Explicando o que é Educação para o Ministro da Educação

O ministro da Educação mostrou nesta semana, pela milionésima vez, que de Educação não entende nada. Dentre tantas atrocidades proferidas pelo pastor como a de que “as Universidades são para poucos”, Milton Ribeiro, em uma entrevista no programa Novo Sem Censura da TV Brasil, disse que “alunos com deficiência atrapalham”.

A questão da inclusão nas escolas tem um paralelo com a inclusão na sociedade como um todo. Há uma ideia obsoleta de que a pessoa com deficiência tem uma incapacidade generalizada para aprender e conviver socialmente. Tivemos muitos debates e algumas políticas públicas no sentido de derrubar esse pré-conceito. Dentre tantas coisas, tínhamos compreendido que a principal forma de não discriminar as pessoas com deficiência é que elas tenham a opção de escolher o que é mais adequado para elas.

Existe, como já disse, uma visão estereotipada e ultrapassada, como a do pastor ministro da educação, de que todas as pessoas com deficiência têm dificuldades e trazem problemas em relação à aprendizagem e à sociabilidade. É claro que há pessoas que, em função da gravidade da deficiência, não se beneficiam do ensino comum, mas são exceções. No geral, o fracasso na aprendizagem deve-se muito mais ao sistema do que à criança com deficiência. Já tínhamos avançado neste debate e compreendido que devemos focar mais no que a criança consegue fazer no que ela não consegue por conta de sua deficiência. O especialista é importante, mas a solução para os problemas da diversidade não está somente sujeita à formação de “profissionais da deficiência”. Passa por todos nós.

O modelo de Educação do pastor-ministro ficou no século passado e no radar de quem valoriza o individualismo e despreza a aprendizagem solidária e coletiva. Já tínhamos avançado 20 casas nesse debate e estávamos caminhando para escolas que valorizam muito mais todo o processo de aprendizagem do que uma nota na avaliação, muito mais a cooperação do que a competitividade, muito mais os agrupamentos heterogêneos do que os homogêneos.

Nós que trabalhamos em sala de aula sabemos que ninguém é igual a ninguém e cada pessoa tem um velocidade de aprendizado e potenciais diferentes. O bom educador sabe que não existe tutorial de como lidar e ensinar ninguém. A metodologia por vezes usada com sucesso em uma turma pode não funcionar em outra turma da mesma escola. Por isso, estávamos priorizando muito mais os projetos educativos transformadores do que os inflexíveis. Educação, para nós que trabalhamos com ela e sobre ela debatemos diariamente na nossa prática (desconhecida pelo pastor), tem a diversidade como valor e não como algo que atrapalhe.

Houve um tempo que pessoas com deficiências eram renegadas pela própria comunidade a qual pertenciam e o fato de excluí-las era considerado como uma seleção natural da espécie. Dito de outra forma, a pessoa com deficiência enfrentou uma condição histórica de séculos de exclusão social e o ministro da Educação está nessa época. Não viveu. Não conversou. Não evoluiu.

Foi a partir de rigorosas críticas ao modelo segregacionista, seu Milton Ribeiro, que passamos a compreender a necessidade da integração social. Já temos estudos mostrando que a inclusão forma cidadãos e cidadãs mais éticos, menos resistentes ao diferente e, portanto, mais livres de preconceitos. Já tínhamos compreendido, em governos anteriores, que conviver com a diversidade traz benefícios pessoais e sociais, além de estar politicamente calcado no princípio da igualdade de direitos. Ou seja, é bom para todo mundo. A humanidade sorri quando há inclusão, pastor.

Obviamente sabemos que há muitas delicadezas a serem tratadas; a formação dos profissionais da Educação é uma delas. A experiência com alunos e alunas com deficiência nos ensinou que são pessoas com potencialidades a serem desenvolvidas. A troca dessas experiências faz parte de um processo de formação continuada dos professores pela qual tanto lutamos e o ministro, certamente, desconhece.

A deficiência física ou intelectual não é um problema para a educação e sim um desafio encarado com disposição por nós que estamos na linha de frente.

Já a deficiência de caráter é um problema grave deste governo. Não são as pessoas com deficiência que nos atrapalham e sim vocês que tem sido um obstáculo para que melhoremos como sociedade.

Estávamos caminhando bem. Havia muito ainda para ser feito, é verdade. Mas estávamos indo para frente até vocês aparecerem. Dói ter que parar o que estávamos fazendo para explicar o que é Educação para um ministro da Educação ou o que é o amor para um pastor.

Obrigada, Isaac

Ilustração do meu livro Isaac no Mundo das Partículas feita por Sergio Ricciuto.

Sou uma escritora com a maioria dos livros publicada de forma independente. Isso quer dizer que se eu não fizer a minha propaganda, se eu não responder todos os comentários e  e-mails, se eu não for aos Correios pelo menos duas vezes na semana, eu não vendo esse bando de livros que tenho aqui em casa constituindo verdadeiras torres.

Esse trabalho, porém, não é nada ruim. Leva tempo, mas tem a grande vantagem de eu saber quem exatamente lê o que escrevo. Praticamente, todas as pessoas que compraram meu livro de física quântica para crianças, por exemplo, receberam o livro com o endereço escrito pela minha própria mão. 

Como a propaganda é feita pela internet por meio das minhas redes e estamos em tempos muito difíceis com uma taxa de desemprego altíssima, tem sido recorrente ver pessoas entrando nas postagens pedindo ajuda. Esse gesto não tem acontecido somente em minhas redes, mas em outras várias que possuem um certo engajamento.

Pelo fato de trabalhar com livros e haver muita gente querendo ler sem ter condições sequer para comprar comida, recebo, também, mensagens pedindo um exemplar.

Algo, porém, muito especial aconteceu que gostaria de compartilhar com vocês.

Recebi um e-mail. Era de um ex-Piloto Comercial de Avião que me contou que tinha uma excelente condição financeira mas que teve que parar de voar por causa de uma doença grave e incapacitante: Transtorno Afetivo Bipolar tipo I. Explicou que fica a maior parte do tempo na cama e que tem uma filha de oito anos com a qual conversa muito, ambos fissurados por ciência. A despesa da casa é feita pela esposa e o salário dela mal dá para pagar as contas, contou-me o ex-piloto.

Ele ainda falou que tem um microscópio, antigo, “o binocular Leitz Wetzlar”. “Quando eu aguento levantar a gente explora o micromundo”. Também me narrou a empolgação de sua filhota pelos astros e que “a gente explora o macromundo com telescópio”. Recebi deste pai, fotos que eles tiraram deste céu e um registro do rosto de sua menina que tem sido sua grande alegria nesse momento difícil. 

Este pai me pediu um livro.

Não foi o primeiro, como já disse. Já doei mais de 50 livros somente neste ano, coisa que não falo em lugar nenhum porque pode causar a falsa impressão que isso seja algo trivial para mim ou que fico feliz fazendo caridade com o país nesta miséria sem fim.

Mas preciso confessar que fiquei feliz com essa conexão. Ele e eu nos emocionamos muito. Ser acessível a quem quer muito ler meus livros é muito menos um risco do que um grande privilégio. Conhecer – mesmo que virtualmente este ser humano – fez de minha estadia neste planeta uma experiência muito melhor. Penso que o que nos enriquece poderia ser medido pela profundidade das conexões que fazemos. Não foi algo pequeno que tive aqui com essa família nessa troca de e-mails, posso lhes garantir.

O livro será postado nesta semana que se inicia. É a primeira vez que sinto que um livro meu, antes de ser lido, já cumpriu o seu papel.