
Minha mãe estava andando na rua, tropeçou, caiu, teve que operar o pulso e está engessada. Ela passa bem. Exatamente agora acabou de dar umas boas gargalhadas com a Narinha.
O texto não é sobre a lesão dela e sim sobre por que mamãe riu tanto hoje. Precisei fazer essa introdução sobre o acidente para vocês entenderem o contexto.
Nara, minha querida filha super estudiosa que canta lindamente, que está fazendo duas faculdades, que está super isolada nesta pandemia e que adora ler, enfim, Nara, a fofa, foi dar uma força para os avós. Ela deve ficar lá até minha mãe tirar o gesso.
Fofa fofa fofa.
Hoje Nara me ligou da sala onde todos estavam assistindo Olimpíadas para me contar algo.
– Mãe, você lembra que eu fui monitora na época que estudava no Cefet e recebia um salário por isso?
– Lembro sim, minha filha querida cuti cuti da mamãe.
Eu sempre morri de orgulho dela ter sido monitora de filosofia, gente.
– Sabe o que eu fiz com meu primeiro salário?
– Não, filha linda.
Nesse momento, na nossa videochamada, fiz cara de fofa. Confiando na educação que dei a ela, esperava ouvir que ela doou, investiu, comprou livros… algo nessa linha.
– Então, eu comprei meu primeiro vibrador.
Ela disse PRIMEIRO, Brasil. E isso era 10 da manhã de hoje!
Que orgulho, meu povo.
Tive que explicar calmamente, no entanto, que nem tudo ela precisa falar comigo.
Contei a ela que, com o meu primeiro salário, comprei um anelzinho de ouro que hoje não cabe mais no meu dedo. Falei isso para mudar um pouco de assunto.
– Investiu errado, mãe. – Interrompeu Nara.- Precisa aprender comigo. Quando teve o SexFair no Rio Centro, Hideo levou a gente lá e compramos um monte de coisas legais.
– “A gente”? Hideo?
– Eu e Daniel, mãe. Na época, eu estava com ele. E Hideo que sabia dirigir.
Reforcei que ela não precisava me contar tudo o que fez nessa vida loka.
– Mas é que aconteceu uma coisa aqui hoje e queria te contar.
Ela falava assustada enquanto segurava um pescoço amarelo de uma galinha de plástico que achei que fosse o que ela queria me mostrar e o motivo da ligação.
Eu seguia atenta, mas ligeiramente tensa.
Eu desconhecia aquele com formato de cabeça de galinha. Queria olhar para a Nara, mas minha curiosidade científica estava me desconcentrando.
– Mãe, a Maru…
(Maru é a doguinha da mamãe e do papai, então, tecnicamente, Maru é minha irmã.)
– A Maru, mãe, sem eu ver, – continuou Nara – começou a fuçar minha bolsa, pegou meu vibrador e começou a correr pela casa feliz da vida com ele.
E eu olhando a galinha boquiaberta de plástico imaginando como interagir com aquilo e querendo fazer algumas perguntas técnicas para avaliar o investimento.
Nara seguia narrando o incidente canino-antierótico.
– Eu estava tomando café com meu avô. Daí, minha avó apareceu com meu vibrador na mão perguntando quem tinha comprado brinquedo novo para a Maru.
– Sua avó apareceu com essa cabeça de galinha amarela em riste?
– Não, mãe. Esse é o brinquedo velho da Maru. O meu vibrador é pequenininho e lilás.
Essa informação fez com que eu me concentrasse melhor na situação.
– E o que você disse para a sua vovó, filhota querida?
– Eu expliquei para… Mãe! A Rebeca vai competir agora! – disse Nara super empolgada.
Desligamos rápido porque não é todo dia que vemos Rebeca Andrade divando nas Olimpíadas. Era a chance de vermos a primeira brasileira medalhista Olímpica na ginástica artística.
Enfim, como disse no início, mamãe está bem e, hoje, já riu um bocado com sua netinha linda.