trabalhador – que anda perdendo seus direitos, vale pontuar. Mais do que nunca, é um dia para conscientizar que podemos voar.

A pior gaiola é essa: mesmo diante da porta aberta, o pássaro não acredita que consegue adejar. A pior gaiola está naquilo que nos fazem acreditar.

Pássaros do mundo, uni-vos! Hoje é dia de luta, de reflexão e, como mostrou a história, este dia existe porque no dia primeiro de Maio de 1886 houve uma bela revoada.

Primavera na minha sala

Ontem, quando fui dar aula remota, algo aconteceu.

Há muitas pessoas – como eu – dando aulas em casa e é comum ninguém abrir a câmera porque não deixa de ser uma invasão de privacidade. Há um quarto bagunçado, uma sala com pessoas da casa circulando, um irmão dormindo na cama,… daí, nessa cultura que surgiu em tempos de pandemia, o normal é a gente ensinar sem ver quem está aprendendo.

Nem preciso dizer o quão estranho é isso. Não tenho ideia do quão traumatizados sairemos dessa experiência mesmo reconhecendo que há, nelas, grandes aprendizados.

Como várias professoras deste Brasil, tenho feito o meu melhor. Acho que nunca trabalhei e me preocupei tanto com meus alunos a minhas alunas. Se está sendo difícil ensinar, para eles, não está sendo nada fácil aprender.

Tenho procurado fazer de tudo para que esse momento estranho seja producente e minimamente agradável. Esqueço minhas fragilidades e me lanço neste oceano chamado ensino remoto como quem mergulha numa água turva querendo trazer para a superfície uma pedra bonita.

Mas está tão difícil não ver o rosto deles, gente.

Ao término de cada aula, fico olhando ainda para a tela do computador como alguém que olha para o horizonte segurando um cachimbo.

Sem a comunicação corporal e facial, eu não tenho retorno imediato sobre o que estou dizendo. E, meudeus, como me sinto só em vários momentos nesta casa.

Tento me apegar à ideia de que tudo vai passar, mas, cada dia que acaba, o fim de tudo isso parece mais distante.

E, ontem, quando comecei a falar, algo diferente aconteceu.

As câmeras abriram.

Fiquei olhando todo mundo como quem observa o passado, o presente e o futuro de uma só vez. Via a minha tela como uma professora diante de sua classe.

Senti saudade. Mas senti também a ausência dela, se é que me entendem.

Desde então, estou tentando contar para vocês isso, mas daí eu choro enquanto escrevo. Leio o que redigi. Por mais que eu tente, não darei conta de mostrar a intensidade do que vivi.

Recebam esta minha tentativa. Preciso dividir com alguém a primavera que passou, ontem, pela minha sala.