Virou febre. Listas, listas e mais listas. Lista de 100 coisas que se deve fazer antes de morrer, 50 lugares que você deve visitar antes de ter filhos, 20 sintomas que você é infeliz, 30 livros que vão mudar sua vida, 20 filmes que vão te deixar culto, as 10 profissões mais felizes,aff… e tem até números quebrados!, outro dia li “24 sinais que sua filha é sua amiga”. Bah, que diabos essa exatidão toda?
Para mim, basta um tiro certeiro. Antes de morrer, todos devemos perdoar; antes de ter filhos, precisamos ir ao topo da montanha para pensar se, de fato, queremos; para saber se é infeliz, basta pensar se é melhor dormir ou acordar (os felizes amam dormir e não se sentem mal por isso); leia Rubem Braga e jamais será o mesmo; veja o filme que tiver vontade e se lixe para ficar culto (caso contrário irá ter problemas para dormir); trabalhe com o que mais te desafie…
Ah. E para saber se a minha filha é minha amiga, para mim, foi, como defendo, suficiente uma experiência:
Andava eu deprimida com a vida no centrão muvucado de Madureira com a Nara. De repente, ela vê uma loja de máquinas de costura onde havia bacias e mais bacias cheias de botões. Ela gritou “olha, mãe!” apontando para aqueles recipientes de plástico.
Corremos ao mesmo tempo para meter a mão até o fundo das tigelonas e ficar mexendo para lá e para cá nos botões pelo simples prazer de ver ondas de botão feitas por nós e senti-los passando por entre os dedos. Botões. Muuuuitos botões. De vários tipos e tamanhos! Fizemos tudo isso em silêncio e rindo de alegria por viver essa ímpar e maravilhosa experiência sensorial. Meu deus como é bom meter a mão em um bacião cheio de botão.
Bastou. Ali eu vi. Nara é a melhor amiga que posso ter. Mostrou-me muita beleza e um interessante prazer em pleno inferno. É quem eu quero sempre ao meu lado.
Quer saber? Nada de listas. Para bom entendedor, uma atitude vasta.