
Igor passou a pandemia toda assistindo aulas pelo computador em seu quarto do qual só saía para ir ao banheiro e comer alguma coisa. Ao contrário de muitos adolescentes e a despeito da carência de vitamina D, Igor estava feliz como qualquer pessoa mal informada sobre as mazelas do mundo.
Igor ficava uma semana na casa do pai, Fernando, e da mãe, Maria Lúcia, que morava também com seu namorado, Ricardo.
Em ambas as casas, Igor tinha um quarto só seu, um computador só seu, dois monitores e uma cadeira de gamers para não ter problema de coluna.
Acontece que a escola em que Igor estudava, estava voltando para o regime presencial e isso, para Igor, era um problemaço.
Maria Lúcia estava aliviada. Afinal, a pandemia estava acabando e dentre tantas coisas, Maria Lúcia não aguentava mais ver seu filho ficando verde de tanto que ficava no quarto.
Era a semana do pai. E Fernando estava já se irritando porque Igor estava dizendo que não ia de jeito nenhum para a escola.
Fernando fez o que os pais fazem quando têm problema. Foi decidido mandar mensagem no WhatsApp.
“Ô, Maria Lúcia, Igor não quer ir e eu não sei mais o que faço aqui”.
Maria Lúcia era antipunitivista, feminista, anti racista, anti machista, vegana, ambientalista, sindicalista, sambista, flamenguista e homofobia não era opinião para Maria Lúcia. Desse jeito.
Fernando acreditava na terceira via.
Maria Lúcia estava num zoom.
“Fernando, converse com ele com amor, por favor, estou numa reunião. Quando sair, te ligo”.
Fernando leu a mensagem. Considerou a possibilidade. Foi quando Igor saiu do quarto para beber água com o celular na mão.
– Igor, já arrumou suas coisas para a escola amanhã? Tudo certo?
– Pai, eu já disse que não vou.
– Pois se não for, esquece esse celular e seu computador! Não vou ficar pagando Internet para quem não quer estudar!
– Pai, estou estudando no remoto.
– Pois acabou! A pandemia acabou, o vírus foi dominado, as aulas vão voltar e você vai para a escola!
“Maria Lúcia, acabei de tirar o celular da mão dele e disse que se ele não for para a escola, vou cortar a Internet da casa.”
Maria Lúcia suspirou.
Chegou em casa e foi conversar com Ricardo sobre como é difícil esse negócio do pai ser muito diferente da mãe.
– Como pode né, Ricardo? Será que só consegue educar ameaçando? Será que não tem outro jeito de educar?
– Besteira mesmo, Lucinha, bater boca com um garoto tranquilo daquele. Eu iria oferecer 20 reais para ele ir. Duvido que Igor não aceitasse.
————–
Igor foi para a escola e chegou na casa de Maria Lúcia com um cheiro forte de álcool.
Maria Lúcia chamou Igor para conversar e perguntou com todo o jeitinho de uma mãe progressista se Igor tinha bebido.
– Mãe, de fato fiz algo errado. Saí irritado da escola e pisei forte no pedal do suporte de álcool em gel. Aquela porcaria espirrou na minha camisa.
E mostrou a camisa úmida e manchada para Maria Lúcia.